Capítulo 22

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A mansão estava agitada quando chegamos, todos juntos ⸺ a não ser por Gaillard que havia voltado no dia anterior e Brendon, que precisou se ausentar para um compromisso. Automaticamente lembrei da mensagem que ele havia recebido na noite anterior e desejei em silêncio que ele resolvesse o que quer que fosse.

O almoço foi servido para mim e Josh na sala de refeições e Mary desapareceu na cozinha, assim como todos os outros funcionários. A atmosfera leve e aconchegante da casa de campo fora então substituída por uma tensão no ar; não havia mais a harmonia e a descontração de antes havia desaparecido. Desejei com todas minha forças poder voltar para aquela casa milagrosa e ficar lá até que os míseros cinco dias acabassem.

A despedida fora triste, o senhor e a senhora Carver foram sucintos em dizer que deveríamos voltar mais vezes lá já que eles ficam muito tempo sozinhos. Eu realmente desejei voltar, não só pelo ambiente confortável e alegre, mas pelo simples fato de que todos pareciam ser eles mesmos quando estavam ali.

⸺ Algum problema, Haylie? ⸺ Josh pareceu notar meu mal humor e me olhou nos olhos. Ele não estava mais espontâneo como antes e isso me incomodou mais do que deveria.

⸺ Não, não é nada ⸺ tentei sorrir e levantei da cadeira onde estava. ⸺ Acho que vou descansar um pouco, nos vemos depois.

⸺ Até mais.

Ele acenou com a cabeça antes que eu tomasse o caminho até meu quarto. Não havia ninguém no primeiro andar, havia um silêncio que o diferenciava do térreo movimentado e por isso comecei a caminhar pelo corredor repleto de portas. A escada que levava ao segundo andar ficava ao lado de uma porta branca de maçaneta dourada qur era completamente igual às outras, mas havia algo convidativo nela que me fez tentar abri-la. E ela de fato abriu ao meu toque.

O espaço lá dentro não era ocupado por nada, o grande chão de madeira estendia-se brilhante até o par de portas brancas de tela que davam para uma linda sacada. Prendi o fôlego ao me aproximar e abri as portas duplas, um pequeno rangido me assustou um pouco mas a imagem lá fora fez tudo e qualquer coisa desaparecer da minha mente. Era o jardim da mansão que estava ali embaixo, gramado e cheio de flores e plantas; havia uma espécie de pomar no limite da propriedade, contrastando eficazmente com a cidade que erguia-se adiante. A piscina podia ser vista dali, a água azul brilhando à luz do sol. Estava um dia lindo, quente e completamente diferente do normal para aquela cidade de céu nublado.

Liguei para Richard e lhe mostrei a paisagem, ele pareceu tão encantado quanto Leya quando lhe mandei algumas fotos. Baylie não me respondeu mas visualizou todas as mensagens ao passo que suas amigas gêmeas quase surtaram.

Depois do que pareceram horas admirando aquela paisagem, saí do quarto vazio e fechei todas as portas com cuidado. Caminhei pelo corredor, observando as pinturas penduradas na parede pela primeira vez e me deti em uma grande foto emoldurada ao lado das escadas. Brendon estava nela, não devia ter mais de 10 anos e o sorriso espontâneo que ele dava era encantador. Havia uma mulher e um homem atrás dele, os olhos azuis da mulher e os cabelos negros de ambos não negavam que eram seus pais.

⸺ ... não importa o que você acha ⸺ uma voz grave soou um pouco abaixo de mim e eu quase pulei para frente com tamanho susto. Julien Gaillard estava subindo as escadas do primeiro andar e parecia falar com alguém, extremamente irritado.

Tomada pelo desespero e medo iminente de ser vista, corri o mais rápido que pude e subi  metade das escadas para o segundo andar, até esconder-me parcialmente entre os degraus. Ouvi seus passos soarem em meio ao silêncio, ele aproximou-se cada vez mais de onde eu estava e então parou, no início das escadas.

⸺ Ouça bem ⸺ ele disse, e por não ouvir a voz de mais ninguém, deduzi que ele estava no celular. ⸺ Não deixe que eles reajustem o acordo, entendeu? Não importa o que aconteça. Ameacem-no se for preciso mas não deixem que ele refaça o maldito acordo a não ser que seja para ele pagar mais caro!

Um silêncio perturbador seguiu-se por tanto tempo que minha própria respiração começou a me incomodar. Minhas mãos tremiam quando enfim pude ouvir os passos de Julien afastando-se das escadas e desaparecendo corredor à fora.

Sentei-me nos degraus e esperei até que meu pulso estivesse estabilizado novamente antes de descer as escadas devagar e investigar o corredor antes de praticamente correr em disparada até meu quarto.

Fechei a porta e recostei o corpo na madeira lisa e fria por um momento. Minha cabeça rodopiava com tantas informações. Com quem Julien estava falando? Por que ele dissera que poderia ameaçar alguém? Que acordo era esse? E havia dinheiro envolvido? Quanto e porquê?

Mordi os lábios, pensando. De Alguma forma, lembrei-me de Josh e toda sua repulsa em socializar com Gaillard; lembrei de como todos funcionários e até mesmo Brendon parecia mais leve quando ele não estava por perto e lembrei enfim de que eu não havia, de fato, gostado dele desde que o conheci. Havia algo naquele homem que não transparecia bondade.

Balançei a cabeça e comecei a caminhar para o banheiro; precisava de um banho quente para esquecer os acontecimentos recentes, mas antes de conseguir alcançar a maçaneta, alguém bateu à porta do quarto. Franzi as sobrancelhas e voltei até lá, dando de cara com Brendon. Minha surpresa não pôde ser controlada; uma provável careta repuxava meu rosto.

⸺ Está ocupada? ⸺ Ele ergueu as sobrancelhas bem delineadas e pareceu ansioso pela resposta. Quis perguntá-lo se ele era bipolar ou algo do tipo mas me contive com um balançar de cabeça.

⸺ Na verdade não, mas...

⸺ Então arrume-se ⸺ seu tom era empolgado, o que me causou espanto e surpresa. Senti uma fagulha ascender no meu peito e mordi minha própria língua para abafar qualquer alarde que pusesse vir a aparecer.

⸺ Me arrumar? ⸺ Repeti debilmente.

⸺ Sim ⸺ Brendon sorriu e eu quis desviar os olhos dele mas não pude. ⸺ Arrume-se, Haylie, porque nós dois vamos sair.

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