A Pequena Sereia

Tempestade - Parte II [Eric]

Em meio ao sacolejo do navio a minha estátua-sósia é lançada ao mar.

Estou tentando esconder a felicidade que me invade quando uma onda enorme golpeia o navio e carrega o marinheiro Darwin.

Eu e metade da tripulação corremos para a amurada e nos debruçamos para tentar ajudá-lo. O pobre homem se debate e engasga com a água salgada.

__Darwin__grito__use a escada de corda!

Ele para de se debater e nada, ou melhor, tenta nadar até a escada.
O vento forte, as ondas enormes e a chuva espessa não facilitam as coisas.

__Vamos Darwin!__grita outro marinheiro__você consegue!

Mais homens gritam incentivos para Darwin. Até mesmo Marco, que até então estava amedrontado em sua cabine, se junta aos marinheiros.

Max se encontra encolhido dentro de um barril. Seu pelo branco e cinza está molhado pela chuva e ele treme incontrolávelmente.
Eu não estou muito melhor: fiquei encharcado da cabeça aos pés e meus dentes batem de frio.

Darwin está quase chegando até a escada, quando vejo, abaixo da água, uma forma negra se aproximar.
De repente, o rosto dele se contorce em uma careta de espanto e ele afunda no mar.

__Darwin!!__gritamos, mas ele não volta.

__Oh céus!__lamenta Marco.

Fico atônito, sem saber ao certo o que aconteceu.
Todos os outros tripulantes também estão confusos.

Então, sem o menor aviso, Max salta de seu barril e para no centro do navio.
Seus olhinhos estão bem abertos e as orelhas levantadas.
Ele está escutando alguma coisa.

__Max...?__chamo, mas ele nem olhou para mim.
Começa a latir sem parar e correr pelo navio, contornando a amurada, como se perseguisse algo. Atropelando qualquer um que estiver em seu caminho.

__Max! Pare já com isso!!__grito mas ele continua correndo.

Há barris e caixas de madeira perto da amurada e estão organizadas de maneira a formar uma escada perfeita para Max subir. E é exatamente isso que ele faz.

Por um segundo, penso que o meu cachorro de estimação vai saltar para o mar.
Mas ele apenas para no topo das caixas e fica latindo para as águas turbulentas.

Suspiro aliviado.
Perder minha estátua é aceitável, mas o meu cachorro não!

Corro até Max. Seguro sua coleira firmemente e tento tirá-lo dali, pois ainda há o risco de ele escorregar e cair.

Porém, o cão continua latindo.

Então tento identificar para o que Max está latindo.

Há um forma escura se aproximando rapidamente do navio, igual a que vi antes de Darwin desaparecer.

Alguns marinheiros que haviam notado o estranho comportamento de Max, também voltam seus olhos para o mar.

Entre as ondas, a forma emerge revelando uma mulher morena com um rosto fino e olhos amendoados...
Ela é belíssima.

Ouço vários homens suspirarem:

__Oh, como é linda!

__A mais bela que eu já vi!__exclama um membro da realeza.

__Eu morri e fui para o céu!__grita um sujeito gorducho.

__Parece um anjo!__eu tenho que concordar.

__Anjo é pouco...__dizem alguns marinheiros.

__Olhem! Tem mais ali!__fala Marco apontando para o mar.