Capítulo 20

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Distante.

Essa era uma palavra que resumia bem como Brendon Mark estava, durante todo o dia. Ele parecia fingir todos os sorrisos que dava, todas as suas respostas eram vagas e seus olhos não tinham brilho algum, por mais que aquela viagem significasse algo para ele. Mary havia me dito que a casa de campo era um dos lugares favoritos do cantor, que ele sempre vinha descansar nela, ou simplesmente curtir um pouco. E por mais que fosse evidente o seu carinho pelo local e pelo casal de cuidadores, havia algo de errado com ele.

Desde antes de sairmos de sua casa, sua expressão era fechada e neutra, quase como se ele quisesse ao máximo esconder o causador de sua tristeza, mas ele falhava miseravelmente em esconder seu incômodo.

Um dia atrás, Brendon estava alegre e orgulhoso em me mostrar sua gravadora, ele havia ido ao parque de diversões, havia escorregado em uma calda de chocolate e caído no chão comigo. Ele fez um hambúrguer magnânimo, e sorriu como um garotinho para Mary. Mas, como num passe de mágica, ele voltou a ser o Brendon que eu conheci em meus primeiros dias aqui, fechado e distante. E, por algum motivo que eu desconhecia, eu estava preocupada com ele.

Por isso, eu não consegui me conter em meu quarto, depois do jantar, sabendo que nós compartilhávamos o mesmo andar. Então eu terminei de arrumar minhas coisas no quarto e segui pelo imenso corredor cheio de portas e salas, até enxergar um vulto de alguém caminhando em direção às escadas que ficavam no meio do corredor. A pessoa era Julien Gaillard, ele passou direto por mim, como um furacão e nem ao menos pareceu perceber que eu estava ali.

Sopesei a ideia de voltar para o quarto, mas meu instinto curioso me forçou a seguir adiante, vasculhando um pouco até achar o quarto de Brendon. Eu sabia que era errado e que ele poderia pensar coisas distorcidas sobre mim e minhas intenções. Porém eu não consegui parar, nem mesmo quando encontrei a porta aberta, nem mesmo quando ouvi os barulhos assustadores vindos lá dentro. Eu só parei quando me vi diante da entrada, vendo Brendon soltar um grito abafado e cheio de dor, enquanto despedaçava qualquer coisa que via pela frente.

Levei as mãos à boca, assustada e surpresa demais, sequer para conter um gemido de medo. Então Brendon virou em minha direção, com o rosto vermelho e inchado, tomado por um completo caos. Ele me encarou, com uma expressão indecifrável pelo que pareceu uma eternidade.

─ Haylie?

Ele perguntou, mais para si mesmo do que para mim, porque ele parecia perdido, incerto sobre o que estava vendo, até mesmo magoado.

─ M-me desculpe, e-eu não... eu não d-devia...

Eu recuei alguns passos, talvez pálida de medo, porém, ao vê-lo se encolher, baixando o olhar para o chão... algo dentro de mim se quebrou.

Eu pensei em sair correndo dali, mas ele me chamou, hesitante.

─ Haylie... ─ Continuei encarando-o sem saber o que fazer. ─ Por favor, não... não conte a ninguém.

Eu assenti, sem desviar os olhos. Aos poucos, parecia que toda sua raiva anterior ia se transformando em receio e arrependimento. Ele olhou para a mesinha atrás de si, cheia de cacos e objetos caídos, assim como o chão, e seus olhos marejaram.

─ Você quer... quer ajuda? ─ A frase saiu da minha boca antes que eu tivesse tempo de raciocinar.

Eu já estava mais calma, porém existia um limite de até onde eu poderia ir para tentar ajudá-lo, então ele me encarou, enfim, parecendo pensar. E eu quase fugi, diante de sua demora em responder, até que ele me surpreendeu.

─ Sim.

Ainda permaneci quieta por um instante, imaginando se eu estava ouvindo coisas, mas, quando ele se abaixou no chão e começou a juntar os pedaços de vidro do chão, eu me movi.

O ajudei a juntar os cacos maiores e a separar os objetos que ainda estavam intactos, guardando-os de volta na mesinha.

─ Isso é um prêmio? ─ Eu perguntei, quando já estávamos terminando, olhando para uma espécie de torre, feita de um material parecido com vidro.

─ Sim, de um concurso de música.

Eu tentei esconder a minha expressão surpresa quando percebi que aquele prêmio era o mesmo da foto que ele havia estilhaçado. Então nós terminamos em silêncio e ele usou o pé, calçado em um tênis, para juntar possíveis caquinhos que sobraram.

─ Eu posso ir pegar uma vassoura, e...

─ Não precisa, tá tudo bem.

Eu murchei um pouco, sem saber o que fazer agora.

─ Eu...

─ Obrigada por isso.

Eu senti a sua sinceridade como um soco em meu estômago, era pura e verdadeira.

Então eu assenti, dando um leve sorriso antes de me dirigir até a porta e sair do seu quarto, me virando em seguida para dizer: ─ Se eu precisar de alguma coisa... não hesite em me chamar.

Eu esperei até ver Brendon balançar a cabeça levemente em concordância, antes de finalmente ir embora.

[...]

Não consegui pregar os olhos durante todo o resto da noite. Tantas e tantas coisas passavam em minha mente, coisas sobre o porquê de Brendon ter tido um ataque de raiva, o porquê de Gaillard ter saído no meio da noite, como um furacão, e o mais importante... porquê eu estava preocupada com o homem que eu odiava.

Eu sabia que já não o odiava, até porque eu não tinha motivos concretos para isso. O problema era que eu queria ajudá-lo, contra meu próprio orgulho, eu só não sabia como.

─ Vamos, Haylie.

Assenti, acompanhado uma Mary sorridente até o lado de fora da casa, para mais um passeio pela propriedade.

Nosso segundo dia não foi muito diferente do primeiro, cheio de passeios pelas redondezas, refeições fartas e frutas colhidas por nós mesmos. À noite, nos reunimos no jardim, com churrasco e alguns convidados íntimos de Brendon, ao redor da piscina.

Todos eles pareciam pessoas simples, que viviam ali mesmo, naquele cidade pequena, e Brendon parecia gostar bastante deles. Em certo ponto da noite, nos reunimos em uma roda bem grande e ouvimos o cantor usar suas mãos ágeis em seu violão e cantar várias músicas, conforme os convidados pediam. Quando Brendon indicou a mim com seu queixo, eu pedi que ele tocasse a música nova, que era a minha preferida, e ele o fez.

Não havíamos tocado no assunto de seu ataque durante o dia inteiro e eu até podia jurar que ele estava mais tranquilo. Então, quando os convidados dele foram embora e a maior parte da seus funcionários se retiraram para dormir, eu me aproximei dele. Josh estava ao seu lado, em uma das muitas espreguiçadeiras de frente à piscina.

─ Aproveitando a noite, Haylie? ─ Foi Josh que perguntou.

─ Claro. ─ Dei um sorriso simples para ele, sinalizando que minha resposta era verdadeira, então ele sorriu também e se levantou.

─ Eu preciso de oito horas de sono, então, até amanhã para vocês.

Brendon se despediu, assim como eu, então ele foi embora, nos deixado à sós.

─ Você gostou mesmo da música, não foi? ─ Brendon soltou de repente, quase me assustando.

─ Ah, sim, eu gostei muito. ─ Eu não estava o encarando, mas sabia que ele sorria fraquinho.

─ Bom, eu agradeço por não ter dito nada a ninguém... eu... bem, eu não sou muito de dividir esse tipo de situação com as pessoas, muito menos com fãs.

Eu pensei por um momento, antes de responder.

─ Eu entendo... tem coisas que precisamos guardar para nós mesmos. Aliás... ─ Eu o olhei nos olhos, enfim. ─ Me desculpe por aparecer lá do nada, é que eu... Eu ouvi algo estranho... ─ Não era de todo verdade, mas não podia simplesmente dizer que queria vê-lo aquela hora da noite.

─ Tudo bem, mas... esse vai ser o nosso segredo, ok?

─ Nosso... segredo?

─ Sim.

─ Ah... claro. ─ Voltei os meus olhos para a piscina azulzinha, tentando não transparecer o meu nervosismo e ele fez o mesmo, quase tão nervoso quanto eu.

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