- O que é isso no rosto dele? - pergunto.
- É um pedaço de pele, costuramos aí para ele não morder ninguém. - responde o homem.
Ele abre a porta enquanto Grump segura o farejador pela corrente, ele segue tranquilamente. O homem da um tapinha nas minhas costas e fecha a porta atrás dele.
Todos param para olhar o farejador saindo com uma sombra e um menino humano segurando um boneco com vida própria.
Comigo o Bob não tenta fugir, ele apenas fica quieto. Grump anda sem olhar para os lados, sem se importar com os olhares.
Depois de passarmos pela multidão entramos em um terreno vazio e sem vida, o ar é quente mas continua escuro, nunca vi esse lugar fazer sol, a não ser no sonho.
O lugar só tem chão, mais chão e mais chão, depois de muito tempo andando o céu se enche de estrelas, então sentamos para descançar, como alguns pães enquanto o farejador olha para mim do outro lado.
Ele não come nada, mas não parece nem um pouco com fome. Grump o observa sem precisar olhar, Bob está sentado perto de mim, no chão.
Deito- me e espero o sono vir.
Acordo e não vejo mais nada, está completamente escuro, sinto paredes a minha esquerda e me levanto limpando a poeira.
Ando tocando a parede para não cair, até encontrar um vão como uma porta. Empurro a porta com dificuldade, pela textura ela é de pedra.
Não vejo nenhuma sombra no lugar, sinto um gelo na espinha e esbarro em algumas coisas e então acendo minha lamparina.
A luz se espalha pelo lugar mostrando tudo que eu esbarrei ou ainda vou esbarrar. Uma grande mesa com várias cadeiras.
Um som quebra o silencio do quarto, sombras entram na sala e se sentam nas cadeiras, apago a luz da lamparina e me escondo atrás da estante.
- Por que acha que Salazar nos chamou aqui? - pergunta uma das sombras.
- Não sei mas deve ser sério. - responde a outra.
A porta se abre novamente e todos se calam, um ar frio percorre pela sala fazendo um uivo amedrontador.
- Calados! - fala uma voz grossa que me da arrepios. - Não chamei vocês aqui para ficarem tagarelando.
As últimas palavras revelam o dono da voz, é Salazar o irmão de Grump.
- Precisamos pensar em algo para consertar as coisas. - fala Salazar. - aquele garoto pode ser a salvação da humanidade.
- Não vamos deixar ele ser o heroizinho. - fala uma das sombras para Salazar.
- Como pretende pegar ele Grinfus? - pergunta Salazar ironicamente.
- Podemos esperar ele nos achar como fez da outra vez. - fala Grinfus.
- Brilhante. - fala Salazar alegremente. - tudo o que precisamos é esperar ele vir até nós.
- Isso mesmo. - fala Grinfus no mesmo tom.
- Você é mesmo increvel Grinfus. - diz Salazar.
- Mesmo? - pergunta Grinfus.
- Não! - grita Salazar um uma voz monstruosa.
Uma ventania toma conta do lugar e as cadeiras se agitam no chão, raios saem do teto como se fossem chão e chego na beirada da estante.
Vejo pela primeira vez o rosto de Salazar, ele tem pupilas extremamente negras e sem repleção, seu rosto é pálido e seu nariz é pontudo, cabelos p retos jogados para trás e seu rosto transmite medo para quem o olha.
Ele pega Grinfus pelo pescoço e o levanta, depois bate com seu rosto na mesa enquanto todos olham, Salazar se aproxima do rosto de Grinfus e começa a puxar o ar, uma coisa preta começa a sair do rosto de Grinfus direito na boca de Salazar, depois de sugar tudo Salazar limpa a boca e Grinfus se tornou um simples humano.
Todos olham para Grinfus desmaiado na mesa, completamente nu, um humano. Salazar estala os dedos e todos o atacam arrancando braços e pernas para comer.
Fecho os olhos e tampo a boca, torço para eles não me acharem aqui e meu coração acelera até deixar meus pulmões pequenos.
Um silêncio toma conta me forçando a abrir os olhos, com a mão na boca abro os olhos devagar.
Salazar está na minha frente olhando para mim, ele se aproxima e bagunça meus cabelos com as mãos. Entro em pânico e não consigo me mover, mesmo se conseguisse não adiantaria.
- Olha só, não é que aquela sombra maldita do Grinfus estava certo. - fala Salazar sorrindo. - esse garotinho foi burro o suficiente pra vir pra cá.
Salazar solta uma gargalhada que faz minha nuca gelar, depois me segura pelo pescoço e levanta, meu pescoço dói e o ar começa a faltar, Salazar aperta mais e mais até meu rosto ficar roxo.
Abro os olhos e puxo a maior quantidade de ar possível, Grump está me sacudindo enquanto o farejador olha para mim. Ele não deve ter fechado os olhos desde que dormi.
- Sonhou de novo? - pergunta Grump.
Faço que sim com a cabeça.
- Acho que isso não são só sonhos. - fala Grump. - Você está fazendo uma viagem através dos seus sonhos.
- O que? - pergunto.
- Uma viagem através de seus sonhos. - repete Grump. - viajando pra outros lugares através dos seus sonhos. Seu pescoço tem marcas de mãos.
Vejo que realmente existem marcas de mãos em meu pescoço, não sei como eu fiz isso, não sei como eu faço isso, mas se continuar fazendo isso eu posso acabar morrendo.
Conto à Grump o que aconteceu e ele parece preocupado, está com pressa para ir embora e levanta o farejador para seguirmos viajem.
- Ele não é um humano. - fala Grump seriamente.
- Mas eu vi. - falo.
- Você viu o que ele queria que visse. - reforça ele.
Antes de continuarmos vejo uma coisa logo a frente. Um robô, mas é diferente de Robby, esse é menor, menor até do que Grump, tem quase o mesmo tamanho do farejador.
Tem a cabeça grande e fina, uma listra que cobre a cabeça inteira, possui um cilindro de ar nas costas e seu corpo é fino, a não ser pelo tronco que é um pouco maior que o cilindro.
O robô também possui uma fechadura como a de Robby.
- Olha só, um robô de salvamento. - fala Grump. - ele salvava pessoas de áreas contaminadas pelo ar. - explica ele.
- Teria algum problema se eu o ligasse? - pergunto.
- Se conseguir, ele não vai dar problema acredito. - responde Grump.
Retiro a chave de dentro da blusa e ligo o robô, ele não liga imediatamente mas não demora como Robby.
Seus olhos acendem e ele olha de um lado para o outro, parece não entender nada.
- Olá. - falo.
- Olá. - responde ele. - Você me ligou.
- Sim liguei. - falo sorrindo.
- Isso não foi uma pergunta. - o robô não possui nenhuma expressão e olha para todos nós como se estivesse nos investigando.
- Ah tudo bem. - falo. - qual o seu nome?
- Meu número de série é BTH1163.
- Vou te chamar de Érick. - digo. - você tem cara de Érick.
- Também acho. - fala Grump.
- Venha com a gente, você deve conhecer este lugar. - falo para ele.
- Tudo bem. - fala Érick se levantando.
Há uma cidade logo a frente, um prédio está caído encostado em outro, vinhas saem pelas janelas. Érick pergunta aonde estamos indo.
- Queremos chegar no reino que fica pra aquele lado. - digo apontando.
- Esse lugar não consta em meus dados. - fala Érick.
A luz da lamparina ilumina o rosto do farejador, sua expressão me da medo, seus olhos colados em mim e a pele na sua boca torna pior, seus cabelos são grandes e caem no rosto, são pretos como os meus e quase do mesmo tamanho.
Começamos a andar para dentro da cidade, não ouço nada além vidros sendo quebrados debaixo de nossos pés.
Um zumbido e luzes saem de todos os lados, são veículos, carros e motos que Peter me contou.
- Rebeldes. - fala Grump.
Ele me coloca atrás de suas costas enquanto os rebeldes batem com correntes em nós.
Grump agarra um deles e o joga para cima de outro na moto, vejo mais quatro. Eles possuem armas e estão atirando em Grump.
Grump não sente dor apenas me protege atrás de suas costas. Eles tentam jogar luz no Grump mas ele não sente.
Grump levanta um carro com uma das mãos e joga para cima dos outros. Não vejo mais nenhum rebelde, nenhum sinal de vida.
- Ah droga. - fala Grump olhando para o lado.
O farejador escapou da corrente e está de pé em cima de um dos carros, está se contorcendo na camisa de força. Algo estala e ele retira a camisa com um braço mole, depois o coloca no lugar. Ele agarra a pele em seu rosto e puxa arrancando devagar ponto por ponto de seu rosto, sangue escorre dos furos de onde a pele estava costurada. Ele termina de arrancar e a joga no chão lambendo o sangue da boca. Enfia a mão na garganta e retira levemente uma faca do tamanho de um antebraço.
- Olá, meu nome é Chuck. - fala ele sorrindo.
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Penumbra
AdventureEm um mundo caótico infestado por sombras, um garoto que nunca havia visto o seu próprio mundo, descobre ser a salvação de seu planeta. Vai em busca de informações sobre sua própria identidade, embarcando em uma incrível aventura cheia de terror e s...