O outro lado

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    O mundo em cinzas caótico e sem vida, poeira e cinzas no chão, no céu fumaça e escuridão, nenhuma estrela, nenhuma lua, nenhum sol, nada como Peter descreveu.
    Minha vida toda passei preso embaixo de um mundo que imaginei ser incrível, mas parece que me enganei, a escuridão da noite é a minha única companhia e mesmo assim me trai embaçando minha visão. Nada é como eu imaginei, parece que ainda não estou livre, me sinto preso.
    O lobo ainda está atrás de mim, corro sem rumo pelo mundo das cinzas procurando um milagre para me ajudar. Mais à frente vejo uma cidade devastada, com prédios quebrados iluminados apenas pela luz do meu lampião, tijolos no chão, fumaça e cinzas. Por todos os lados vejo cinzas.
    Os prédios chegam cada vez mais perto, parecem estar vindo diretamente para mim. Corro o mais rápido que consigo e me escondi atrás de um prédio, o silêncio rompido pelo estalar barulhento e estérico do meu coração.
    Perdi o lobo de vista, apenas o ouço rosnar e correr, estou perdido. Espero um pouco, para controlar a respiração, depois de recuperar o fôlego tento ser o mais silencioso possível correndo até outros predios.
    Quando de repente Bato em alguma coisa, um som de ferro ecoa pelo ambiente, revelando totalmente onde estou.
    Olho para cima e vejo um grande objeto, uma máquina, mas com olhos, boca e nariz. Um robô, já li sobre isso em algum livro da biblioteca, eles já foram utilizados para testes, eu não sabia que já foram além de apenas protótipos mas parece que sim. Sem contar que esse é realmente muito grande, quase do tamanho de um prédio, preso por fios parece estar desligado ou algo do tipo.
    Não vejo mais o lobo e não quero mais ve-lo, nunca mais. Algo diferente me chama atenção, em seu tronco de aço vejo uma tranca que me faz lembrar da chave que Peter me deu é como um coração bem estranho.
    Tiro o cordão em meu pescoço, a chave balança brilhando com a luz do lampião que faz com que ela produza uma sombra estranha, deixo ela pendurada pela cordinha e olho para o robô.
    Começo a subir pelo pé do robô, escalando e me equilibrando, sua estrutura gelada fazem meus pés escorregarem, mas subo mesmo assim, sua estrutura forte e barulhenta meio enferrujada é traiçoeira.
    Chego no tronco e pulo segurando na fechadura que parece firme e ligada pelo robô inreiro, olho para os lados procurando alguém que pudesse estar me observando e enfio a chave na tranca, giro para a direita e sinto um estalo barulhento e rouco, depois um segundo estalo.
    Nada acontece, perdi meu tempo tentando saber o que quer que essa chave faça, não devia ter tentado fazer isso, quase caí tentando escalar essa lata velha e nada, devia saber que nem sempre algo acontece.
    Sons baixos de engrenagens girando tomam os meus ouvidos, subo os olhos pelo robô e vejo seus olhos acesos pairando sobre mim como fogo. Solto a tranca e o susto me faz escorregar cainda para trás, mas o robô é mais rápido e me segura, seu som iniciando ecoa pelo ambiente deixando meus ouvidos doendo.
    Faço com a mão para que pare correndo de um lado para o outro como um idiota torcendo para que o lobo já estivesse desistido, mas só o que ele faz é continuar me olhando, o som continua alto e não sei o que fazer. Até que o som para reestabelecendo o silencio, respiro fundo com a mão no peito enquanto olho diretamente para ele.
    Um som estranho cobre o som do rangido do robô, um som de rosnado, olho para trás devagar e vejo o lobo me encarando pronto para avançar, não está tão perto, conseguiria correr se não fosse pelo cansaço e pela dor em minhas pernas.
    O lobo devagar da um passo para frente me encarando com seus enormes olhos amarelos, brincando com sua presa, me cercando lentamente.
    O segundo passo faz meu peito arder com o Coração aos saltos, com uma feição maligna olhando para mim uma baba escorre de sua boca.
    Ele é realmente bem grande, duas vezes maior que um lobo normal, ele então abre sua boca e um bafo de algo morto entra no meu nariz deixando um odor repugnante.
    O lobo avança sem respirar dando um impulso no chão com sua boca totalmente aberta, as cinzas subiram formando uma fumaça estranha que o esconderam.
    Meus pés não conseguiram se mover e meu coração acelerou deixando o ambiente quente e não consegui me mover como se algo me segurasse. Pensei em tudo o que vi, tudo o que vivi e as pessoas que conheci, as pessoas que me fizeram sobreviver, que deram a vida por mim, fazendo a minha vida estender por mais alguns minutos, horas ou apenas segundos, tudo jogado fora por um Lobo gigante de olhos amarelos.
    Não quero morrer agora, mas acho que isso não é mais uma escolha, fecho os olhos e não ouço mais nada apenas o silêncio que bate tão forte agora feito um soco na cara, uma última batida no meu coração conforta todo o meu corpo como se eu levitasse para meu fim.
    E o suor escorrendo pela testa é frio, como a morte e apenas entrego tudo que estou sendo agora parado sem respirar.

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