O reino

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    Do ombro de Robby da pra ver quase depois das muralhas do reino de Lyun, Amie pula animada com a vista enquanto Grump observa a divisão de ambientes.
    O vento fresco balança meus cabelos e faz um som estranho em meus ouvidos, o ar puro entra em meus pulmões deixando-os limpos de uma maneira que nunca ficaram. Os campos verdes e coloridos do lado claro do planeta terra me chamam firmando sua bondade.
    A espada em minhas mãos é leve como um livro, sua lâmina plana e lisa, seu cabo escamado e sua pedra brilhante que a espada reflete em roxo, a chave amarrada nela como um amuleto prateado.
    A carapaça de ferro de Robby range com os movimentos rápidos, o escuro assombra atrás de nós, o sol ilumina a nossa frente mostrando tudo de bom que talvez esse mundo possa ainda oferecer.
    Robby atraceça a divisão e o sol toca minha pele, meu rosto esquenta e a brisa fresca traz a paz, a sensação do sol na pele é tão boa.
    Apesar de nunca ter visto a luz do dia sento-me em casa, os muros gigantescos escondem o reino como um cercado, vejo fileiras de guardas no alto dos muros, holofotes também cercam a estrutura e por fim estacas apontadas para fora.
    A cada passo mais próximos ficamos, Grump não se queima com o sol e permanece sentado observando a muralha atentamente, depois encara sua mão fechada, algo está dentro dela, um frasco com um líquido azul estranho, ele abre o frasco e bebe tudo com um gole.
    O que será que tinha no frasco? Algum remédio ou algo do tipo? Não sei mas isso não parece bom. Sua cartola não se move na cabeça, mas o cachecol preto balança de um lado pro outro com o vento. Nada acontece depois de ele tomar o líquido azul, mesmo assim sinto uma curiosidade enorme dentro de mim, começo a descer pelo braço de Robby como na escada que eu tinha em casa, no final dou um pulo como eu fazia.
    Ando pelo ferro escorregadio com o vento forte me empurrando pra trás, quebro o vento na minha frente correndo contra ele, por fim chego a mão de Robby. O ferro frio range ao meu pisar, os fios a mostra deixam uma faísca voando aos ares.
    — Grump. — falo.
    — Sim. — responde ele.
    — Tudo bem com o meu pai? — pergunto.
    — Ah, por enquanto sim. — responde ele. — temos pouco tempo até ele ser possuído pelas sombras.
    — Acha que vamos conseguir salva-lo? — pergunto.
    — Com certeza. — responde ele voltando a olhar para frente.
    — Então, eu posso te fazer uma pergunta? — pergunto.
    — O líquido azul? Eu o peguei lá na mansão de Lucius.
    — Como..
    — Eu vi você olhando para mim. — fala ele.
    — E o que ele...
    — Você já vai ver. — fala ele me cortando pela segunda vez.
    — Quer parar de me...
    Grump levanta sua mão um pouco a frente do rosto entre mim e ele, ele olha diretamente para ela ficando os olhos nos dedos. Seu dedo indicador se meche e ele parece entusiasmado, depois ele dobra para frente e os outros assim por diante, acho aquilo um pouco estranho mas não entendo sua expressão.
    A pele dos dedos cai sem deixar nenhuma, salto para trás, Grump começa a gritar e com sua outra mão arranha seu rosto e a pele rasga como papel, seus olhos caem quebrando como vidros, as cascas de pele caem no chão e parecem cinzas velhas, Amie está olhando de olhos arregalados essa situação, parece assustada como eu.
    Os gritos de Grump vem seguindo por cinzas no chão, seus dedos caem e sua mão também, a cabeça solta do corpo e cai rolando, de algum lugar dele ainda consigo ouvir gritos abafados, a pele preta e sombria cai como uma casca e seus braços quebram nos ombros como troncos de árvores, ele tenta levantar mas sua perna direita quebra fazendo-o cair, a outra perna quebra e depois descasca como o corpo e os dedos, logo o chão se enche de cascas pretas estranhas de Grump.
