A estátua no centro

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Não sei o que dizer, o que pensar e nem o que fazer, um rei se ajoelha perante mim neste momento, quem sou eu para ser digno de tanta honra?
O rei entrega Thamory a mim colocando-a na minha mão, pego a espada que agora não possui nenhuma pedra, a lâmina prateada é um pouco gasta e velha porém afiada, o cabo em forma de cruz é escamado e possui um encaixe.
Coloco a espada na mochila de um jeito que o cabo fica aparecendo caso eu precise puxa-lo, não sei muito bem o que vou fazer com essa espada, não sei lutar, não sei como usa-la e muito menos como salvar a humanidade.
O rei volta ao trono sentando-se sem olhar para mim, o trono é grande e com detalhes em ouro, no alto um leão dourado e nos braços cabeças de leões exatamente iguais.
Dou meia volta e ando novamente pelo tapete vermelho que cruza o salão inteiro, abro a porta de correr e saio do salão, o sou esquenta minha pele sem machucar, é confortável.
As árvores verdes balançam com o vento, todas na mesma direção, as pessoas plantado sua própria comida enquanto outras vendem na feira da outra rua, a fonte jorra água continuamente deixando úmido todos os tijolos.
Grump está perto da fonte conversando com Boris, desço as escadas de tijolos grandes fazendo um som estranho de areia, a praça está vazia sem contar com Grump e Boris, a sua conversa é fácil de se escutar, falam de como o povo viveu aqui todos esses anos, filtrando sua própria água.
Grump me vê e para de falar, ele me olha até Boris virar também, eles olham pra mim fixamente como se algo estivesse errado, então percebo que estão olhando para a espada na mochila.
- O rei te chamou pra devolver a espada? - pergunta Grump.
- Mais ou menos. - falo.
- Você sabe como usá-la? - pergunta Boris.
- Não, não sei como usar uma espada.
- Isso é seguro? - pergunta Grump.
- São as vontades do rei, é melhor não questionar. - responde Boris.
- Não se esqueça que eu salvei a sua vida. - falo para Grump.
- Salvou a vida dele? - pergunta Boris.
- Ahn salvou. - fala Grump.
- Como fez isso? - pergunta Boris.
- Olha uma feira. - falo mais alto apontando para a feira na outra rua. - vamos lá.
- Mas..
Atravesso em direção a feira cortando o que quer que Boris perguntasse. O som das pessoas falando e gritando tampa meus ouvidos me impossibilitando de ouvir.
As árvores das beiradas balançavam deixando escapar algumas folhas verdes pelo caminho.
Os ladrilhos levavam até a rua da feira, pessoas de um lado para o outro se destacavam pelo caminho, frutas, coisas com fios, sem fios, coisas que nunca vi na vida e comidas, as pessoas vendiam muitas coisas mas o que me chamou atenção foi uma estátua no centro das barracas, elas formavam um círculo em volta da estátua.
Ela parecia segurar algo, algo brilhante, sua aparência era quase real, as linhas, sua feição e sua curvatura quase me faziam imaginar ela a se mexer.
Ela era a estátua da rainha pela qual o rei me falou, segurava a pedra de Efer, a mesma que protegia todo o reino, a pedra jorrava paz e conforto a quem passasse daqueles portões pra dentro, olhando para a pedra que brilhava aos meus olhos percebi que Grump sentia um pouco de mal estar.
A sua aparência humanóide quase me fez pensar que ele era mesmo um humano, a pedra é a arma perfeita contra sombras e Grump ainda era uma sombra então com certeza acabaria morto se chegasse perto demais da pedra.
- Grump, poderia ir ver se meu pai está bem por favor? - pergunto tentando tira-lo dali o mais rápido possível.
Grump me olha quase assustado e retira a mecha de cabelo do olho direito com uma das mãos, seu sobretudo preto gira como uma saia e para perfeitamente junto ao seu corpo.
- Ah claro. - fala ele.
- Obrigado.
Boris está olhando algumas máquinas e ferramentas estranhas que não faço ideia pra que servem, ele gira alguns objetos e coça o queixo como se procurasse algo.
Enquanto Grump vai na direção do hospital aproveito para chegar mais perto da estátua, por um segundo sinto ela olhar para mim e depois voltar a olhar para a pedra, sua expressão é ainda mais real de perto, existe medo no rosto da estátua, chego tão perto a ponto de sentir vontade de toca-la, estico meus dedos para alcança-la mas uma mão me puxa para trás me girando rapidamente.
Sua armadura cintilante brilha com o bater do sol, o aço range ao se movimentar, é o soldado que tentou pegar minha espada no hospital.
Ele me olha como se estivesse surpreso e diz.
- Cuidado novato não quer virar pedra quer?
Ele me segura com força o bastante para doer meu braço.
- Opa opa, o que aconteceu Victor? - pergunta Boris.
- A princesinha aqui queria tirar uma casquinha da estátua. - fala Victor com seu sorriso malicioso.
- Eu só..
- Não toque na estátua Aiden. - fala Boris firmemente.
- Mas..
- Sem mais novato. - fala Victor.
- Tudo bem Victor deixa comigo, pode ir. - fala Boris.
Victor me olha feio uma última vez e sai andando, olho para Boris que parece um pouco preocupado, seu óculos pesado escorrega no nariz e ele ajeita com o dedo.
- O que tem a estátua? - pergunto.
- Se tocar nela você vai ser mais um enfeite da feira, ela vai te transformar em estátua. - responde ele. - o rei que achou a pedra de Efer mandou uma tropa buscar a pedra depois de muito tempo o rei mandou outra tropa para ajudar, nenhuma tropa voltou, o rei já estava esperando a muito tempo, eles não sobreviveriam sem mais tropas, então o rei foi lá ele mesmo, deixou o seu súdito e amigo no comando de tudo, o rei viajou por muito tempo até lá e quando finalmente encontrou a pedra viu que estava na mão de um dos soldados dentro da caverna, então o perguntou o que estava fazendo, não houve resposta então o rei chegou mais perto e percebeu que todos os soldados haviam virado pedra, o rei então surtou, havia perdido seus melhores soldados e não poderia tocar na pedra, ele retirou sua capa dos ombros e jogou no guarda que segurava a pedra, instantaneamente a capa petrificou por inteiro, o rei não sabia o que fazer então pensou em uma coisa, então puxou sua espada e cortou o braço de pedra do soldado estátua, a pedra caiu no chão brilhando, o rei embrulhou a lâmina da espada com um trapo de sua mochila, e segurando ela ao contrário encaixou a pedra no cabo aonde havia um encaixe, soltou a espada rapidamente esperando que ela se transformasse em pedra também porém a espada permaneceu intacta, o rei segurou a espada e percebeu que ela aguentava todo o poder da pedra e concentrava sua energia contra as sombras, ele a levou para o reino sem nenhum problema na viagem de volta, quando o rei chegou no reino percebeu a mudança que seu súdito tinha deixado, os guardas que ficavam no portão atacaram o rei sem ao menos saber quem era, os que ficavam no alto da muralha atiraram flechas contra ele, o rei foi capturado pelos guardas e levado para a sala do trono, o súdito havia deixado as pessoas trabalhando nas plantações e filtrando a água como escravos e mudou o reino inteiro, ele acreditava que o novo reino iria para frente, então decidiu matar o rei e a rainha e pegar o reino para ele, então abriu os portões para jogar os dois no mundo para morrer, no momento em que os portões se abriram Zafir já sentira que haviam pego a pedra de Efer, Zafir queria quebrar a pedra em milhares de pedaços para o reinado absoluto das sombras, a rainha então em seu desespero para salvar o rei e o reino correu de encontro a pedra para tentar salvar, Zafir correu também, o eco da voz do rei tentando impedi-la foram tão altos que o reino inteiro olhou, a rainha tocou na pedra e instantaneamente se tornou em pedra, Zafir sem saber a tocou para pegar a pedra e outra estátua enfeitou o lugar, o rei derrubou os guardas e pegou de volta sua espada, apontando para seu súdito traíra, então travaram uma batalha até a morte, o rei venceu atravessando a barriga do súdito, do outro lado do portão as sombras olham para a estátua de Zafir com medo, Lucius então foi para cima do rei com todo o exército de sombras que agora o pertenciam, a luz brilhou na mão da estátua da rainha, as sombras correram junto a Lucius para fora do lugar, desde então ela vem protegendo nossos bisavós até aqui.
- O que aconteceu com a estátua de Zafir? - pergunto.
- O rei guarda ela no calabouço, ninguém vai lá, dizem que ele ainda pode falar se ficar sozinho com ele.
- Entendi.
- Esqueci de falar, amanhã de manhã o rei solicita a presença de todos vocês para uma checagem no sangue. - fala Boris.
- Checagem no sangue?
- Ele usa para descobrir se alguma sombra passou dos portões.
Meu coração gela com a notícia e talvez Boris tenha percebido mas tento disfarçar ela.
- Tudo bem, estaremos lá. - falo.

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