Penumbra

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- Preciso de privacidade. - fala Grump.
- Privacidade? - fala Salazar. - acha que nós somos quem?
- Salazar, vamos. - fala Lucius de algum canto escuro da sala.
- Sim senhor. - fala Salazar saindo junto com as outras sombras.
Lucius fica na sala por alguns segundos a mais, depois também sai de acordo com o som da porta fechando.
- Então, você finalmente está me vendo de verdade. - fala Grump me olhando.
- Então você estava do lado deles o tempo inteiro. - falo em um tom de pergunta porém não espero resposta. - fez um ótimo trabalho, não desconfiei de nada.
- Ah eu sempre faço. - fala ele. - agora meu trabalho inclui matar você.
- Então é assim? - pergunto. - acaba assim?
- Pra você sim, eu vou colocar sua cabeça em meu quarto. - fala ele me apontando a espada. - Tem algum último pedido ou últimas palavras?
- Me desculpa. - falo sem pensar. - me desculpa pelo que eu disse, mesmo você se voltando contra mim você foi um ótimo amigo, obrigado por me salvar e me levar ao meu pai, não conseguiria chegar aqui sem você.
- Isso é tudo? - pergunta Grump.
- Sim, é tudo. - respodo. - Ah, coloca minha cabeça na parede, sou muito lindo pra ficar no chão.
- Fica quieto. - fala ele levantando a espada.
Apenas fecho os olhos e espero a lâmina acabar com tudo, o som da espada chegando assombra meus pensamentos, minha imaginação corre solta pela minha cabeça soltando varias possibilidades possíveis de acontecer, em nenhuma delas eu me dou bem.
Um silêncio medonho invade meus pensamentos como a fonte de água que achamos na cidade de baixo, sinto a lâmina chegar mas não sinto dor. Talvez a morte seja mais calma que a própria vida, a dor significa vida não a morte.
- Hahahaha não acredito que acreditou mesmo nisso. - fala Grump.
- Hahahaha nós pegamos ele. - fala meu pai atrás de mim.
- O que? O que ta acontecendo? - pergunto confuso.
- Grump pensou nisso mais cedo e não te contamos porque ele estava louco pra ver a sua cara. - fala meu pai rindo.
- Calma cara eu não vou te matar. - fala Grump rindo também.
- Então quer dizer que era tudo mentira? - pergunto.
- Sim, eu não sou mau. - fala Grump.
- Então não estamos a beira da morte e não fomos sequestrados pelo Lucius? - pergunto
- Ahn na verdade isso não é brincadeira. - fala meu pai perdendo o sorriso. - estamos mesmo ferrados.
- Ah vamos, vocês não estão ferrados, vocês tem a mim. - fala Grump com um sorriso.
Ele levanta a espada e com um golpe atinge a corda soltando-nos do trono que nos prendia, tiro as cordas do corpo e me levanto retirando a poeira.
Meu pai levanta logo em seguida e pega o lampião, Grump segura a espada com as duas mãos e meu pai abre a porta, ela arranha mais o chão enquanto abre fazendo um som irritante.
- Onde estão todos? - pergunto.
- No salão principal esperando a sua cabeça. - responde Grump.
- Okay.
Meu pai usa o lampião para guiar o caminho, Grump parece preparado empunhando a espada.
- Essa espada com a pedra pode controlar as sombras. - fala Grump com um sorriso.
- Então quer dizer que já vencemos? - sai como uma pergunta mas falei como uma afirmação.
- Eu só não seu usa-la. - fala Grump abaixando a cabeça.
- Calma ainda podemos fugir. - fala meu pai.
O corredor por onde nós andamos é um pouco estreito, a porta no final dele se abre e duas sombras entram por ela, são baixas e gordas, quando me vêem começam a correr em minha direção, meu pai aproxima o lampião, a luz os queima como fogo.
Uma sombra pula na parede, seus braços e pernas são como patas de aranhas, ele se aproxima pela direita enquanto a outra pula no meu pai, Grump golpeia a sobra sobre meu pai mas erra, a sombra morde o ombro do meu pai e ele grita de dor.
De repente tudo para, algo escuro caminha sobre mim, sinto meu coração bater de uma forma diferente, a espada nas mãos de Grump flui uma energia perpendicular direto a mim.
Algo muda dentro de mim, um mau terrível me chama para a escuridão, a espada parece tão incrível, preciso pegar a espada, preciso segura-la.
Tudo volta ao normal e caminho direto à espada como se nada mais estivesse ali, pego a espada da mão de Grump e a empunho na frente do rosto, com um golpe certeiro arranco a cabeça da primeira sombra, a que estava sobre meu pai, a segunda que estava na parede pula direto a mim então corto seu rosto junto com todo o resto com um golpe apenas.
- Aiden. - ouço um susurro atrás de mim, viro-me e vejo os olhos de uma garota atrás das pequenas grades de uma porta, só consigo ver seus olhos azuis, um azul como eu nunca vi antes.
Quebro a tranca da porta com um golpe de espada, o cadeado enferrujado cai quebrado e trinca no chão.
- Como sabe meu nome? - falo esperando a porta abrir.
A porta se move para o lado revelando a dona da voz, os cabelos castanhos caíam nos ombros formando ondulações, a pele branca e o nariz pontudo, a boca pequena e delicada como duas montanhas vermelhas.
