Capítulo 18

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─ Você se machucou?

─ Não. Eu estou bem, e você?

─ Sim, mas não é nada que eu não possa suportar ─ ri do seu tom manhoso, achando fofo e estranho ao mesmo tempo.

─ Não conseguiu dormir? ─ eu não sabia se aquela era uma pergunta íntima demais, mas decidi correr o risco. Brendon suspirou, ajeitando suas costas que estavam apoiadas na parede.

─ Não. E você?

─ Também não.

─ Mas está tudo bem com a sua saúde, não é?

─ Está sim.

─ Que bom, porque eu acho que a Mary não quer acordar ─ ri um pouco anasalado e ele me acompanhou.

─ Se eu conseguisse me levantar, ela não iria precisar vir.

─ Você sabe cozinhar? ─ ele pareceu realmente surpreso.

─ Sim, mas é só o básico.

─ Já é bom o suficiente ─ ouvi ele soltar um suspiro. ─ Durante seis meses da minha vida eu sobrevivi com os meus hambúrgueres, até me tornei profissional nisso.

─ Eu adoraria provar para saber, porque a minha mãe faz o melhor hambúrguer que eu já comi.

Percebi que havia chamado Leya de mãe e abri bem os olhos, surpresa. Mas ela era como uma mãe para mim, de qualquer forma.

─ Se sairmos daqui hoje ainda, eu prometo preparar o melhor hambúrguer do mundo para você.

─ Tudo bem.

Nós permanecemos em silêncio por um tempo, e eu estava com um leve sorriso. Então a porta ao nosso lado foi aberta e Mary entrou, soltando um gritinho agudo de espanto assim que ascendeu as luzes e nos viu sentados no chão, provavelmente sujos.

─ O que diabos aconteceu aqui?

Ela mal se importou em praguejar em nossa frente, já se abaixando para ver se estávamos feridos, tateando nossos corpos com suas mãos.

─ Estava tudo escuro e nós caímos ─ ele disse simplista.

Mary estreitou os olhos, não parecendo muito convencida de sua explicação simples, o que me fez gargalhar meio desajeitada. Ela tomou cuidado em não pisar no líquido escorregadio e nos ajudou a enfim levantar.

─ Eu vou limpar isso, antes mesmo de descobrir quem fez esse estrago. Mas vocês precisam de um banho.

Eu analisei a calça manchada de Brendon já seca pelo tempo que passamos esperando e percebi que o líquido era semelhante a uma calda.

─ Não vamos sair antes de comer hambúrguer. O que acha que viemos fazer aqui?

Ele tirou os próprios sapatos e os deixou em um canto antes de caminhar até a geladeira. Eu o observei um pouco abismada, ao passo que Mary nem esboçava reação alguma, focada em limpar a sujeira.

─ Eu posso te ajudar, se você quiser ─ o imitei, tirando as pantufas que eu estava calçando e caminhei descalça até a bancada onde ele estava cortando verduras.

─ Não precisa, eu já te prejudique o suficiente hoje, então eu preciso te recompensar.

Eu fiquei imóvel pelo que pareceu uma eternidade e Mary soltou uma risadinha baixa, me despertando. Então eu segui até uma mesa longe de Brendon e me sentei, sentindo minhas bochechas quentes. Eu definitivamente parecia uma fã de verdade agora.

Brendon preparou nosso lanche em silêncio e Mary se sentou ao meu lado quando terminou de limpar o chão, observando comigo as mãos ágeis do cantor nos servindo. Ele preparou três grandes hambúrgueres com diversos tipos de recheios.

Por toda sua demora, eu já sentia minhas pálpebras pensarem e não fazia a menor ideia de que horas eram.

Ele sorriu após colocar um refrigerante diante de nós e disse: ─ Agora podem provar o melhor hambúrguer de suas vidas, se estiverem prontas.

Foi impossível não rir.

Mary foi a primeira a morder o pão recheado, com certa dificuldade pelo seu tamanho exagerado. Então ela sorriu enquanto mastigava e fez um sinal de joinha com o dedão, sem parar de comer nem por um segundo. Brendon gargalhou orgulhoso e eu não pude deixar de ver como ele a olhava. Era como um filho olhava para uma mãe, mesmo sem que essa fosse biológica. Era como eu olhava para Leya.

Com esse pensamento eu sorri antes de morder o hambúrguer e meu sorriso apenas aumentou enquanto os gostos se misturavam em minha boca, me trazendo sensações diferentes. Estava diferente de tudo que eu já havia comido antes, era como se ele tivesse conseguido colocar seus sentimentos naquele pão recheado, assim como ele fazia com suas músicas.

Então eu parei de comer, o olhando fixamente e imaginando como ele conseguiu me fazer mudar de ideia sobre ele tão rapidamente. Faziam apenas cinco dias que eu estava aqui e eu já havia visto seu humor mudar drasticamente. Já havia visto o modo como pequenas coisas o deixavam à vontade e como ele agia de forma livre e protetora com quem ele parecia gostar de verdade.

Eu não tinha certeza se ele não sabia esconder seus sentimentos, ou eu conseguia lê-lo bem demais... porém nada disso importava, porque eu estava levando um tremendo tapa na cara, naquele exato momento. Eu havia sido preconceituosa e com ele, tirando minhas próprias conclusões, sobre influência das futilidades que ele ao menos sabia que minha irmã fazia. Ele não tinha culpa de nada.

─ Obrigada ─ eu disse de repente, assustando até a mim mesma. Ele terminou de mastigar e sustentou seu olhar em mim, assim como eu fazia com ele.

─ Por quê?

Eu olhei para o hambúrguer e depois para ele novamente, depois para Mary e toda aquela cozinha. A verdade era que eu estava agradecida por ter essa oportunidade de estar aqui, por mais que eu não fosse fã do seu trabalho ─ o que não seria difícil de ser revertido, levando em conta que ele era um ótimo compositor ─ eu havia me tornado fã da pessoa que era Brendon Mark.

Então eu voltei a encará-lo, sem vergonha de ter Mary nos observando, e disse a verdade, nas poucas palavras que consegui dizer naquele momento.

─ Por tudo, Brendon. Por tudo.

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