Ligação

1 0 0
                                    

Joanna

Tudo começa com uma ligação. Estava em casa, era sábado a noite e o Othon, meu marido, ainda não havia chegado da empresa. Ele saiu dizendo que tinha uma reunião com uns acionistas e eu não me importei.
Ele saiu antes do jantar, e eu mais uma vez jantei sozinha.
Fiquei esperando que ele chegasse, mas não aconteceu. Olhei no relógio do aparador da sala e já passavam das dez da noite. Decidi ligar para ele, e o celular foi atendido no último toque. Uma mulher ofegante atendeu.

- Alô. - silêncio - Alô ?

Não tive coragem de responder. A mulher desligou a ligação e eu fiquei totalmente desesperada. Oton chegou em casa já era madrugada, eu não havia dormido, mas fingi que estava quando ele chegou. Ele certificou que eu estava mesmo dormindo e tirou a roupa, indo para o banheiro, deixando a porta aberta, eu esperei o chuveiro ser aberto e levantei sem fazer barulho. Peguei a camisa dele e senti o cheiro enjoativo de perfume feminino. Ele estava mesmo com uma vagabunda, uma qualquer.
O desespero me tomou, e eu fiquei ali chorando até ouvir o chuveiro ser fechado. Voltei a mim e voltei para a cama rapidamente.
Ele se deitou alguns minutos depois, me abraçando - cretino.
Continuei deitada, ele levantou pela manhã, e saiu sem me avisar. Provavelmente achou que ainda dormia.

Levantei no súbito de raiva, e fui até o closet dele. Peguei todas as roupas dele e comecei a rasga-las.
Deitada no chão, no meio do resto de suas roupas, me permiti chorar. Permiti me perder nas lembranças de vida feliz que tínhamos.
Liguei para a minha irmã, e contei tudo, contei o que havia descoberto sem dar chances para ela raciocinar e digerir tudo aquilo.

- Como assim ?
- Ele me traiu.
- Do que você ta falando, Joanna ?
- Oton me traiu!

Ela ficou em silêncio, e depois perguntou o que aconteceu. Pediu para que não fizesse nada, que me acalmasse e esperasse ela chegar. Ela pegaria o jatinho da impresa e viria para cá o mais rápido possível.
Oton passou o dia todo fora, chegou todo sorridente, me deu um beijo no ombro e subiu para o quarto. Não vi que roupa usava, estava com o estômago embrulhado. Como pude me enganar com alguém dessa forma ?
O homem com o qual me casei era um mentiroso sem caráter algum.
Passador alguns minutos ele voltou a cozinha com suas roupas nos braços.

- Joanna, o que aconteceu ?

Ignorei-o

- Joanna ? - me chamou dessa vez exaltado. Antes de pensar qualquer coisa, comecei a jogar tudo que havia na minha frente, em sua direção. Ele berrava coisas que eu não entendia e me chamava de louca.
Eu ignorei isso também.

No final da tarde minha irmã chegou e eu estava desde o episódio lamentável na cozinha, trancada no quarto.
Ela bateu na porta e só quando ouvi sua voz, deixei que entrasse. Ela se abaixou na minha frente, me olhou nos olhos e me abraçou.
Ela era a mais velha de nós duas e desde que nossa mãe morreu quando éramos adolescentes, ela assumiu o papel de mãe. Ela tinha aquele abraço acolhedor que as mães têm.

- Vai passar... Xiiiiu! Vai passar, Joanna.

Eu chorava copiosamente e me prendia nos seus braços cada vez mais.
Ficamos assim não sei por quanto tempo até que ela começou a falar.

- Me conte o que aconteceu.

Contei para ela tudo o que sabia, e tudo o que havia acontecido.

- Sabe que tem que tomar uma providência né ?
- Sim.
- Mas não de cabeça quente. Vai tomar um banho. Eu vou descer e fazer alguma coisa pra você comer.

Estava pronta para tomar banho quando meu celular tocou e eu decidi atender. Era uma mulher quem falava.

- Joanna, quero pedir desculpas pelo que aconteceu ontem. Foi um mal entendido. Atendi o celular do Oton, ele estava ocupado na reunião e pediu para que atendesse, caso alguém ligasse. Não pensei que você fosse...

- Sabe, eu reconheço o perfume de uma piranha de longe. E a voz, ah, a voz é a melhor parte. Essa é inconfundível.

- Olha aqui!

- Olha aqui você! Fique com ele. Vocês se merecem. É tão sem caráter quanto ele.

- Que culpa eu tenho se você é uma mulher fria e não sabe satisfazer seu marido.

- Cale a sua boca! Você não sabe nada sobre mim.

- Sei que o seu marido me procura sempre e vive se queixando da esposa relapsa que ele...

Fui tomada por um súbito de raiva e arremessei o celular com toda força contra a parede e sair do banheiro decidida. Iria acabar de uma vez por todas com Oton e a sua empresa. Acabaria com a sua vida se possível.
Saí pela porta, e a minha irmã veio atrás. Ela gritava meu nome, mas eu a ignorei. Entrei no meu carro e dei partida. Ela tentou correr atrás de mim, mas decidiu parar.
Saí pelas ruas a toda velocidade, eu só conseguia pensar na minha filha. Só conseguia pensar em como ela ficaria quando soubesse que o seu pai era um canalia. O meu nextel usado para a empresa estava dentro do carro e tocava incessantemente, eu atendi vencida e a minha irmã gritava como uma louca me pedindo calma.

- A vagabunda me ligou e assumiu tudo. Me falou coisas horríveis!
- Ta, mas volta pra casa. Para o carro onde tiver, eu to indo te buscar.
- Não! Eu vou atrás do Oton.
- Pelo amor de Deus, Joanna. Fica calma!

Não sei como aconteceu, mas um carro bateu em mim, meu corpo foi lançado para trás e depois para frente em menos velocidade. Consegui ouvir minha irmã gritar meu nome.
Outro barulho, meu corpo foi jogado para o banco do passageiro e eu apaguei.

AntonellaOnde histórias criam vida. Descubra agora