Capítulo 23

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Eu e o Chris subimos para o sótão. Ele se deitou no meu colchão e eu me deitei no do David Porra, que estava com cheiro de cecê. Peguei o controle, liguei a TV e comecei a trocar de canal freneticamente. CADÊ A MINHA NOVELA MEXICANAAAAA??? Preciso saber se o avô de Vladiana sobreviverá ao ataque de abelhas que sofreu quando estava fazendo piquenique com sua mulher trinta anos mais jovem que ele! E se a mulher-mais-jovem estará chateada ou não! Eu acho que ela planejou isso. Só acho. E acho que esse velho vai sobreviver, mas ela vai pegar o travesseiro do hospital e matá-lo asfixiado. Aí, algum médico vai ver e irá obrigá-la a dar um pedaço da herança para ele, que se casará com a mulher-mais-jovem por vingança, porque sua mãe sofreu muito nas mãos da mulher-mais-jovem e aí ele a matará.

- Não quer ficar perto de mim? - Neguei. - Tá brava ainda, Lyra? Não fica brava comigo! Ah, cara, não gosto de ver as pessoas bravas! Muito menos comigo! - Ele grudou os dois colchões e me abraçou. - Poxa, Lyra, abraça de volta. - Ele colocou meus braços em suas costas e eu soltei. Ele colocou de novo e eu soltei de novo. - Quer ganhar de mim no jogo de carro?

- Não.

- Quer ir tomar sorvete comigo?

- Também não.

- Shopping?

- Não.

- Não quer fazer nada?

- Não.

- Poxa, assim fica difícil. Você quer que eu vá embora, é isso?

- Não.

- Mas você não tá deixando nem eu te tocar!

- Mas não quero que vá embora.

- Quer fazer o que, então?

- Hum, deixa eu ver... morrer.

- Você quer morrer? Verdade? Que legal, eu também! Ah, então vamos! - Ele pegou minha mão e saiu me puxando escada abaixo. Fomos até a sala e minha tia ainda estava assistindo TV. - Tchau, senhora.

- Aonde vão?

- Vamos nos jogar de um prédio.

- Ah, sim, divirtam-se... O que? - Ele fechou a porta antes que ela pudesse terminar.

Estou começando a ficar com medo desse garoto. Ele tentou continuar me puxando, mas eu empaquei na calçada. Ele me puxou de novo, mas eu sentei no chão. Aí ele começou a me arrastar.

- Para, ô! Tá me machucando!

- Eu quero que venha comigo, Lyra.

- Não! Até parece! Aonde vai me levar?

- Pra um lugar.

- Que lugar?

- Um lugar! É surpresa!

- Você pode ser um pedófilo! Você tem 20 anos, cara! Eu só tenho 16! Eu estou com medo. - Ele chegou perto de mim.

- Eu prometo que não tentarei fazer nada. Só quero te levar a um lugar que eu gosto de ir quando eu tô na bad.

- Eu não tô na bad.

- Sim, você está.

- Não tô não!

Ele tentou me pegar no colo, mas não conseguiu. E tentou de novo. E mais uma vez. Ele já estava ficando até roxo de tentar me levantar.

- Isso é mais constrangedor pra mim do que pra você, acredite - ele disse.

- Não é constrangedor pra mim. Você tem noção do meu peso. Se acha que não consegue, então... Tá fraquinho.

- Calma, eu vou conseguir. - Na sétima tentativa (sim, eu contei), ele conseguiu. - Falei! Te falei! Ah, agora tem que atravessar a rua...

- Quer me colocar no chão e aí nós vamos civilizadamente até o seu carro?

- É, eu acho que é melhor. - Ele me soltou e tentou pegar na minha mão, mas eu não deixei. - O que foi agora? - Ele parou, com as mãos na cintura.

- Não tô totalmente de boa com você ainda, cara. - Repeti sua pose. - Vai depender do lugar onde vai me levar. Aí eu decido se eu tô de boa de novo ou não.

- O que eu não faço por você, menina.

Nós entramos no carro do Chris e eu pude ver os meninos saindo da casa dele. Mandei o dedo do meio pra eles. David Porra me olhou ofendido e eu lhe mandei um beijo.

- Não foi pra você esse dedo, David. Foi pros filhos da puta dos seus amigos! Beijo, David. Fala pra tia Josie que eu volto... algum dia.

- O QUE? LYRA, AONDE VOCÊ VAI?

- NÃO SEI. Tchau!

- Ah, tá. Tchau. Use camisinha! - Mandei o dedo do meio.

- E esse dedo foi pra você!

Chris ligou o rádio e começou a dirigir. Ele colocou uns óculos de sol e eu fiquei tipo "Da onde ele tirou essa porra?".

- Ah, eu também queria.

- Acho que eu tenho mais um no porta-luvas. Pega aí.

- Ah, tá, deixa eu ver.

Abri o porta-luvas e tinha muitas coisas. Perfume, mais perfume, muito perfume mesmo, papéis... uma calcinha... O que? Ai, Jesus, pra onde esse menino tá me levando? Ele tá pensando o que? Não sou as nega dele não! O encarei e ele me encarou de volta, sorrindo em seguida.

- Encontrou?

- Ah, não.

- Calma. - Quando o sinal ficou vermelho, ele procurou. Ele pegou a calcinha e, achando que eu não tinha visto, a jogou pro banco de trás do carro. - Aqui. - Me entregou.

- Valeu. Ó, gostei. Ficou bom, né não? - O encarei.

- Calma, deixa eu ver. - Ele se aproximou e me beijou. - Tá linda.

O sinal ficou verde e ele voltou a dirigir. Depois de um certo tempo, ele colocou a mão na minha coxa. Ai Jesus, Deus, Alá, Ganesha, Papai Noel... Gente, me helpa! Eu tô praticamente sendo estuprada dentro desse carro! Por que eu aceitei sair com ele mesmo? Eu não sei! Você é muito burra, Lyra! Fiquei meio paralisada e a hora que voltei pro "mundo real", eu tirei a mão dele e me encolhi, fazendo-o rir. PULIÇA, ME AJUDA. CADÊ AS PULIÇA NA HORA QUE A GENTE PRECISA? É pedófilo! Tá na cara!

- Chris... Eu acho que quero voltar pra casa.

- Agora não adianta mais. Já estamos muito longe.

- Chris, eu quero voltar pra casa.

- Ah, Lyra, não! A gente já tá chegando. Você vai gostar. Prometo.

- Não, não vou gostar.

- Vai gostar sim. Eu vou fazer você gostar.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAH, MINHA NOSSA SENHORAAAAAA. Nunca fui muito religiosa, mas eu comecei a rezar baixinho. Já tava quase chorando. Só faltava pegar um papel, escrever "HELP ME" e colar no vidro do carro. Olhei pra baixo e minha blusa estava revelando um pouquinho dos meus seios maravilhosamente maravilhosos. E, do nada, eu senti uma vontade enorme de cobrir meu corpo.

- Você tem uma jaqueta aí? Eu tô com frio.

- Está um calor escaldante de 37ºC graus e você quer uma jaqueta? Lyra, se toca!

- NÃO POSSO NEM TER FRIO AGORA? O QUE É ISSO? TÁ ME REPREENDENDO? O SEU CALOR PODE SER O MEU FRIO E O MEU CALOR PODE SER O SEU FRIO, OK?

- AI, TÁ TÁ. TOMA. - Ele me jogou uma jaqueta jeans. - MORRE ASSADA AÍ, FODA-SE.

ELE QUER QUE EU MORRAAAAAA. Eu estou dizendo, esse menino tá muito sinistro. Tá pior que o Moon. Peguei a jaqueta e me cobri. Deu uma vontade de dormir, mas eu não posso! Não! Se eu dormir, ele me estuprará dormindo, o que será pior, porque eu nem terei a oportunidade de dar um soco no nariz dele! Porque, tipo, ok, ele é gato, mas aquele nariz... Dá dó. Tem que consertar. E o melhor é consertar com um soco. Esse é o melhor jeito.

Resolvi mandar uma mensagem pro David Porra.

"Se eu não voltar até amanhã, por favor, me rastreie, pois estarei morta. Acho que Chris é pedófilo ou psicopata e sinto que irá me matar. Beijos, David Porra/Dora Aventureira. Te amo (só como primo, não confunde as coisas). Se eu sobreviver... eu nunca disse essa última frase, ok?".

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