    Alguma coisa se meche dentro da casca, uma gosma preta estranha e nojenta, me arrasto para trás e permaneça com os olhos fixos no que quer que seja isso.
    Uma mão surge da gosma, depois outra, são mãos humanas sujas de gosma, alguém se levanta tirando a gosma do rosto com as mãos, ele respira, seja lá quem for ele, respira fundo.
    Seus olhos cinzas brilhantes como a luz e seus cabelos pretos como a gosma caem pros lados, são cachos de cabelo pra cada lado, atrás ele não é muito grande, os cachos da frente vão até as bochechas deixando os olhos a mostra, seu nariz empinado e queixo pontudo fazem sua boca parecer mais pequena do que já é.
    Ele se levanta tirando a gosma do corpo e percebe que não possui roupa, depois se abaixa colocando uma casca na frente.
    — Pode me passar minha cartola e meu cachecol? — fala ele com a voz de Grump. — Qual é amigão, não ta me reconhecendo?
    — Ai meu Deus. — falo colocando a mão na boca. — Grump?
    — Quem mais seria? — pergunta ele.
    — Ccomo como..
    — Por favor me da essa mochila agora. — fala ele.
    Entrego a mochila para ele e ele tira algumas roupas de dentro dela, uma blusa de mangá comprida azul escura, uma calça jeans preta e um sobretudo preto de pano, depois tira botas pretas e um cinto para a calça.
    Ele veste tudo enquanto eu e Amie fechamos os olhos.
    — Podem abrir. — fala ele. — O que acham?
    Ele ficou bem com as roupas.
    — Ah não esperem. — fala ele colocando o cachecol e a cartola. — Então ?
    — Você ficou lindo. — fala Amie
    — É, realmente ficou bonitão. — falo. — então é isso que o líquido azul faz.
    — Sim, eles não vão me deixar entrar sendo uma sombra. — fala ele.
    — Verdade. — falo.
    Robby para e escuto um som alto de uma trompeta, os guardas apontam suas bestas para nós e Grump levanta os braços, Amie levanta na mesma hora e em seguida sem saber o porque levanto os meus também.
    — Não atirem. — fala alguém do alto da torre a nossa frente, sua silhueta na frente do sol é estranha e sua voz é rouca. — Quem são vocês?
    — Meu nome é Aiden e esse é o meu amigo Grump, essa é Amie e meu pai está mal no chão. — falo apontando para cada um. — nós cruzamos  a terra para chegar até aqui.
    — Como souberam sobre esse lugar? — pergunta ele.
    — Jason nos informou sobre este lugar, falou que podia nos ajudar. — respondo.
    — O que há com o seu pai?
    — Ele foi...
    — Ele caiu de uma árvore e machucou o braço. — interrompe Grump.
    — Vieram só vocês?
    — Sim senhor. — respondo.
    — Contaram a mais alguém sobre esse lugar?
    — Não senhor.
    — Pois bem entrem logo, mas deixem o robô aí fora.
    Robby se abaixa colocando-nos no chão.
    — Obrigado amigão, você nos ajudou muito. — falo chegando perto da cabeça de Robby.
    — Somos amigos é o que amigos fazem. — fala ele.
    — Tenho que ir, nos vemos depois.
    — Okay, tchau.
    Enfio a chave e giro desligando Robby, seus olhos apagam e suas engrenagens paralisam outra vez. Os portões se abrem fazendo um barulho estrondoso que faz meus ouvidos doerem.
    Grump e Amie entram primeiro, eu entro logo atrás deles, a cidade atrás dos portões faz meus olhos brilharem, me sinto bem como nunca me senti, pessoas nos esperam olhando para os portões, parece que temos um recomeço, algo muito bom nos espera.

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