Capítulo 32

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- Lyra, vamos caminhar comigo, querida? - minha tia perguntou.

Eu nem estava prestando atenção direito no que ela estava falando. Meu objetivo era: ganhar do David no videogame mesmo que seja chutando ele.

- Não.

- Você precisa perder...

- É, tia, legal, a senhora já disse que eu preciso perder uns quilos. Só que acontece que a senhora não precisa ficar incomodada com o meu corpo, porque eu não estou incomodada com ele. E ELE É MEU! SE EU QUISER FICAR DO TAMANHO DO ALEX EU FICO! SE ESTÁ TÃO FITNESS, VAI CAMINHAR VOCÊ. CARALHO.

- Depois eu digo que são ingratos, que não me respeitam, e as pessoas acham que é mentira. Não te incomodarei mais, Lyra, pode ficar com suas gorduras extras. Volto em uns quarenta minutos. Tchau.

Assim que ela saiu...

- Ela nos deixou sem comida - David disse. - Eu tô com fome! Eu não almocei, Lyra! É hora do almoço e eu não almocei! Cadê almoço? Não tem! Titia foi passear e não tem almoço. Como vou sobreviver?

- A Lyra vai fazer comida - Johnny disse, deitado.

- Eu não. Já fiz panqueca hoje de manhã.

- Eu ajudei - Harry disse.

- Eu também - David Porra disse. - Você e o Alex terão que fazer alguma coisa pra comer.

Resultado de Johnny e Alex fazendo comida: molho de tomate espalhado pelo chão e pelos eletrodomésticos, macarrão - ainda cru - por todo lado e várias panelas sujas. A gente acabou pedindo pizza. Tia Josie voltou e deu apenas aquela olhada, em seguida subiu pro seu quarto.

A campainha tocou e ninguém se manifestou, então resolvi ir atender. Era um cara com um buquê enorme de rosas vermelhas.

- Entrega para Lyra Rivera.

- Sou eu.

- Assine aqui, por favor. - Assinei o papel. - Ou o cara está apaixonado, ou fez uma cagada muito grande.

- Eu nem tenho um "cara", meu senhor. Quem foi o palhaço que me mandou isso?

- Não sei, senhorita.

- Ok, obrigada.

Fechei a porta e fui pra sala, que era onde os meninos estavam.

- O que é isso? - Alex perguntou.

- Um macaco, não está vendo? - falei. Percebi que tinha um bilhete no meio das flores. O peguei e joguei o buquê na cara de Harry. - "Para minha amada Lyra. Espero que goste. Lhe dou essas flores com o maior afeto e carinho. TERCEIRA DICA: VOCÊ JÁ ME CONHECE". Quem foi? David, foi você?

- Ah, claro! Estou me comunicando por cartas com você! Não sei nem escrever uma lista de compras, quanto mais uma carta! E pode mandar um recado pra esse ridículo parar de te mandar coisas! Não estou gostando disso.

- Hum. É um menino que adora dançar e que eu conheço. Tá, vamos ver os meninos que eu conheço daqui: Chris, Greg, Nathan e vocês. Ele disse uma vez que tinha vergonha de se declarar pra mim ou sei lá... Chris não é, Greg não é, David Porra não é, Harry não é, Johnny não é. - Ele me encarou. - Eu sei que você nunca me mandaria flores, Johnny... Sobraram Alex, Nathan e... só. Alex, foi tu?

- Gasto meu dinheiro com comida, não com buquês de flores.

- Então só pode ser o Nathan - Harry disse.

- Mas por que? O Nathan nem gosta muito de mim! Dá pra ver na cara dele!

- Então seria quem? O Zaffir? - ele zombou.

- Será que o Sfiha é pedófilo?

- Hoje não era o aniversário da Estrela? - Johnny perguntou.

- Luna - corrigi. - E sim, mas a gente não vai mesmo.

- Mas é claro que a gente vai! A gente vai sim! Quero comida!

- Nós não temos presentes, gênio. E o aniversário é daqui a duas horas.

- Pra que serve o shopping aqui perto? Vamos logo! A gente já se arruma agora, vai no shopping, compra e vai pra casa dela!

O que você pensa de uma menina usando um vestido azul de âncoras com a saia meio cheinha andando super estranho por usar as sapatilhas da tia - que são um número menor -, ao lado de quatro meninos de camisa polo, com o cabelo cheio de gel e perfumados? Você pensa "Os playboyzinhos estão dando uma volta pelo shopping". Não. A gente só tava procurando presente pra uma criança, faltando quarenta minutos pra festa. Ficamos mais de meia hora pra achar um presente que não fosse mais de dez dólares. Eu consegui encontrar uma bolsa em formato de raposa por 11,99, mas os meninos... Eles são super sem-noção. David comprou a ela um quebra-cabeças de princesa, Johnny comprou um livro de pintar com um kit de tintas, Harry comprou dois gloss rosa e Alex... Três calcinhas da Peppa. Eu vou fingir que não o conheço.

Nós ainda estávamos à duas casas e já começamos a escutar os gritos histéricos de algumas crianças. Toquei a campainha e a Maya atendeu.

- Lyra! Fiquei com medo que não viesse. Luna está louca. Toda hora ela fica "A Lyra já chegou?" "Tem certeza de que a campainha está funcionando? Vai que ela apertou e não funcionou!". Venham, entrem.

- Olá, Maya. Onde posso deixar os pres...

- Lyra! Oi! - Luna veio correndo.

- Oi, Luna! E aí, hein? Mais um ano de vida! Tá ficando velhinha!

Os meninos são tão discretos que já haviam sumido. Juro que vi um vulto gordo enfiando o dedo no bolo. Alex. Não vou comer. Nem gosto tanto de bolo assim... Mentira, eu gosto.

- Vem aqui, vem aqui, vem aqui. - Ela pegou na minha mão e começou a me levar até algum lugar. E esse lugar era... do lado do Chris. - Pronto, senta aí. Já volto.

A gente se encarou e encarou o chão e ficamos repetindo isso por um tempo.

- Eu exagerei naquele dia - dissemos meio que juntos. Em seguida, demos um riso fraco.

- Eu admito que foi muita idiotice minha inventar uma queda e tals... Me desculpe, Chris.

- É, foi mesmo. Mas eu também errei, dizendo todas aquelas coisas. Acho que me encantei por você justamente por causa da sua... singularidade. E eu disse que você era muito infantil pra mim, mas eu só estava com raiva. Não queria dizer aquilo.

- Tudo bem. Mas eu sou infantil mesmo. Sou amiga de uma menina de 9 anos, né?

- Hoje é aniversário dela, querida. 10 anos.

- Ah, melhorou. Sou amiga de uma menina de 10 anos, dá licença. - Ele riu.

- A gente pode marcar de sair de novo... algum dia desses...

- Tá, é. Luna falou que já voltava, mas tá na piscina de bolinha...

- Ela gosta de ser cupido.

- Posso te perguntar uma coisa? - Ele assentiu. - Quando fizeram uma festa lá na casa da minha tia, eu vi que você levou uma garota e...

- Era minha prima. Ela veio passar uns dias. Ela tá por aqui, inclusive. Ali.

- Ah.

Eu preciso de um óculos pra enxergar de longe. Porque naquele dia ela estava uma deusa e hoje... Ela ainda está uma deusa. Será que eu estou imaginando isso? É, ela deve ser mó barangona. Com toda certeza.

- Aquele não é o Alex? - Chris apontou pra ele, que estava nada mais nada menos que pulando na cama elástica.

- Não sei, não conheço esse garoto. - Ouvimos um barulho e a cama elástica... rasgou. - Meu Deus do céu. A pessoa é completamente sem-noção.

- Legal que ele tá saindo de lá tipo "Foda-se", cê percebeu? Ele tá fazendo cara de paisagem! - Chris começou a rachar. - Minha família tá toda encarado ele e ele sai mó normal!

- Meu Deus do céu. Eu não vou embora junto com ele.

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