Capítulo 11 - Perdida

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Quantos metros é possível correr até que as suas pernas comecem a falhar? As minhas já estão ficando bambas.

Piso em falso várias vezes enquanto corro por entre as árvores. Não sei a quanto tempo estou correndo e nem onde estou, mas não posso parar. Não posso deixar que me alcancem.

Meu cabelo sujo roça meu queixo e pescoço. Ele está curto demais, mal posso senti-lo balançar com o vento frio. Minhas pernas esbarram em galhos a cada passo que dou. Sei que estou arranhada, mas não sinto nada porque estou cansada. E o cansaço me serve como uma espécie de anestesia.

Pena que minha mente não está anestesiada e tudo o que ela me passa é medo. Medo de não conseguir sair daqui.

Passo despercebida por um tronco maior que os outros e tropeço, caindo com tudo no chão. Não tenho tempo de amortecer a queda com meus braços e meu rosto bate contra a terra escura. Acabo cortando ainda mais minha mão com o caco de vidro que estou segurando desde que saí da cabana. Tento me levantar, mas não tenho força nenhuma. O céu já está começando a escurecer e eu ainda não consegui sair daqui. Respiro fundo. Preciso me levantar.

Com dificuldade, jogo meu peso sobre minhas pernas e me levanto. Mas logo depois de dar os primeiros passos, quase caio novamente. Me apoio em uma árvore, tentando respirar. Estou cansada, sem comida e sem água há não sei quantas horas. Não sei por quanto mais tempo posso aguentar. 

Procuro por entre as árvores algum sinal de comida. Alguma fruta ou coisa do tipo, mas não encontro nada. Continuo caminhando lentamente, com cuidado para não cair de novo. Estou cercada por troncos de árvores, mas todos eles parecem exatamente iguais e posso jurar que já passei por aqui antes. 

Desisto de me segurar e caio ajoelhada no chão. Admitindo o que eu já sabia. Estou perdida.

Olho para o céu, com sua coloração roxa, quase azul escuro. A temperatura também está mudando, e sei que a noite vai ser fria. Sopro minhas mãos tentando aquecê-las. Não consigo.

Vou precisar fazer uma fogueira. E eu pensei que as aulas de sobrevivência que tive na escola durante um bimestre fossem inúteis. Se eu ao menos tivesse prestado atenção... Tento me lembrar de alguma coisa que tenha a ver com fogo. Nada. Mas talvez eu possa usar duas pedras, como nos filmes.

Começo coletando pequenos galhos e pedaços de tronco. Tento ser rápida, porque sei que daqui a alguns minutos eu provavelmente não vou estar enxergando mais nada. Eu reúno os galhos em um montinho, numa espécie de fogueira bem irregular. Depois, eu pego duas pedras grandes que encontro no chão.

— Ok, isso deve servir...

Deixo o caco de vidro de lado. Pego uma pedra em cada mão e as posiciono sobre os galhos, depois eu bato uma na outra. Mas nada acontece. Faço o procedimento de novo e nada. Continuo fazendo a mesma coisa sem parar por não sei quanto tempo e não obtenho fogo nenhum. Nem uma faísca sequer. Começo a ficar desesperada.

— Vai... Por favor... — digo com um nó na garganta, quando percebo que eu já não consigo ver quase nada.

Eu não quero chorar. Eu não vou chorar. 

Continuo chocando uma pedra na outra, agora mais rápido e com mais força. Meus lábios estão secos e eu estou batendo os dentes. Minhas mãos estão tremendo. Não sei se por causa do frio ou pelo meu desespero. Mas não desisto. 

— Funciona... Por favor! Por favor!

Estou prestes a desistir quando um pequeno risco brilhante escapa das pedras. Solto um grito assustado. Bato as pedras de novo e mais uma faísca sai dali, incendiando o montinho de galhos e iluminando meus olhos lacrimejados. Funcionou. Não consigo conter meu sorriso surpreso.

Sequestrada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora