Abro meus olhos e estou no chão, folhas fazem cócegas no meu rosto, vejo galhos quebrados e algumas vinhas, não consigo levantar há um galho em cima de mim, ele é pesado e me não possibilita que eu me levante.
Um som de engrenagens e tiros irritam meus ouvidos, a minha dor de cabeça deixa tudo mais lento, a casa gira ao meu redor formando um rodamoinho maluco.
A parede na minha frente treme com um som de serra, não vejo o que a está serrando, perco o ar dos pulmões com um impulso pra trás, Grump está me puxando com um dos braços enquanto corre para longe da parede trêmula.
Ele vira na parede do outro quarto escondendo-se atrás dela, coloca o dedo na minha boca pedindo para que eu fique quieto.
Uma serra atravessa a parede surgindo no outro cômodo, passos firmes quebram os bambus atrás de nós, Grump anda devagar saindo do quarto comigo no ombro, entramos na cozinha e Grump se esconde outra vez.
Viro-me para ver do que ele está se escondendo mas não consigo ver nada, Grump apenas me puxa de volta me colocando em seu ombro.
No outro quarto ouço um som de fogo e bambus quebrando, posso sentir o calor do fogo queimando as árvores.
Há uma janela do lado direito de Grump aonde estou em seu ombro, ele olha constantemente para ela, de repente meu pai surge sem fazer nenhum som, os dois permanecem calados enquanto meu pai me puxa pela janela, Grump vem logo atrás de nós.
Grump me coloca em seu ombro novamente e começam a correr, passos tão quietos que parece que estamos correndo sobre nuvens.
As árvores pegam fogo e troncos despencam sobre nós, meu pai nos guia por um caminha de árvores Flamejantes enquanto Grump olha para todos os lados garantindo que estamos seguros.
Os tiros parecem estar cada vez mais perto, o calor faz meu corpo soar, meu pai desvia de árvores, corta folhas com um facão e corre sem nem mesmo olhar para trás.
- Já pode andar? - pergunta Grump.
- Já. - falo baixinho.
Grump me solta e me puxa pela mão enquanto meu pai para.
Grump também para, segura minha mão firmemente causando uma certa dor, porém é suportável. O som os fez parar, ou nenhum som, o silêncio é mais amedrontar que o próprio monstro, não sabemos o que esperar, não sabemos se tem algo, se vai ter ou se já teve, o silêncio é o melhor amigo da escuridão, os dois formam uma combinação de vilões perfeita.
Nessa parte da floresta o fogo ainda não se espalhou, um som estranho quebra o silêncio fazendo meus ouvidos doerem, um som tão agudo que me faz cair no chão com as mãos nos ouvidos.
Um olhar brilhante e avermelhado se estreita na escuridão e atira contra a perna do meu pai, ele grita de dor cobrindo o joelho com uma das mãos. Grump avança arrancando a cabeça do que vejo que era um robô.
O robô tinha o tamanho de um humano e segurava uma arma prateada, seu tronco cheio de engrenagens e fios de aço com uma placa na frente protegendo a programação, o som cessa e Grump esmaga sua cabeça com uma das mãos faíscas saem para todos os lados.
Grump abre a bolsa e pega algumas coisas para cuidar do ferimento, a bala pegou de raspão deixando apenas um caminho de sangue acima do joelho.
Grump joga um líquido e meu pai grita, depois enrola com um pano amarrando atrás. Os gritos do meu pai trouxeram mais robôs que se aproximam queimando as árvores, começamos a correr e logo não vejo mais folhas, apenas cinzas e uma pequena cidade a frente.
Enquanto carrego meu pai pelo braço seus pés arrastam a cada passo, as cinzas sobem formando uma fumaça empoeirada, uma vez enquanto procurava livros na biblioteca puxei um livro mais empoeirado que todos os outros o ar se encheu de poeira e tive que tomar banho depois.
A cidade parece muito maior de perto, os prédios nem parecem ter fim. Grump se senta em um carro quebrado e acende o lampião velho do meu pai, depois da na minha mão me fazendo deixar meu pai encostado no prédio atrás de mim.
- Como vocês se conheceram? - falo quebrando o silêncio.
- Depois de trair o povo das sombras eu fugi para a floresta, depois de alguns metros correndo eu encontrei uma casinha estranha nas árvores, entrei nela e seu pai me jogou fogo, naquele dia ele quase incendiou a floresta. Depois nos conhecemos melhor e agora somos amigos.
- Como traiu o povo das sombras?
- Depois de assombrar, destruir, matar, causar pânico nas pessoas, pesadelos e até dominar várias cidades decidi que não era o certo a se fazer e que esse mundo não é e nunca foi designado às sombras. Salvei uma cidade das garras de meu pai e fugi depois disso, os planos do meu pai sempre foram dominar Lyun, que a propósito é o nome que demos ao seu planeta.
- Lyun ?
- Sim, Lyun.
- Okay. - falo. - A propósito, o que aconteceu com Érick?
- O robô? - pergunta Grump. - Ah não sei, quando acordei ele havia sumido.
- Estranho... - falo suspirando.
Ficamos em silêncio por alguns minutos enquando meu pai descansa encostado no prédio, controlo meus batimentos e respiro fundo, será que se eu dormir agora tudo não passará de um sonho? Só quero que tudo acabe logo, quero estar a salvo e longe desse lugar assustador.
O suor faz cócegas na minha testa e o ambiente ao meu redor se torna quente mas meus batimentos permanecem instáveis.
- Acha que vamos conseguir achar a cidade? - pergunto a Grump olhando para o chão.
- Não sei... Mas nunca desista. - responde Grump com um ar feliz, porém não sorri. - Ei sabia que seu pai pode consertar qualquer coisa?
- Sabia sim. - digo sorrindo. - afinal ele é meu pai.
- Ah é, verdade.
- Ele só não conserta escadas. - solto uma risadinha.
- Achei que iria consertar ela pra mim - fala ele tossindo e sorrindo.
- Acho melhor continuarmos andando, depois que um Aniquilador vê você Felicy não te deixa em paz. - fala Grump.
- Quem é Felicy? - pergunto.
- É só a central de mentes robô de Lyun. - responde ele. - nada com que se preocupar, ela só quer o mesmo que Salazar.
- Por que Lyun ou terra é tão desejada? - pergunto.
- Seu planeta é a maior fonte de vida do universo, sempre se reproduzindo e crescendo, seu planeta é instável. Resumindo, eu não faço ideia.
Levanto-me e ajudo meu pai a se levantar, Grump pega a lamparina e a leva para frente deixando a luz iluminar o caminho. O céu escurece e as estrelas pouco a pouco vão sumindo, os prédios perdem seu brilho junto com o céu.
Andamos por mais alguns metros até uma rua um pouco familiar, vejo prédios iguais e carros pela rua, vejo um beco famíliar e pessoas estranhas, nos escondemos no beco e não olhamos para elas.
- Sei aonde estamos. - falo. - se precisamos de ajuda acho que sei como conseguir.
Andamos pelo beco levando luz pelos ladrilhos no chão, deixando brilhar alguns vidros quebrados e tijolos nas paredes ao redor, a rua vai surgindo pela frente como a luz em um túnel.
Saímos em uma rua normal, com carros quebrados, prédios devastados e pessoas estranhas, dessa vez elas estão mais longe, não estamos muito longe, há alguns prédios pequenos que me concedem a vista de Robby, estamos na cidade de onde fui salvo pelo robô que tentou me matar.
- Ali está a nossa ajuda. - falo levantando a sobrancelha e apontando para Robby.
- Ajuda? Aquele robô maluco quase me matou. - fala Grump.
- Mas dessa vez vai ser diferente. - retruco contente. - temos o meu pai.
- Eu? - pergunta ele.
- Sim, você pode consertar Robby, acredito que ele só precise de uns reparos. - falo.
- Mas eu não sei como consertar um robô.
- Não deve ser tão difícil quanto sobreviver a um ataque de Lucius. - fala Grump. - acho que você consegue.
- Okay, eu vou tentar. - fala ele soltando o ar.
Atravessamos a rua e chegamos finalmente ao pé de Robby, vejo a poucos metros vejo a mão de Robby caída no chão, lembro-me de quando Grump a arrancou, se eu não tivesse aquela chav...
- A chave, aonde está a chave? - falo vasculhando o meu pescoço.
- Eu peguei ela depois que você ligou Érick. - fala Grump tirando a chave da bolsa. - não me sentia bem deixando a chave mestra com você.
- Quer dizer que eu sou descuidado?
- Acabou de perceber que ela não está com você, não preciso dizer isso você já diz por mim. - fala ele a colocando de volta na bolsa.
- Eu quero que me de essa chave. - falo estendendo a mão.
- Não. - fala Grump. - você está em perigo, a chave vai acabar sumindo por aí, ela é muito importante.
- Ela é minha. - grito pulando para cima de Grump. - minha chave.
Seguro a chave com o máximo de força que consigo, Grump a puxa para si soltando a bolsa.
- Acha mesmo que confio em você? Você é uma sombra, nunca terá a confiança de ninguém. - grito. - não fico surpreso em saber que Sara nunca te amou.
- Só achei que precisasse de ajuda, uma criatura tão mole como você não conseguiria passar uma noite em Lyun. - retruca Grump. - seu pai sempre soube que você era um fracote, por isso me mandou para salvar o menininho indefeso.
- Me da a chave. - grito mais alto.
- Não.
O rosto de Grump começa a mudar e linhas horizontais surgem aonde devia estar a boca, são como se ele estivesse tentando abrir a boca colada, de repente se soltam e sua boca é imensa pronta para me engolir. Ouço um tiro e depois uma luz atinge o rosto de Grump, ele solta a chave e da alguns passos para trás, viro-me e vejo meu pai com uma arma e uma lanterna.
- Obrig... - meu pai atira contra mim e a bala atinge meu ombro atravessando-o.
Solto a chave que não produz som ao cair no chão, nada produz mais som, tudo parece tão quieto. A dor se alastra pelo meu corpo enquanto travo meu corpo sem saber o que fazer.
Meu corpo parece pesado demais e minhas pernas cedem me fazendo cair no chão, o ambiente começa a escurecer. Vejo meu pai pegar a chave com um pano depois colocada dentro das calças, então tudo escurece e não vejo mais nada.
++++
Quando acordo vejo um ponto de luz formado pelo lampião do meu pai, ele produz um brilho diferente na estrutura metálica do robô.
Vejo que sua mão está no lugar e meu pai está no pescoço do robô, ele está consertando como eu pedi. Não sinto dor e tudo que vejo em meu ombro é uma cicatriz circular.
- Já acordou Aiden? - grita o meu pai de cima do robô.
- Já sim. - grito.
- Então sobe aqui.
Grump me se gura e escala o robô só com uma mão enquanto o vento frio percorre meu corpo até chegar lá em cima.
- Você atirou mesmo em mim? - pergunto.
- Atirei sim. - fala ele sem olhar para mim. - me passa a chave de fenda?
- Chave de f... Você é doido? - pergunto tentando lembrar o que é chave de fenda.
- A bala atravessou seu ombro e em menos de uma hora ele já estava fechado. - fala ele.
- Ah claro, meu filho se cura rápido, vamos atirar em seu braço. - falo sarcasticamente.
- Você viu o que a chave fez com você? O que ela fez com vocês dois? - pergunta ele finalmente olhando para mim. - não vão ter contato com ela tão cedo, ela tem toda a maldade que podem imaginar. Não eram vocês falando lá em baixo.
Fico em silêncio e meu pai pega a chave de fenda, ele desaparafusa uma placa de metal e conecta um fio roxo nela, uma imagem surge na tela com as siglas U.C.R Unidade de Criação de Robôs.
- Venham ver isso, são as imagens do robô até agora. - fala meu pai.
Ele está sendo construído por operários, meu pai passa, eles vinham todos os dias, um dia eles simplesmente pararam de vir, Robby ficou solitário e não foi terminado, agora é um robô defeituoso.
- Demais, agora sabemos como ele veio parar aqui. - falo levantando.
- Espera tem mais. - fala meu pai me puxando para baixo.
Meu pai passa e Robby fica solitário por muito muito tempo, vejo uma guerra, mas são humanos contra humanos, ela passa tão rápido mas causa muitos danos no mundo, alguns jovens aparecem e dessa vez um som surge.
- Olá meu nome é Robby. - ninguém fala nada só olham para Robby. - vocês são amigos de Robby?
Um deles pega uma garrafa com fogo e joga em Robby, depois jogam mais garrafas com fogo, pedras e batem nele com martelos.
- Não façam isso por favor parem. - fala Robby. - não façam por favor.
Eles não param e uma pedra atinge o olho de Robby, a câmera trinca e os jovens saem correndo, Robby fica solitário novamente.
Meu pai passa de novo e vejo o ciclo que o sol fazia até a lua aparecer. Depois de passar bastante vejo uma menininha passando pela rua, ela usa um vestidinho vermelho e carrega uma cesta, seus cabelos loiros e sua pele branca, essa cena é tão incrível porque a câmera não capta a cor, mas o vermelho ela captou, e é um vermelho tão vivo.
A menininha tem em sua mão uma rosa, vermelha como o vestido, ela se aproxima de Robby e a entrega para ele, ele estende a mão e pega a rosa, meu pai passa e todos os dias ela entrega a rosa enquanto passa pela rua.
- Você é amiga de Robby. - fala Robby enquanto ela entrega a rosa.
- Você é amigo de Sophie. - fala ela sorrindo.
Ela parece ter apenas cinco ou seis anos, todos os dias Sophie levava uma rosa para Robby, seus dias de solidão acabaram finalmente, meu pai passa o vídeo e os dias passam como o vento. Um dia Sophie não vem, e assim respectivamente, o mundo escurece e as sombras atacam os humanos.
Enquanto o sol se põe Robby não vê mais Sophie a algum tempo, a neve cai e Robby permanece só. Um dia qualquer enquanto a neve se esvai um Lobo negro surge pela rua, uma cor comum surge com o lobo, é vermelho, um vestido vermelho, Robby levanta a cabeça caída, por um instante senti que Robby parecia estar feliz, Sophie finalmente havia voltado e Robby tinha sua amiga de novo.
Enquando o Lobo negro se aproxima a visão vai se concertando Robby pode ver o Lobo mais de perto, a cor vem da sua boca, o vestido está rasgado e o tecido está entre seus dentes, Robby fica olhando o lobo enquanto ele passa e acho que ele entende porque ela não vinha mais.
Acho que Robby entende porque Sophie não virá, e ele não terá sua amiga de volta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Penumbra
AdventureEm um mundo caótico infestado por sombras, um garoto que nunca havia visto o seu próprio mundo, descobre ser a salvação de seu planeta. Vai em busca de informações sobre sua própria identidade, embarcando em uma incrível aventura cheia de terror e s...