Capítulo 10 - Livre

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Passo a mão pelos meus cabelos. De novo.

Já perdi a conta de quantas vezes fiz isso. A vontade que eu tenho é de arrancar fio por fio e acabar logo com isso. Mas não vou. Não vou dar esse gostinho a Jo.

Bato a cabeça contra a parede do quarto. O cabelo que ela cortou não é nada perto de tudo o que eles já tiraram de mim até agora. Minha vida inteira foi tirada de mim. Meus amigos, minha família. Quando tento lembrar deles agora, quase não consigo. As feições de seus rostos estão começando a desaparecer da minha mente. Até isso eu perdi. Minha cabeça. E só há um jeito de conseguir tudo de volta.

Preciso sair daqui. Preciso fugir.

Só tenho que descobrir como.

Olho para a câmera. Sei que eles não a vigiam o tempo todo e sei que não conseguiriam me ver se eu estivesse bem embaixo dela, ao lado da porta. Mas mesmo se eu me escondesse ali, eles me encontrariam facilmente entrando no quarto. A não ser que eu conseguisse lutar com algum deles, o que definitivamente não vai acontecer.

Ou vai...

Olho para o prato de vidro ao meu lado. O pão que antes estava ali eu já comi. Pego o prato em minhas mãos. É isso, é perfeito. Só preciso esperar pela oportunidade certa.

Ouço vozes vindo da frente da cabana. Vou até a fresta da parede.

Lá estão eles. Sinto raiva só de olhar para seus rostos, só de ouvir suas vozes. Tento entender o que estão dizendo, mas estou muito longe.

Dennis está com uma mochila nas costas e com um dos capacetes da moto nas mãos. Ele espera impaciente por Alex, que está abraçado a Jo. Eles parecem estar se beijando e ela está pendurada em seu pescoço. Quando eles terminam, Alex também pega um dos capacetes e sobe na moto. Dennis vai atrás.

Alex dá partida e sai por entre as árvores, deixando Jo aqui. Sozinha. Exatamente como eu queria.

Quando vejo que ela vai entrar na cabana, eu me arrasto para a região embaixo da câmera, entre a porta e o canto do quarto. Seguro o prato em minhas mãos com força. Elas estão trêmulas. Os nós de meus dedos estão brancos e estou suando. Meu pulso acelerado. Tem que dar certo. Tem que dar cer...

As chaves são colocadas na fechadura da porta e interrompem minhas preces. Respiro fundo. É agora.

Seguro o prato sobre minha cabeça, esperando o momento em que Jo vai cruzar a porta.

Observo a maçaneta girar. Tudo parecendo acontecer em câmera lenta. A porta se abre, criando um muro entre mim e Jo.

— Emma?— ela pergunta quando não me vê.

— Aqui.

Ela fecha a porta, ficando frente a frente comigo. Mas antes que ela possa dizer ou fazer qualquer coisa, eu acerto sua cabeça com o prato.

O vidro se estilhaça sobre ela, que cai no chão desacordada. Um pequeno grito escapa de minha boca. Me abaixo até Jo e pego um de seus braços, checando seus pulsos. Solto um suspiro aliviado quando vejo que seu coração está batendo.

Sem esperar mais, eu saio correndo do quarto. Cacos de vidro cortam meu pé, mas não me importo. Passo pelo corredor e vou direto até a porta principal da cabana. Mas não saio. Tem algo que eu ainda preciso fazer.

Vou até a cadeira em que sempre me prendem e pego as cordas que estão jogadas no chão. Depois, volto para o quarto.

Jo não se moveu, ainda está desacordada. Aproveito a oportunidade.

— Vamos ver se você gosta de ficar presa — digo, enquanto amarro suas mãos e pés. — Vadia.

Quando acabo, pego um pedaço do prato quebrado. Reúno um tufo de cabelo de Jo em uma de minhas mãos e com a outra eu o corto. Bem perto da cabeça. Pego outro tufo e faço a mesma coisa. O vidro rasga a pele de minha mão, que escorre sangue, mas não sinto dor nenhuma.

— Não se preocupe...— falo, jogando os fios no chão.— É só cabelo.

Para terminar, cuspo em seu rosto e tranco a porta do quarto.

Com o pedaço de vidro e as chaves nas mãos, corro para fora da cabana. Abro a porta com força e salto a escada da varanda. Pisando nas folhas secas que cobrem o chão. A sensação de liberdade invadindo meu corpo, a adrenalina correndo por minhas veias.

Continuo a correr, finalmente atravessando as primeiras árvores que cercam a cabana. O vento frio sacode meus cabelos e faz meus pelos se ouriçarem, mas não paro. Não sei para onde estou indo. Mas contanto que não seja aqui, eu não me importo.

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Esse capítulo é bem curtinho, por isso postei mais rápido. Mas espero que tenham gostado mesmo assim.

A Emma finalmente escapou! E ainda se vingou da Jo...

Vamos ver por quanto essa felicidade toda vai durar hahah

Próximo capítulo: as aventuras de uma menina perdida na floresta, não percam kdkdksk

Sequestrada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora