Capítulo 6

7.1K 475 14
                                    

Eu esperei.

Por um segundo, eu e toda multidão esperamos. Esperamos a tal Haylie Nicols aparecer e sair em disparada até aquele palco, se gabando por ter sido a sorteada. Mas ela não apareceu. Ninguém se manifestou. Não podia ser. Meus amigos estavam tensos ao meu lado, descrentes, atordoados. Mas eu estava bem. Deveria haver outra pessoa com o mesmo nome que eu, certo? Acontecia o tempo todo na escola...

Olhei em volta, os cochichos começavam, a multidão se desesperando pela tal garota, mas onde ela estava? Ela deveria aparecer. Logo. Ou...

⸺ Hay... ⸺ Dilan me chamou baixinho e hesitante. Me virei pra ele, com súplica em meus olhos.

⸺ Não sou eu ⸺ tentei soar segura em minhas palavras. ⸺ Deve... deve haver outra Haylie, com certeza há outra, e... Ela vai aparecer... olha...

Eu parei de falar quando o homem no microfone repetiu o nome, o meu nome, quando todos começaram a murmurar ao meu redor e só o que eu conseguia fazer era... tremer. Eu não podia ter sido sorteada. Dei uma risada amarga para mim mesma. Alguém estava me segurando agora, eu provavelmente desmaiaria a qualquer momento, mas tentei me desvencilhar, sair dali, ir correndo para casa. Eu queria chorar e gritar e...

Meu celular tocou.

Olhos e mais olhos se dirigiram a mim, atordoada, tirei o celular do bolso e vi um número desconhecido, o homem no palco estava com seu celular no ouvido, ligando. Eu escondi o meu o mais rápido possível.

⸺ É a Haylie! ⸺ Alguém gritou, tão alto que meus pés cederam. Reconheci a voz sendo de uma garota da escola, e comecei a odiá-la por isso.

⸺ É ela! ⸺ Mais alguém gritou, para piorar mais ainda, apontando para mim veementemente. E então começou o alvoroço, pessoas me empurraram, me tirando dos braços de Dilan. Eles me levaram como as ondas levam uma concha frágil e indefesa pelo mar, contra sua vontade.

Mas que droga.

Que pessoa eu seria se gritasse bem ali, no meio daquela multidão? O que todos achariam se eu fizesse um show de garota mimada que não quer fazer o que os outros querem?

Seria estúpido e idiota.

Eu poderia lidar com isso mais tarde. Sim. Eu faria isso.

Me segurei no corrimão da escada, bem onde eu não podia ver nada. Como havia acontecido tantas vezes nos últimos dias, eu não fazia ideia de como cheguei ali, tão perto do desgraçado que leu meu nome, que arruinou o que me restava de bom senso. Mas eu precisava ir, fazer algo, revidar. Existiria a possibilidade de minha irmã ter bolado isso tudo só para me levar ao ápice da loucura? Talvez. Mas a verdade era que tudo havia funcionado.

Eu estava louca.

Subi em passos lentos e deliberados, como de uma fã tímida e pasma, sem acreditar no que acabara de acontecer. E eu realmente não acreditava. Olhei ao meu redor como uma menina acuada e temerosa, quando apenas desejava esganar aquele apresentador ridículo. O obedeci de prontidão indo onde ele mandava e sorrindo para as fotos quando ele dizia para fazer. O diretor da minha escola ⸺ que estava sentado em lugar de honra no palco, junto com seus três filhos bochechudos ⸺ veio me cumprimentar. Ele me reconheceu e me saudou, tão calorosamente quanto seria possível de sua parte. Eu jamais entenderia o porquê dele estar envolvido nisso. Mas que droga. O mundo não é justo!

Eles bateram palmas para mim, todos eles. Até os que me odiavam por ter sido a sorteada, até os que queriam me empurrar palco abaixo ou tacar o microfone em minha cabeça. Todos que tinham influência ali em cima, desde a modelo adolescente famosa no país inteiro, Jane Lewis, natural de Movinie, até o apresentador do sorteio que era da TV local. Todos me aplaudiram. E eu detestei isso com toda minha alma.

⸺ Haylie Nicols! Agora é sua vez de expressar seus sentimentos diante dessa multidão e de toda Movinie que lhe escuta.

Peguei o microfone trêmula. Eu seria presa se o jogasse fora e saísse correndo como louca?

⸺ Eu... eu... ⸺ minhas palavras eram tão vazias, meu tom amargo e obscuro. ⸺ Isso é... ⸺ engoli tudo que precisava, antes de escolher a palavra correta e falar sorrindo da forma que consegui. ⸺ Inacreditável.

E eu não estava mentindo.

[...]


Eles me levaram para trás do palco, depois de muito tempo sendo manipulada naquele lugar; após uma transmissão ao vivo e tantas fotos que eu mal podia mexer meus lábios de tanto sorrir falsamente. Mas eu estava confiante, se o desgraçado do Brendon Mark estivesse ali, em conforto e glória, apenas esperando sua presa chegar, ele veria muito bem o que uma garota enfurecida é capaz de fazer.

Ah, ele veria.

Vasculhei pelos cantos que eu podia entrar, depois de preencher alguns papéis. Na verdade, ninguém se importou comigo ou me impediu. Vi o diretor da minha escola e seus filhos já de saída de seus aposentos. O apresentador tirava fotos com a modelo Jane Lewis e conversava alegremente com ela. Tive a leve impressão de que era comigo que ele deveria falar ou instruir, mas ignorei o fato. Olhei o último cômodo que era grande e confortável e luxuoso, tinha comida e bebida, havia luzes das quais você não encontra em um ambiente pobre, era tudo muito caro.

Só podia ser ali que ele estava. Mas não havia ninguém.

A porta se abriu em um clique rápido, eu não sabia se era errado estar ali, mas senti uma onda de medo atravessar meus poros. Tentei correr como nos filmes, tão rápido que ninguém me veria, me esconderia e esperaria até eles saírem para poder me safar, talvez eu até descobrisse um plano obscuro deles e salvasse o mundo.

Porém, nada disso aconteceu.

Cruzei a sala pulando os pequenos obstáculos em direção o sofá de mogno, onde eu, segundo meu plano, me esconderia. Mas a porta se abriu tão rápido que eu me atrapalhei no processo e caí de cara no acolchoado. Me levantei às pressas, as mãos suando de nervosismo.

⸺ O que está fazendo aqui? ⸺ O apresentador que eu desejara tanto esfolar dirigiu-se a mim, a modelo vindo atrás dele com cara de paisagem.

⸺ E-eu... Eu só...

⸺ Deixe a menina. – Jane Lewis me surpreendeu ao me defender. O apresentador fez uma cara de insatisfação com uma pitada de não me importo, de qualquer forma. ⸺ São os aposentos dela, no fim das contas.

Eu me afastei do sofá a tempo de ver o homem se debruçar nele, o que, provavelmente,  teria me acertado. A modelo sentou-se à sua frente, requintada e elegante. Eles se olharam de uma forma nada convencional, eu literalmente estava atrapalhando algo. Mas eu precisava perguntar.

⸺ Onde ele está?

Eles se entreolham novamente. A modelo riu baixinho.

⸺ Brendon? Não, ele não pôde vir com tantos afazeres para pôr sua agenda em ordem ⸺ ela analisou suas unhas enormes pintadas de vermelho, sua voz era tão sedosa, suave e segura que ela nem parecia ter apenas 19 anos. ⸺ Para isso tudo acontecer ele teve um preço alto a pagar, por favor lembre-se disso.

Eu queria dizer que ela interpretou mal a minha pergunta, que eu não era uma fã intrusa que iria importuná-lo até o coitado desmaiar. O apresentador me poupou de mais palavras.

⸺ Vá pra casa, eu vou cuidar dos papéis. Compareça segunda na escola com um responsável, se você tiver um, e pronto. Tudo certo.

Olhei de um para o outro, aturdida. Ele indicou a porta com o queixo, a impaciência lhe tomando a face.

Eu já não me importava se eles me achavam uma louca pelo Brendon Mark, não queria saber se eles me viam apenas como mais uma. Saí correndo daquela sala, tão rápido que mal enxerguei o caminho para fora do palco. Desci as escadas tropeçando em meus pés e corri pela rua, agora deserta. Só parei ao esbarrar em alguém alto e forte, como uma rocha.

Eu não fazia idéia de quem era, mas eu estava sensível e magoada e surpresa demais para raciocinar. Então comecei a chorar em seus braços.

Meu Pop Star Onde histórias criam vida. Descubra agora