Capítulo 39

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- Ok, isso pode doer um pouquinho - o tatuador-ou-sei-lá-o-que-que-iria-me-furar disse.

- Relaxa, moço, tô numa boa.

- Posso furar então?

- Pode. Não. Pode. Não, espera.

- Eu espero o tempo que for... É, não literalmente, porque daqui a pouco eu tenho que tatuar aquele homem ali. - Ele acenou com a cabeça para o homem sentado.

- Ah moço, eu estou numa emoção aqui, espera um pouquinho só.

Enquanto ele preparava tudo para poder fazer o piercing, não sei por qual motivo, mas eu pensei no David Porra. E na cagada que eu fiz. Poxa, a culpa não é minha que o menino é sensível. Eu tinha avisado pra ele que não era nada sério, e ele também deveria imaginar, já que eu peguei o Chris e o Greg também. E quase o Nathan. Longa história.

- Vou furar, ok? Pode prender a respiração, se quiser.

- Tá. Moço, posso te perguntar uma coisa? - Ele assentiu. - Você já fez uma merda na sua vida e essa merda envolvia uma pessoa que gostava muito de você e que sofreu com isso?

- Ah, não lembro. Minha vida não é muito cheia de emoções. Mas se você fez essa merda... Acho que deveria tentar conserta-la.

Vou pedir desculpas pro David. É. Ele vai me mandar tomar no cu, mas tudo bem. Porque eu vou embora daqui alguns dias mesmo, e eu não ligo muito de ficar nesse climão com ele, mas mesmo assim... é o certo a se fazer. Ele era legal... antes de eu estragar tudo. Lyra você se superou hein.

Voltei pra casa a pé. Bom, eu tinha ido a pé também, então... Ninguém quis me levar pra fazer o piercing. Quero que venham me pedir algo. Deixa! Qualquer coisa! Lyra, você pode... NÃO, NÃO POSSO!

Abri a porta e encontrei Nathan, Greg e Alex na sala, assistindo jogo de basquete.

- Oi... Vaca? - Greg falou, assim que me viu. - Coisa feia, mano, tira isso.

- Ah, vai te catar!

- Na verdade... Eu gostei. Tá bonita, Lyra - Alex disse.

- Obrigada, Alex.

- Tem uma carta pra você. Acho que é daquele admirador.

- Que admirador? - Nathan perguntou.

- Ninguém. Não é ninguém. Oi tia!

Ela havia surgido de não sei onde, com um balde de pipoca nas mãos.

- VOCÊ FEZ ESSA DESGRAÇA DESSE PIERCING MESMO DEPOIS DE EU TER PROIBIDO! TIRA ISSO! AGORA!

- Não. Paguei caro nele. Legal, né? Olha, se eu mexer meu nariz, eu consigo mover o pier... Ai! Doeu.

A campainha tocou e eu fui atender, com a mão no nariz. Era Chris.

- Levou um soco?

- Não. Fiz o piercing. Olha.

- Não gosto muito de piercings.

- Você tem um na teta!

- Mamilo - ele corrigiu. - Porra, eu queria parecer boa pessoa perto da sua tia.

- Você não é boa pessoa? - Ela surgiu do nada. - E tem um piercing no biquinho? Jesus. Você tá perdida, menina. Fica namorando essas coisas aí.

- Vocês estão namorando? - Nathan perguntou.

- Ah, cala a boca... - Nesse momento, David Porra começou a a escada. - David! Preciso falar com você!

- Ah, me erra, mano! - Ele subiu de novo.

- O que está acontecendo aqui? - Harry perguntou, brotando do nada também.

Deixei Chris lá na sala conversando com
Harry e subi para o sótão, onde eu sabia que a Dora Aventureira estaria. E ele não estava lá não. Mas estava no banheiro, porque a porta tava trancada. Deitei no colchão dele e peguei seu travesseiro. Cheiro de menino. Lembrei do dia que eu fiquei abraçada com ele aqui, o mesmo cheiro...

- Por que está na minha cama?

- Eu... Quero te contar uma piada. - Ele me olhou de um jeito engraçado e em seguida balançou a cabeça, indicando para eu começar.

- Tinha uma família. Um pai, uma mãe, um filho e um cachorro. A mãe foi falar com o filho. "Filho, vamos no Mc?" e ele disse "É Mc Donald's", aí ela bateu nele e disse "Não me corrige". Aí o pai dele apareceu "Filho, vamos no BK?" "Pai, é Burguer King", o pai bateu nele e disse "Não me corrige". Aí apareceu o gato...

- Cachorro, sua anta - ele me interrompeu.

- Não me corrige. - Dei um tapa na testa dele.

Esperei que ele risse. Esperei mais um pouco. Não riu. Bosta. Essa piada sempre dá certo. Por que ele não riu? Ele só ficou me encarando.

- Essa piada era só um pretexto pra você me dar um tapa?

- Não! Na verdade... eu não vim aqui pra isso... Eu preciso conversar com você. Sérião. Tipo, é uma coisa muito muito muito séria.

- Cê vai falar ou eu vou ter que adivinhar?

- Quero te pedir desculpa, por ter feito tudo o que fiz com você.

- Beleza.

- Você me perdoa?

- Sim. Agora você já pode voltar lá pro Chris.

Me levantei e o abracei. Ele não abraçou de volta nos primeiros segundos, mas depois acabou cedendo.

- Eu não quero que fique bravo comigo nesses últimos dias.

- Já pode me soltar.

- David...

- Eu já aceitei suas desculpas. Só não quero mais nada com você.

Desci, um pouco triste. Isso que dá você ser uma boa pessoa. Só. Se. Fode. Ele não tem consideração por mim! Menino escroto do caramba! Idiota!

Minha tia estava sentada na mesa de jantar, ligando pra alguém. Harry e Johnny estavam sentados com ela, Alex e Greg estavam vendo TV ainda e Chris estava conversando com Nathan. Sentei na poltrona e encarei no tapete.

- Lyra? O que foi?

- Ah, nada, Chris. Desculpa ter sumido. Mas... O que veio fazer aqui mesmo?

- Ah, é que eu não tinha nada pra fazer em casa e... queria te ver. Você quer sair pra algum lugar? - Neguei com a cabeça. - Posso ficar aqui com você então?

- Claro. O que minha tia está fazendo?

- Resolvendo as coisas de uma tal festa - Nathan respondeu. - Deixa eu voltar a ver o jogo aqui.

Ah, essa festa. Eu vou me reconciliar com o David até lá. Eu preciso. E pra isso, tenho que ter um plano. E a primeira parte dele é: enxotar o Chris. Como farei isso eu não sei. Bom, acho que vou jogar a real pra ele. "Chris, é o seguinte, cara: eu descobri umas coisa recém-descobertas aí e essas coisa são bem loca... Eu tô gostando do David Porra". PEGADINHA! Não, não é pegadinha. Infelizmente.

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