- Ccomo sabe meu nome? - repito gaguejando.
- Sonho com você todos os dias, é o salvador não é? - pergunta ela.
- Aah sim, claro que sou. - falo sorrindo.
- Você é? - pergunta Grump sorrindo.
- Sou !! - falo olhando feio para ele. - Venha comigo, sei de um lugar aonde podemos ser salvos.
- Obrigado. - fala ela sorrindo.
- Me desculpe, não perguntei seu nome. - falo.
- Meu nome é Amie. - fala ela.
- Belo nome. - falo e ela sorri.
- Sem querer interromper mas precisamos ir logo. - fala Grump. - John não está muito bem.
Sigo com a espada em mãos enquanto Amie carrega o lampião, Grump leva meu pai no ombro e ele não parece muito bem, abro a porta e Caio em um quarto com várias portas.
- Aonde vamos agora? - pergunto.
- Na porta a direita. - fala Grump.
Giro a maçaneta gelada e entro em outro corredor escuro, a luz do lampião torna o caminho visível enquanto o peso da espada joga meus ombros pra baixo, mas não sinto o peso, a adrenalina subiu pelo meu corpo e não saiu.
Caminho pelo corredor e alguns passos a frente posso ver uma escada de madeira escura com um carpete nos degraus. Sigo a parede até o fim depois paro, antes da escada vejo um corrimão que leva até ela, me esgueiro até a ponta e vejo milhares de sombras em seus postos, Salazar está aos pés de Lucius, finalmente posso ver seu rosto, seus chifres são gigantes e seu nariz é como de humano, a pele escura e os olhos com a pupila branca circulada de preto, seus dentes pontudos e sua feição é maligna.
Volto rapidamente o corpo para trás e respiro fundo, pego o lampião da mão de Amie depois encosto no corrimão lançando o lampião na direção das sombras, com um impulso sinto o lampião soltar das minhas mãos e flutuar pelo ar caindo diretamente nas sombras. O lampião quebra e incendeia uma das sombras, o fogo se alastra e em alguns segundos vejo várias sombras em chamas no andar de baixo, o tapete pega fogo tornando mais fácil a passagem do fogo pelas sombras.
As sombras olham diretamente para mim com um olhar de raiva e aponto a espada para elas afrontando Salazar. Um vento estranho começa a puxar as sombras de seus lugares, elas começam a desfazer como areia voando direto para a pedra roxa na espada.
Em menos de um minuto o salão está limpo e Salazar puxa sua espada furioso, Grump olha pra mim boquiaberto e Amie apenas me olha. Salazar corre em minha direção e pulo do corrimão caindo para frente, as espadas se chocam e com o estalo do aço a espada de Salazar parte ao meio, caio jogando o corpo para frente e Salazar solta a espada quebrada que cai no chão.
Salazar pula na minha direção, giro jogando o peso da espada em seu pescoço, sinto atravessar, a cabeça de Salazar cai no chão sem produzir som. Respiro e olho nos olhos de Lucius que não possui expressão.
- Não esperava a sua cabeça ainda no corpo. - fala Lucius. - pelo visto Grump é mesmo um despreparado.
- Não ouse fal... - sou interrompido por um rugido estrondoso que treme o lugar deixando alguns pedaços de pedra cair, o rugido vem de Lucius.
O vento de seu rugido me joga para trás porém não caio, dou um passo a frente enquanto ele me olha nos olhos e bato a lâmina da espada no chão formando um som medonho que faz o rosto de Lucius mudar, sua feição é de medo.
- Vamos. - grita Grump atrás de mim.
Viro-me e corro, Grump vai na frente e abre a porta que dá para fora do lugar, corro o mais rápido que posso e me jogo para frente, ouço a porta fechar atrás de mim e o lugar some.
- Como você fez tudo isso? - pergunta Grump.
- Não tenho a mínima ideia. - respondo.
Sinto algo gelado, estou em cima de algo gelado, olho para cima e vejo Robby, ele permanece desligado.
Por um instante me sinto como Chuck, não possuo blusa nem calçados, meus cabelos estão bagunçado e há mais obscuro dentro de mim do que dentro de Lucius.
Pego a chave e com a ajuda de Grump ligo Robby, seus olhos acendem instantaneamente mostrando o caminho a frente, e Grump deita meu pai na mão de Robby.
- Nos leve o mais rápido possível para o reino de Lyun. - grito.
- Sim Aiden. - fala Robby.
Seus passos aumentam a cada pisoteada no chão, Robby sai da cidade em minutos enquanto Grump permanece sentado junto a Amie e meu pai, que dorme profundamente, eu fico no ombro de Robby observando o caminho até legar no sono.
++++
Dessa vez não sonho nada, dormi tranquilamente enquanto os passos de Robby não me incomodavam mais.
- Aiden. - grita Grump esteticamente.
Abro os olhos e dou um pulo levantando, olho para Grump que aponta para frente enquanto Robby não para. Sigo com os olhos na direção onde Grump aponta e vejo o que deixa meus olhos brilhando como estrelas.
Uma divisão de cor no céu, um azul e o outro negro, vejo a penumbra da luz à sombra, a frente é dia atrás é noite, ou apenas sombras, não sei o que dizer, nem pensar apenas olho sem parar o reino que a frente está e o lindo sol brilhante que me encanta de primeira, a cada passo chego mais e mais perto da luz.

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