A profecia

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Acordo aos pulos com a sirene matinal da cidade, minha respiração ofegante entrega meus pesadelos constantes.
Não acordei por completo, fico sentado na beirada da cama recuperando a visão.
O som de gotas ecoam o ambiente ainda girando na minha visão cansada e assustada.
O som vem da pia ao lado da cama, parece que não fechei direito ontem à noite.
Levanto levando a mão até a torneira e a fecho com força, o quarto cheira à mofo e pano velho.
Não gosto muito do meu quarto, mas é o único lugar q posso ficar sozinho e imaginar o mundo lá fora.
O quarto não tem porta, apenas um pano branco e grande que meu pai pregou na parede.
As janelas tampadas por terra e o chão de cimento que faz parecer menor.
Calço minha bota, coloco minha calça e por fim minha camisa azul.
Minha bolsa de pertences está dentro do guarda-roupas junto com a minha lamparina.
Arrumei o lençol branco encardido da minha cama, apalpei o travesseiro agitando os ácaros e a poeira subiu formando um aglomerado de mini partículas brancas no ar.
Atravessei a porta de pano entrando no corredor escuro, no fim do corredor se projeta um luz fraca vindo do andar de baixo.
Segui pelo corredor batendo com os dedos na parede, chegando no fim do corredor dei de cara com a escada na parede.
Coloquei os pés e fui descendo, os degraus rangiam e estalavam, estavam enferrujados, mas ainda era a escada e estava bom demais.
Pulei caindo no chão, faltavam alguns degraus que quebraram à alguns dias, a ferrugem tomou conta por completo de alguns deles.
Fui descer e ele quebrou me deixando um machucado feio no meu joelho.
Na cozinha se encontra minha mãe, que cantarola uma música que ouvimos os exploradores cantarem.
- Bom dia Aiden.
- Bom dia mãe.
- Já vai sair?
- Sim, vou na biblioteca.
- Então leva alguma coisa pra comer.
Coloquei alguns pãezinhos na bolsa e um na boca, dei uma mordida deixando alguns farelos de pão caírem no chão.
Peguei algumas caixinhas de fósforo e coloquei também na bolsa, caso precisasse da lamparina já tinha com o que acender.
A minha casa é pequena, mas nem tanto, é uma casa normal para a cidade de baixo.
A, e por falar de cidade de baixo, é assim que chamamos a cidade aonde moramos, pode parecer sem sentido mas faz todo o sentido.
Moramos no subterrâneo de um planeta que nunca vi, e é por isso que vou todos os dias para a biblioteca, os " anciões " me contam tudo que sabem sobre o nosso planeta.
As casas da cidade de baixo são praticamente todas iguais, a única diferença são das pessoas mais ricas que enfeitam as casas com ouros e minérios que acham nos túneis.
As pessoas mais ricas ganham pelo trabalho, se trabalham procurando minérios ganham pela quantidade que acham, se trabalham gerando água pra cidade ganham mais que os mineradores, os que trabalham na exploração ganham 3.000 "rules" que é um minério sem valor que usamos para troca.
A exploração é a melhor profissão, porque ganha melhor que todas as outras.
Meu pai trabalhava na exploração, até ele sumir de vez, desde então minha mãe e eu temos que nos sustentar com o que ganhamos.
A equipe de exploração São as únicas pessoas que podem sair para o mundo exterior, as únicas pessoas corajosas, porque mesmo que fosse livre pra sair as pessoas não sairiam por medo do desconhecido.
A equipe nunca toca no assunto de como é lá fora, as pessoas também não querem saber.
Meu sonho é ser um explorador para finalmente conhecer a vida e os mistérios do mundo, e talvez achar o meu pai.
Os exploradores trazem objetos as vezes, como livros, carcaça de eletrônicos, algumas frutas para estudo, etc.
Mas não sei se isso é muito útil agora, mas eu não quero virar explorador para achar objetos e sim para conhecer o meu planeta estranho.
Andando por ruas vazias e mal iluminadas sinto o cheiro de esgoto, mas o mofo e a terra molhada quase encobrem, o deixando pouco percebível.
Mais afrente descobri a fonte do mal odor, um cano tinha se rompido no meio da estrada.
Tinha esgoto pra todo lado e os homes da limpeza fecharam o caminho, impedindo minha passagem.
Não posso ficar em casa sem fazer nada, não tenho que trabalhar vendendo carne hoje.
Bom tem outra passagem a alguns minutos daqui que seria até mais rápido, mas é perigoso, todos evitam passar por lá, é um breu não da pra enxergar nada.
Dizem ouvir barulhos estranhos vindo de lá.
Eu não vou ficar com medo do escuro, fala sério, eu tenho minha lamparina.
Virei na rua à direita fazendo barulho no barro embaixo dos meus pés, o caminho passava de baixo de uma ponte.
Cheguei lá em Menos de um minuto, peguei a lamparina e levei ela à frente do rosto, risquei um fósforo com a outra mão e acendi a lamparina.
Aquele lugar não parecia tão ruim, só a escuridão e o silêncio que fazem você imaginar coisas.
Não escutei nada até agora, e já estou quase na metade do caminho.
Minha lamparina está apagando e a luz fraca cria uma grande sombra que se esconde atrás de mim, a sombra treme com a luz apagando.
Estranho, minha lamparina nunca apagou assim, a luz se apaga me deixando em uma escuridão absoluta.
Risco os fósforos mas eles não acendem.
Escuto passos atrás de mim, um vento quente invade o lugar jogando a caixa no chão, os fósforos se espalham e os passos parecem vir de todos os lados me cercando.
Abaixo para pegar os fósforos batendo com os dedos no chão, meus dedos encontraram um fósforo e o agarro rápido.
Risco o fósforo e acendo rápido o lampião, um homem velho usando trapos e fedendo muito, surgiu na luz aproximando-se e me agarrou pelo pescoço.
- A profecia está se cumprindo, a profecia.
- N-não sei do que está falando senhor.
- Aiden, você é o escolhido.
- Como sabe o meu nome?
- Todos sabemos Aiden, todos sabemos.
- Me solta - falei chutando sua barriga com força.
O velho se contorceu de dor e me soltou caindo no chão com a mão na barriga.
Peguei a caixa de fósforos e comecei a correr sem parar, a minha respiração ofegante e o meu coração batendo forte.
A luz surgindo bem de longe, cada vez chegando mais perto, sem olhar pra trás corri de encontro à luz que corria ao meu encontro.

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