Botões

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- Eu só cansei de viver sozinho. - fala Grump olhando para o chão.
Não tenho certeza se de o confiar no Grump, apesar de ele ter me salvado algumas várias vezes ele ainda é uma sombra.
- Quer ser meu amigo? - as palavras saíram da minha boca como ar.
- Amigo? - pergunta Grump confuso. - Eu nunca tive um amigo.
- Não quer ser meu amigo? - pergunto levantando as sobrancelhas.
- Ah sim quero. - Grump faz uma pequena pausa e pergunta. - O que fazem os amigos?
- Bom... Amigos contam coisas uns para os outros.
- Eu não tenho nariz. - fala Grump levantando o dedo.
- Não, não esse tipo de coisa. - explico. - você não tem mesmo nariz?
- Não, olha. - Grump toca no seu rosto no lugar onde deveria estar seu nariz.
- Como sente cheiro das coisas? - pergunto confuso.
- Não sinto. - fala ele com um leve sorriso.
- Você só respira pela boca?
- Não tenho pulmões. - responde ele.
- Nossa... Foco, preciso te mostrar como ser um amigo. - vasculho o chão com os meus olhos e vejo um pequeno botão.
Corro até ele e puxo com a mão direita, debaixo das cinzas vejo que o botão serve como olho para um boneco de pano.
Sua boca costurada, o pano marrom velho e desgastado e os grandes botões pretos no lugar dos olhos.
- Olha esse boneco por exemplo, o que amigos fariam com esse boneco? - falo levantando o boneco.
- Ele é um pouco familiar. - fala Grump.
Ele olha para o boneco investigando todas as suas partes, então o boneco salta da minha mão aterrissando no chão, dou um pulo para trás e o boneco começa a correr.
- Haha eu sabia que era você. - grita Grump que começa a correr atrás do boneco.
Fico observando aquela cena sentado no chão com as cinzas sujando minhas calças e o vento soprando forte, o céu começa a clarear mas não com a luz do sol como dizia Peter e sim com estrelas.
Olho para o céu imaginando todos que morreram como estrelas, estrelas brilhantes no céu que me fazem lembrar de milhares de momentos bons como, o dia em que meu pai trouxe um livro de fora e o deu para mim. Meu pai nunca mediu esforços quando se tratava de me dar um presente, também nunca errou no presente.
Grump agarra o boneco pela cintura e o puxa para cima, o boneco se debate nas mãos de Grump mas ele parece nem sentir.
- Este é o Bob. - explica Grump. O boneco diz que não com a cabeça e volta a se debater.
- Parece que ele não gosta desse nome. - falo.
- Ah ele gosta sim, só que eu esqueci o nome que já tinha dado a ele antes. - fala Grump olhando para o boneco. - Eu mesmo criei ele, eu estava sozinho e sem nada para fazer, depois que a Sara morreu eu abandonei o povo das sombras. Fui viver na floresta. Em uma das minhas explorações pela cidade vi um lugar incomum, a porta estava aberta e o lugar parecia nem ter sido tocado. Havia um sininho na porta e várias bancadas com cabeças de bonecas, entrei em uma das portas do lugar e achei esse bonequinho. Levei ele comigo e dei vida a ele com uma magia que aprendi com o povo das sombras. Mas ele falava demais, então costurei a sua boca.
- E por que você o jogou fora? - pergunto.
- Eu não joguei ele fora. - fala Grump coçando a cabeça. - ele fugiu.
- Ah imagino. - falo. Grump faz uma cara de confuso. - o que vamos fazer agora?
- Tem uma cidade aqui perto, você pode passar a noite lá... nós podemos. - fala Grump.
- Então vamos. - falo soltando o ar pela boca.
Grump vai na frente ainda com o boneco na mão, ele já parou de se debater, parece ter cansado.
É incrível como as estrelas ainda estão lá depois de tanto tempo. A luz faz com que eu não precise mais da lamparina, os fósforos acabaram e terei que procurar por outros ou vou ficar no escuro.
O caminho não é muito longo até a cidade, posso ve-la logo à frente. Passamos por um poço no caminho e parece que foi utilizado recentemente.
Quando chegamos na cidade vejo que não é muito diferente da outra onde deixamos Robby. Vidros quebrados e postes caídos, porém essa essa tem uma coisa que nunca tinha visto antes, tem rodas, quatro ao todo, tem vidros e parece que era um meio de transporte, eu sei que já vi isso em um livro mas não me lembro muito bem.
Tem várias dessas coisas pela cidade, batidos, amassados, quebrados e até apitando.
Vejo ferros atravessados pela rua e sangue pelo chão, e enquanto sigo Grump vejo mais caos e destruição.
Ouço um barulho fraco e longe, um barulho de ferro ou algo do tipo. Grump parece ter notado, ele está andando mais devagar e está olhando para todos os lados.
De repente o barulho para e não ouço mais nada, um silêncio absuto toma conta do lugar e Grump para.
- Fica atrás de mim. - fala Grump.
Um som de correntes se aproxima de nós pela frente, batidas de ferro pelo lado e de repente fogo surge do nada. Grump da um pulo para trás com medo, uma criatura surge na luz do fogo, não muito alta e com um rosto deformado com uma caveira na frente.
Grump da um passo à frente mas a criatura cospe fogo com o que parece ser algum tipo de ferramenta. Ele vem para cima de mim mas Grump empurra ele para longe.
Grump cresce mais alguns centímetros para afugentar a criatura mas isso não funciona, ela volta a jogar fogo. Grump grita de dor e cai no chão.
Pego uma das pedras do chão e jogo na direção da criatura, a pedra vai de encontro ao rosto da criatura fazendo-a cair no chão.
- Ei, eu to tentando salvar você garoto idiota. - reclama a criatura. Ela tem uma voz masculina e um pouco rouca.
A criatura tira seu rosto e mostra que era apenas uma máscara, um humano surge na luz, sua pele é escura e seus olhos são castanhos, a boca é cortada, provavelmente por ele ter mordido de nervosismo, as sobrancelhas arqueadas e o queixo quadrado.
- Humano? - pergunto.
- É, eu sou humano. - responde ele.
Ele se vira para Grump pronto para jogar fogo nele, seguro a ferramenta empurrando-a para baixo.
- Ele não é mau, ele não é mau - grito repetidas vezes. - ele é meu amigo.
- Amigo? - pergunta ele confuso. - ele é uma sombra!
- Qual o problema? - pergunto entrando na frente da coisa que cospe fogo.
- Você é maluco? - pergunta ele soltando a arma.
- Não ele não é maluco. - fala Grump. - e eu não sou como as outras sombras.
- Como posso ter certeza? - indaga ele.
- Acha mesmo que um menino humano se colocaria na frente de um lança chamas para salvar uma sombra? - fala Grump.
Ele parece confuso e assustado, mas não fala nada por alguns segundos, fica apenas pensando sobre o que acabou de ver e ouvir.
- Só precisamos de um lugar para passar a noite. - fala Grump.
- Tudo bem, Podem ficar. - diz ele depois de pensar muito. - mas se tentarem alguma gracinha eu vou ser obrigado a lançar chamas em vocês dois.
- An.. Três - fala Grump levantando o boneco.
- Que seja.
Ele nos leva por destroços de prédios e vidros quebrados, até chegar em um corredor iluminado por uma bolinha de luz.
- Meu nome é Jason. - fala ele.
- O meu é Grump e esse é Aiden. - aceno com a cabeça.
- Bom aqui é a minha "casa". - fala ele. - podem passar a noite aqui.
Sento-me em um colchão no chão e Jason vai para outro, Grump fica sentado nos destroços observando o ambiente, deito e espero o sono vir, ele não demora muito, e logo apago.

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