Capítulo 40

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É hoje. Sim. Tem que ser hoje. Amanhã não pode. Hoje. Amanhã não vai dar mais. Na verdade dá sim, porque eles só vão embora às 15:00 e eu vou às 16:00. Não. Hoje. Hoje irei fazer tudo que precisarei fazer para me reconciliar com David Porra.

- Oi Lyra - David disse.

É a sua hora, garota. Vai lá. Vai lá vai vai vai vai vai. Não vai não.

- Oi.

Essa foi apenas uma oportunidade que você perdeu. Sem problemas, garota. A derrota de hoje é a vitória de amanhã.

Minha tia entregou uma lista de supermercado para David Porra e pediu que mais alguém fosse com ele. Eu resolvi me voluntariar.

- Você? - ele perguntou. - Desde quando você faz as coisas que a tia pede por pura e espontânea vontade?

- Ah, é que... Você não tem muita noção assim de comidas e... Você assim sei lá... - Nossa, cara, tô nervosa. - Você... Na verdade, eu só queria dirigir mais um pouco o carro da tia Josie. E essa seria a única oportunidade.

- Ah, tá. Vou me trocar, espera aí.

Tá. Tem que ser agora. Carro. Você e David. Banco de trás. Sexo selvagem. Não! Carro. Você e David. Conversa furada. Declaração. Beijo. Banco de trás. Sexo não muito selvagem.

Entramos no carro e o clima logo ficou pesado. Resolvi colocar uma musiquinha no rádio, pra dar aquele clima, né? Aquele tchan. E iniciamos uma conversa sobre flores. Já tô na parte da conversa furada. Hora da declaração. Acho melhor eu esperar a gente voltar do supermercado, é. Não. Melhor nada, vai ser agora mermo!

- David, posso te fazer uma pergunta séria?

- Não.

- Tá, mas eu vou fazer mesmo assim. É, naqueles dias emocionantes lá das nossas vidas em que a gente tava se pegando... É, você por um acaso começou a gostar de mim? Assim, mais ou menos?

- Comecei. Por que?

- Porque eu acho que eu estou meio que muito a fim de você, meio que gostando de você.

- Ahn. Que pena.

- Pena por que?

- Porque eu não gosto mais de você.

Olha o coice. Nossassinhora. Senti. Senti forte. E a vergonha começou a surgir. Acho que eu virei um tomate de tão vermelha.

Depois dessa vergonha eu resolvi não abrir mais a boca. Era o melhor que tínhamos a fazer. Comprei tudo calada mesmo, e ele nem fez esforço pra manter uma conversa. Filho da puta.

Voltamos pra casa da tia Josie e eu tive que passar a tarde inteira arrumando tudo pra festa. Eu nem queria essa merda, mas ok. Minha tia chamou o Chris, então eu estou indo na casa dele agora para desconvida-lo. Toquei a campainha e o pai dele logo atendeu.

- CHRIS, É PRA VOCÊ! Oi, Lyra.

- Oi. - Chris desceu a escada. - Oi, Chris. É que... Eu preciso conversar com você.

- Ah, tudo bem. É porque você vai embora, não é? Olha, eu sei que você mora um pouquinho longe daqui, mas eu acho que se a gente tentasse...

- Não. Eu quero acabar tudo agora. Porque eu não gosto de você. Eu gosto de alguém, mas percebi que não é de você. Enfim... Eu só queria... Pedir desculpas e eu não sei como terminar isso aqui agora...

- Pode ser só um tchau.

- É? Então... Tchau, até mais.

- Até. - Antes de ele fechar a porta, ele sussurrou: - Desgraçada.

Como assim? É tão fácil acabar as coisas, que emoção. Foi até legal. Mentira, não foi não. Depois do fora que eu ganhei do David, nada mais está legal.

Agora o que me resta é aproveitar a festa. Eu vou me entupir de comida e ser feliz.

Tá, cansei de me entupir de comida. Eu não sei quem é essa gente, e não sei porque minha tia os chamou aqui, mas tá tudo bem, tá tudo legal. Acho que eu vou dormir mesmo. É, seria bom. Vou acordar cedo amanhã para arrumar minha mala.

***

- Lyra, querida, acorde, vamos levar o seu primo na rodoviária.

- Que? Mas eles só vão às 3 da tarde.

- Não. - Ela riu. - Eles vão agora. 3 da manhã.

- Eita.

Levantei, coloquei umas pantufas e desci. Fui no banco da frente mesmo, deixa eles se enfiarem lá atrás. Eu não sou obrigada a nada, não é mesmo? É.

Chegamos na rodoviária e o negócio tava super lotado, com um monte de bêbado dormindo. Não me distanciei muito do carro, o máximo que eu andaria seriam dois metros. Abracei os meninos, dei tchauzinho, falei que adorei esses dois meses com eles. Bem falsa mesmo.

Na hora de dar tchau pro David foi uma bosta. Simplesmente uma bosta. Eu me virei para entrar no carro e ele me chamou.

- Lyra!

- Oi!

Pensei logo na cena de nós dois nos beijando e ele dizendo que me adora e eu dizendo que também adoro ele e tals e muita emoção e ele me girando no ar...

- Tinha uma pulseira sua jogada no meu colchão. Deixei na parte do lado da sua mala.

- Ah, ok. Obrigada.

- Tchau. Até mais.

- Até.

Esperanças? Eu tinha. Tinha sim. Não nego. Mas não tenho mais. Foi difícil, não foi fácil.

Voltei pra casa da minha tia e me joguei no sofá, para retornar ao meu sono da beleza.

- Boa noite, querida... Sentirei falta deles... de você...

- É. Eu também, tia.

Meu celular vibrou. Era uma mensagem do David.

"Era eu quem te mandava as cartas... E eu ainda gosto de você sim".

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