Capítulo 41

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O vento bate nos meus cabelos e os faz vir nos meus olhos. O frio faz minhas costas doerem ainda mais. O Harry abre a porta da casa dele e me deixa entrar, me fazendo bem mais confortável com o calor aqui dentro.

Tudo é feito em silêncio, a situação é delicada. Minha mente é preenchida por curiosidade e medo. Isso vem acontecendo muito rápido. Eu não tenho nem tempo para descansar a mente. Ao mesmo tempo em que me preocupo com a Agnes fico aflita com quem está atrás de mim.

"Eu vou pegar os remédios lá em cima. Você vem?"

Apenas assinto. Às vezes o medo transforma, ele começa assim, suga sua vida, vai te deixando sem cor e sem opinião, você passa a ser levada pelos outros, segue o fluxo. E é como um efeito borboleta ele pode te levar para o fim do poço ou te dar um choque de realidade. Talvez até tenha uma forma de curar isso, mas eu desconheço.

Sigo por uma escada grande ao seu lado. Sua casa é bonita e acolhedora. Passa por um corredor cheio de portas e chega a uma espécie de escritório.

Aponta um sofá ao canto e sento lá. Ele mexe em algumas caixas e tira algumas lãs e um frasco com um líquido dentro.

Vem até mim e eu puxo a blusa até perto da minha cintura. De costas, ouço-o girar a tampinha e molhar o algodão nele.

Arqueio as costas quando ele encosta nos cortes e uma expressão de dor se forma no meu rosto.

"Desculpa." ele sussurra. "Isso vai ajudar a não inflamar." e continua com a lenta tortura.

Fecho os olhos, o nó de lágrimas ainda está na minha garganta, nenhuma delas desceu. Eu não tenho forças para isso.

"Pronto." levanta e acaricia suavemente meu braço.

"Obrigada." agradeço.

[...]

Desde ontem contínuo com a minha monotonia, o Harry dormiu no seu quarto e eu fiquei em um de hóspedes. Passei a noite em claro. Sinto uma melhora nas minhas costas, mas ainda está um pouco dolorido.

Levanto da cama, passo água no rosto e abro a porta. Ainda é cedo, Mas não tenho sono.

A casa é grande e eu não sei aonde ir. Sigo em frente, passando por várias portas ao longo do corredor. Paro quando chega o fim e resta apenas uma porta, deve ser uma "saída". Giro a maçaneta com cuidado e fico perdida com o que tem por detrás dessa porta.

É uma espécie de quarto, mas uma de suas paredes está repleta de desenhos. No meio da sala há uma escrivaninha com várias folhas e lápis dispostas sobre ela. Em cima dela tem um desenho inacabado, uma garota, eu acho, com cabelos longos, encolhida.

Sigo até a grande parede e passo o olho pelos desenhos, há várias deles, com diferentes traços, mas o que predomina é o desenho de duas crianças. Passo os dedos por uma dessas gravuras, nela há as duas crianças, uma menina e um menino, e ele entrega um flor para ela.

Um pouco mais abaixo uma assinatura, com letras finas e compridas, formando o nome Harry.

Uma memória me atinge, esses desenhos, são sobre nós dois? Quando éramos menores. Eu lembro da flor, ele me entregou uma, e eu a tenho guardada até hoje.

Eu não sabia que ele desenhava tão bem.

Fecho a porta e volto a fazer o mesmo caminho, retornando para o Quarto em que dormi. Olho para o carpete debaixo dos meus pés e apresso o passo.

Deve ser essa porta do quarto que dormi, me recordo desse vaso.Entro no quarto e vejo o Harry aqui dentro.

"Bom dia." fala com a voz rouca.

Hope • H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora