O Traidor

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Eu acabo de colocar a última concha dourada ao redor da estátua do príncipe Eric quando ouço um barulho atrás de mim.

Olho em volta e vejo Linguado entrando na gruta.

__ Ariel__ diz ele__ Você precisa sair daí!

Balanço a cabeça.

__ Eu sei, eu sei, já vou sair…

__ Falei sério! Estão começando a desconfiar dos seus sumiços constan... Ei, o que está fazendo?__ pergunta ele ao ver a decoração que fiz na estátua.

Elevo-me na água e analiso minha obra de arte, satisfeita com o resultado. O brilho dos meus tesouros se une aos raios de sol que batem na água e iluminam as conchas e pérolas que coloquei na estátua, criando uma visão tão bela tenho vontade de chorar.

__ Estou dando a ele uma decoração digna de realeza, afinal ele é um príncipe__ respondo orgulhosa e apaixonada.

__ É só uma estátua.__ rebate Linguado cortando meu pensamentos como uma lança de dois gumes.

Aperto as bochechas dele, só para irritá-lo. Sei que ele odeia isso.

__ Você pode me deixar sonhar um pouco, por favor?__ pergunto com tom melancólico.

__ Tudo bem, mas me solte__ grita o peixe, então eu o solto e ele massageia as bochechas com uma careta zangada e fofa__ Mas você tem que parar de ficar tanto tempo aqui. Ouvi suas irmãs cochichando sobre você.

__ Elas não sabem de nada__ digo abanando a mão com descaso__ Os únicos que sabem desse lugar somos eu, você e Sebastião.

__ Sebastião é muito medroso para contar…__ afirma Linguado.

__ E você? Vai contar?__ indago fingindo que estou desconfiada.

__ EU?? Nunca! Nunquinha!!__exclama ele fazendo outra careta fofa e tenho que me segurar para não apertar suas bochechas de novo.

__ Promessa de mexilhão?__ pergunto estendendo a mão

__ Promessa de mexilhão!__ Linguado bate sua nadadeira azul na minha e sorrimos um para o outro.

Meu amigo inspeciona minha decoração e até dá alguns retoques em lugares estratégicos  que deixam o príncipe ainda mais bonito.

Fico lembrando a mim mesma o tempo todo que é só uma estátua de pedra, mas a imagem de Eric sempre volta a minha mente, enchendo- me de sonhos e expectativas.

__Ariel, como você consegue ficar aqui por tanto tempo?!?__ bufa Linguado__ Estou morrendo de fome!

Depois de algumas centenas de reclamações, Linguado resolve ir ao salão de banquetes. Aproveito e peço a ele que me traga um sanduíche de pepino do mar.

__ Tudo bem__ diz ele indo em direção à pedra que bloqueia a saída da gruta__ Mas você vai ficar me devendo um favor.

Solto uma gargalhada

__ Você vai acabar esquecendo como todas as outras vezes!!!__ digo contendo o riso.

__ Não vou não__ responde ele ainda de costas para mim __ …AAAAHHHHH!!!!

Viro-me rapidamente para ver por que Linguado havia gritado daquele jeito.
Vejo que tem alguém na entrada da gruta.

__ Mas o que….?__ Antes que eu termine a frase, a criatura sai das sombras da gruta e entra na luz, e então posso vê-lo.
É o rei Tritão, meu pai.

Engulo em seco.
Como ele descobriu? Provavelmente alguém contou, mas quem?
Linguado não faria isso, então só pode ter sido…

De repente uma criatura pequena e vermelha aparece no chão ao lado do meu pai: Sebastião.

A Pequena SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora