Olhos de Sereia

488 17 0
                                    

Está frio quando chego nadando rapidamente ao grande Museu de História Marinha de Atlantis.

Lembro que minha mãe dizia que o Museu existe desde a criação de Atlantis e que muitos  dos momentos da história do oceano foram registrados em tinta por talentosos pintores.

Algumas crianças estão sentadas no vão que se abre para a entrada da gigantesca construção prateada.
Elas balançam suas caudas escamosas com agitação enquanto conversam sobre o que quer que tenham visto lá dentro.

Estou sozinha pois, assim que chegamos a Atlantis, Linguado declarou que estava morrendo de fome e foi para o salão de banquetes, já Sebastião foi abordado por um mensageiro do rei. O simpático cavalo-marinho de cor alaranjada disse que o rei Tritão convocava a presença de Sebastião imediatamente.

O siri então se foi depois de me lançar um olhar de advertência com uma pitada de nervosismo.
Portanto, tive que vir sozinha ao Museu.
O que é algo bom, já que não contei a ninguém sobre a semelhança entre os belos olhos azuis de Eric e os olhos da criatura marinha de minhas lembranças.

Entro no Museu movendo cautelosamente minha cauda, evitando derrubar alguma coisa.

Mas não tenho sorte.

Meu cabelo se enrosca em um grande vaso verde adornado com pérolas que está pousado sobre uma coluna dourada.

Não percebo e continuo nadando, mas o vaso cai da coluna e flutua para baixo, puxado meu cabelo junto.

Na tentativa desesperada de soltar meu cabelo, acabo empurrando a peça que desce com mais rapidez para o fundo.
Na certa, irá se estilhaçar contra as conchas que decoram o chão abaixo.

Tento pegá-lo mas não sou rápida o suficiente.

Então duas mãos surgem e agarram o vaso antes que ele se choque com o fundo.

Na confusão de bolhas, vislumbro mechas esvoaçantes de um cabelo preto.

__Cuidado!!__diz a sereia__Este vaso pertenceu ao meu tataravô...ah...foi você, Ariel?

As bolhas diminuem e posso ver a sereia com mais nitidez.

É minha irmã, Adella.
Depois de Attina, ela é a mais velha, com 19 anos.

Ela nada em minha direção, movendo a cauda amarelo- esverdeada.
Adella sempre teve preferência por usar seu cabelo preso com delicadas pérolas brancas. Imagino que se ela o soltasse, seria maior e mais belo que o meu.

__Desculpe, Adella__ digo apontando para minha cabeça__ Acho que esse vaso acabou enroscando em meu cabelo.

Ela faz uma careta: __ Você consegue ser mais desastrada do que eu?!?

__ Não!!De jeito nenhum!__ intervém uma voz atrás de nós.

Nos viramos e vemos Aristta, a terceira filha de Tritão. Ela trás consigo um grande livro com a capa azulada.

__Ninguém consegue ser mais desastrada do que você, Adella! Nem mesmo Ariel.__ diz a sereia.

Sorrio para Adella que ficou tão vermelha quanto a cauda de Aristta.

__Ora, mas que insulto!__ fala Adella balançando a cauda tão rapidamente que quase derruba a pilha de livros mais próxima.__ Até parece que eu sou assim tão desastrada...

__Alguém viu Attina?__ interrompe Aristta gesticulando para o seu livro.

Isso me faz lembrar os livros que os humanos fazem.
Não sei qual o tipo de material que eles usam em suas confecções mas tenho certeza de que não é algo que dure por muito tempo debaixo d'água.

A Pequena SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora