Capítulo 3 - A Festa

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— Como eu estou? — pergunto para Lacey, enquanto rodopio em meu vestido preto colado.

— Precisa perguntar? Tá perfeita. — ela diz, num tom óbvio.

Faltam uns 15 minutos para que a galera comece a chegar e eu ainda preciso me livrar de Mary. Não me leve a mal, eu amo ela, mas se ela estiver aqui quando a festa começar, não vai ter graça nenhuma. Até porque, ela não sabe sobre as bebidas e a última coisa que eu preciso é que ela descubra. Com meus pais eu nem me preocupo, afinal eles não estão mais aqui. "Entrevista importante", minha mãe disse.

Escuto uma batida na porta. É Mary.

— Já tá pronta para o seu encontro, Mary? — pergunto.

— Encontro? Não tenho encontro nenhum. — ela diz, confusa.

— Agora tem — vou até ela, bagunço um pouco seus cabelos e abro um botão de sua camisa. — Perfeito.

— Emma! O que você pensa que está fazendo?

— Estou te ajudando, ué. Você tá precisando sair, esfriar a cabeça, se divertir um pouco. Por que você não chama o Joshua?

Joshua é o jardineiro aqui de casa. Mary acha que consegue esconder, mas eu sei muito bem que eles se gostam. Só precisam de um empurrãozinho.

— Essa é a coisa mais estúpida que ouvi hoje. — ela tenta disfarçar o rubor que cobre seu rosto, sem sucesso. — Bom, eu não estava planejando ficar, de qualquer jeito. Boa festa para vocês e vê se toma cuidado, em mocinha. — ela termina com um beijo em minha testa e se retira.

Quando tenho certeza de que ela se foi, vou até a minha cama e puxo as caixas de bebida que estão em baixo, com a ajuda de Lacey.

— Hora de começar a festa.

Ouço sons de buzinas e motores de carros e sei que o pessoal está chegando. Chamo as primeiras pessoas que vejo e, logo, todas carregam as bebidas para o andar de baixo, sem esforços. Vou até a área da piscina e ligo o som no volume máximo. Não preciso esperar nem um minuto para que todos estejam a minha volta, dançando feito loucos, cada um com um copo na mão.

— Te achei! — Ryan me pega de surpresa, me agarrando por trás. Ele me entrega um copo de alguma mistura que não identifico e me beija.

— Finalmente, em?

Começamos a dançar juntos como se estivéssemos sozinhos. E é como se estivéssemos mesmo, porque ninguém liga se estamos encenando um filme pornô ou não, bem na frente deles. Ryan passa a mão pelas minhas pernas e cintura, e me puxa mais para perto. Ele está bonito hoje, com sua camisa polo nova e calça jeans. Não que ele não seja bonito sempre. Ele é, e todos com uma visão apropriada concordariam comigo. Meus pais dizem que tive sorte em encontrar Ryan, "um menino bonito, rico e de bom caráter não se encontra todo dia, Emma" foi o que minha mãe disse. Mas eu sei que não foi sorte nenhuma. Nosso relacionamento só vai de mal a pior e eu não tenho ideia de como consertar as coisas. Também não sei se quero.

— Por que a gente não vai lá para cima? — Ryan me traz de volta.

— Fazer o que lá? — pergunto, beijando seu pescoço, meio desanimada.

— Não vai querer seu presente? — ele me olha de maneira maliciosa e sou convencida na mesma hora.

Subimos as escadas da casa correndo. Há pessoas se agarrando em todos os cantos possíveis e eu preciso desviar muitas vezes, para não tropeçar em pessoas sentadas na escada.

Assim que entramos no quarto Ryan já começa a tirar sua camisa, ele me arrasta até a cama e nem me dá tempo de tirar meu salto. Quando percebo estou deitada e ele está em cima de mim, beijando meu pescoço enquanto passa as mãos pelas minhas pernas, levantando meu vestido. Sei que deveria estar gostando, afinal ele é meu namorado. Mas não consigo. É como se ele quisesse algo que eu não pudesse lhe dar. Pelo menos não ainda. Não com as coisas desse jeito.

— Espera — peço.

— Relaxa, Emma — ele começa a tirar meu vestido e me deixa apenas de sutiã e calcinha.

— Ryan, para.

Mas ele não me escuta, continua a avançar e quando ele toca a parte de trás do sutiã, sou obrigada a levantar.

— Tá de sacanagem, né? Eu achei que você quisesse. — reclama.

— Por acaso você não me ouviu te pedir pra parar? — pego meu vestido que está no chão e começo a vesti-lo.

Sei que ele está com raiva, mas não posso fazer isso, não agora. Ele anda de um lado para o outro, sacudindo a cabeça.

— É por isso que nosso namoro não tá dando certo — ele diz —, você não consegue se deixar levar.

Não posso acreditar no que acabei de ouvir. Como ele pode ser tão insensível? Sinto nojo no mesmo instante.

— Me deixar levar? Eu não sou uma vagabunda qualquer que se deixa levar. — digo, me segurando para não acertar um tapa em sua cara. — Você deveria ser o primeiro a saber disso. Eu achei que fossemos esperar até estarmos prontos.

— É, Emma, mas eu cansei de esperar. Eu cansei de fazer as coisas do seu jeito.

Ryan pega sua blusa do chão e sai do quarto apressado. Não consigo acreditar no que está acontecendo. Esse é o pior aniversário do mundo. Corro escada abaixo para tentar alcançá-lo mas ele é mais rápido.

— Ryan, espera! Por favor!

Ele não me dá ouvidos. Antes que eu possa terminar de descer as escadas da varanda, ele já está acelerando seu carro para fora daqui.

Não consigo segurar um grito de ódio e desabo em lágrimas. Por que eu faço tudo errado sempre?

Volto para casa e pego as chaves de meu carro novo. Preciso sair para espairecer.

Caminho até a BMW que me espera estacionada na calçada em frente a minha casa. O clima aqui fora está muito mais frio e quieto. O oposto de mim. A raiva me deixa quente e dentro de mim não há nada quieto, está tudo uma bagunça. Não sei o que pensar, nem o que fazer. Mas pelo menos estou sozinha. A última coisa que eu quero é que alguém veja essa cena: eu, com a maquiagem borrada, fugindo da minha própria festa. Que dia.

Abro a porta do carro e me sento, mas quando estou prestes a fechá-la sou impedida. Uma mão trava a porta do carro. Há um homem parado em minha frente, mas não posso ver seu rosto pois está coberto por um tecido escuro. Posso sentir meu coração acelerar e sei que estou completamente assustada.

Passo rapidamente para o banco do carona e destravo a porta para sair, mas antes que eu consiga, ele puxa minhas pernas e me arranca para fora de meu carro com força. Sei que estou gritando o mais forte possível, mas é como se estivesse sonhando e nenhum som saísse de minha boca, porque ninguém aparece para me ajudar. E antes que eu possa fazer mais algum movimento, minha boca é coberta por um pano e um cheiro fortíssimo invade minhas narinas até que eu apago.

Sequestrada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora