Adestramento

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Não sei por que Peter decidiu contar sobre Kate só agora, e não sei se alguém prestou atenção nele.
Peter desceu da cama e fez reverência pela história, olhou diretamente para mim e veio apertar a minha mão.
- O que achou da história Aiden? - disse Peter sorrindo para mim, não sei como pode sorrir contando essa história.
- Incrível. - digo com um suspiro. - preciso falar com você à sós.
- Ah claro, claro então.. - disse Peter olhando de um lado para o outro estalando os dedos. - ali. -apontou para atrás de uma estante.
George foi cuidar de um dos anciões, Peter e eu fomos andando e desviando de alguns cuidadores até chegar finalmente atrás da estante, verificou atentamente se estamos realmente sozinhos.
- O que é "a profecia"? - pergunto olhando diretamente para ele.
- Aonde ouviu isso. - disse Peter assustado.
- Um velho no beco escuro me segurou falando que eu era o salvador.
- Robert. - ele pareceu entender tudo mas nada ao mesmo tempo. - aonde o viu mesmo?
- No beco escuro. - respondi com um tom de pergunta.
- Ele disse que você é o escolhido?
- Disse.
- Venha, preciso te mostrar uma coisa. - Peter me guia até o fim da biblioteca.
Peter tira um tijolo frouxo da parede, enfia a mão no buraco da parede e retira um livro velho e empoeirado e com teias de aranha, está amarrado com uma cordinha com uma chave no meio.
Pego e ele retira a cordinha formando um cordão que Peter coloca em volta do meu pescoço.
- O que é isso? - pergunto.
- Você vai saber, quando precisar. - respondeu ele com um sorriso ofegante. - Esse livro vai te contar o que precisa saber sobre a profecia.
Peter o entregou à mim, olhei para o livro com capa de couro e para Peter. Quando abri o livro não tinha nada além de cinzas e folhas pretas.
- Está queimado. - falo com uma voz rouca.
- O que está queimado? - pergunta Peter desfazendo o sorriso.
- O livro.
Peter pega o livro da minha mão com força e range os dentes.
- Como pode ter queimado?- Peter olha para o livro assustado - ele estava normal à alguns dias.
Ele olha para mim, depois para todos os lados e me fala.
- Tudo o que precisa saber estava nesse livro, agora não temos nada. - Peter se senta no chão com as mãos no rosto. - Você é o escolhido, você têm que nos salvar, salvar o mundo. Precisamos de você.
- Mas como sabe que sou eu? - pergunto.
- Não sei. Mas você é a nossa única esperança. - Peter se levanta - precisa fazer isso por nós.
Quando estou pronto para continuar George grita me chamando, saio de onde estou e o vejo me chamando do salão.
Vou correndo passando por fileiras repletas de livros velhos.
- Aconteceu alguma coisa? - pergunto preocupado.
- Sim, os exploradores do turno da tarde estão nos portões.
Isso é muito estranho, os exploradores da tarde costumam ficar explorando até dormirmos depois eles retornam dando lugar aos do turno da noite.
Sigo George pela rua e depois de alguns segundos vejo uma multidão perto ao portão.
Me junto à multidão e ficamos esperando os exploradores entrarem, os guardas do portão começam a abrir o portão puxando a tranca enorme de madeira bruta.
Não consigo ver o que está acontecendo, abro caminho entre as pernas das pessoas na frente como fiz na biblioteca.
Passo por entre as pernas de algumas pessoas e empurro outras, quando chego na frente vejo que tem alguém batendo desesperadamente os portões.
Correm para chamar o chefe de exploração e ele finalmente destranca a fechadura com a grande chave.
Os exploradores entram correndo e dois deles carregam um ferido na perna, o que chegou na frente está apavorado e desorientado.
- Fechem os portões. - grita o explorador da frente olhando para o chefe.
- Mas ainda falta um de vocês, não posso deixa-lo lá fora. - exclama o chefe.
- Fecha a porta agora. - grita o explorador de novo enquanto levam o explorador ferido para a enfermaria. - O outro explorador está morto.
A expressão do prefeito é como de ele estivesse comido algo estragado, então finalmente pede para que fechem o portão.
Levantam a madeira para fechar a porta, e o chefe pega sua chave.
Então de dentro da escuridão do outro lado do portão escuto sons de algo arranhando as pedras que se encontram do lado de fora.
Algo se aproximando, o explorador parece estar amedrontado
Então o portão se quebra em milhares de pedaços, jogando os homens para longe e quebrando a madeira ao meio.
Um enorme cão negro com os olhos amarelos olham para mim rosnando, ele avança agarrando a cabeça do chefe de exploração, o sangue escorre entre os dentes do animal que aparenta ter dois metros de altura.
Começo a correr como todos estão fazendo, sigo George que parece estar me guiando até a biblioteca, pessoas caem e são pisoteadas.
Passamos pelo corredor escuro e chegamos finalmente à biblioteca, algumas pessoas também pensaram em vir para cá.
Quando passamos fecham as portas atrás de nós, com o coração na boca respiro ofegante.
Será mesmo real ou estou só sonhando?

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