Humana - Parte II

197 13 0
                                    


__ AHHH!! Que horror!!__ grita Aristta ao ver meus novos dedos se mexerem__ Quem fez isso com você, minha pobre irmãzinha?

__ Foi a bruxa do mar!__ responde Sebastião.

__ Então vamos lá bater nela até ela devolver a cauda de Ariel!__ Ela ergue os punhos.

Balanço a cabeça de forma negativa.

__ Não? Prefere que eu chame o papai então?__ ela pergunta olhando nos meus olhos.

Balanço a cabeça com tanta rapidez que meu pescoço dói. Aristta olha para Sebastião.

__ O que houve com ela? Porque não está falando?

__ AHHHHHHHHH! Foi tudo culpa minha__ lamenta Sebastião subindo em uma pequena rocha ao lado de Aristta__ Eu sou o pior guarda-costas dos Sete Mares!!!

__ Úrsula pegou a voz dela.__ diz Linguado.

__ O que? Mas como?__ exclama Aristta tirando os cabelos do rosto com uma das mãos.

Mas como ele sabia disso?
Olho para Linguado exigindo respostas também.

__ Sebastião e eu seguimos você enquanto as enguias te levavam para Octobia__ responde Linguado notando meu olhar.

__ Os monstros gigantes de Úrsula?!? Você esteve em Octobia?!?!__ Aristta arregala os olhos para mim e, pela primeira vez desde que perdi minha voz, agradeço por não poder falar.

__ AAAAHHHHHHHHHHHHH!!!__ Sebastião choraminga.

__ Nós vimos tudo o que aconteceu lá em Octobia__ continua Linguado.__ Como a rainha pegou a sua voz e quando mandou aquelas enguias horrorosas trazerem você para cá. Também vimos quando engoliu a pedra verde e virou humana…

__ Quando vimos você se debatendo lá em baixo, eu corri para pedir ajuda__ acrescenta Sebastião.

__ Na verdade você estava tendo um ataque de pânico__ interrompe Aristta__ Eu voltava da minha visita à Lulídea, quando trombei com esses dois desesperados. Aí eu vi você tentando nadar até a superfície com essas… coisas__ ela aponta para minhas novas pernas com uma expressão que não consigo decifrar.

__Ariel__ diz Linguado olhando para mim com uma mistura de pena e medo__ Você seguiu as instruções de Úrsula e acabou se tornando humana debaixo d'água.

Dou de ombros. Não vejo o porquê da preocupação.

__ Eu tenho certeza__ prossegue Linguado__ de que aquela bruxa sabia que humanos não conseguem respirar dentro da água.

Aristta sacode a cauda, espirrando água para todos os lados:

__ Oh, Ariel!! Ela tentou matar você!!

Paro para pensar um pouco.
Pode ser verdade. Isso explicaria a risada perversa que escutei antes de sair de Octobia.
Mas… se Úrsula queria mesmo me matar, por que não fez isso lá mesmo ao invés de me transformar em humana?

__AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!!__ Sebastião lamenta batendo as garras na própria testa__ Maldita seja aquela mulher-polvo asquerosa. Quando o rei de Atlantis souber disso… Ela sofrerá as consequências!!!

Antes que ele pule na água eu o alcanço com as mãos e acidentalmente derrubo Aristta na água. Sebastião olha para mim com uma carranca e balanço a cabeça para ele com minha melhor expressão de "por favor, não conte ao meu pai que virei uma humana" acompanhada de um beiçinho irresistível que demorei muito tempo para aperfeiçoar.

__ Mas isso é uma coisa horrível. Tritão precisa saber...

__ Espere um pouco…Ariel tem razão.__ declara Aristta para a minha alegria.

__ O QUE?!?

__ Nosso pai não pode saber.

__ Ah é?!? E quando ele for procurar a filha mais nova dele e não a encontrar, hein? O que vamos dizer a ele?

Aristta começa a esfregar as mãos como sempre faz quando está tentando lembrar de alguma coisa.

__ Linguado, você disse que Ariel engoliu uma pedra verde, não foi?

__ Sim.__ responde ele__Mas o que isso tem a ver com…

__ Adella disse alguma coisa sobre pedras verdes serem magia negra.__ explica ela.

Lembro-me que Adella, das quatro irmãs, sempre foi a mais fascinada por magia. Ela é capaz de identificar qualquer feitiço.

__ E o que mais ela disse?__ Linguado pergunta por mim.

Aristta fecha os olhos e põe as mãos na cabeça. A luz do sol em seu cabelo, o faz parecer quase branco.

__ Eu não lembro… Era alguma coisa sobre durar pouco tempo…

Durar pouco tempo?
Então não vou ser humana para sempre?
Solto um suspiro e mexo os dedos dos pés para me tranquilizar.

__ Então Ariel não vai ficar assim para sempre?__ pergunta o siri, animando-se.

__ Acho que ela vai voltar a ser sereia. Mas Adella sabe mais sobre magia do que eu. Já sei, vou chamá-la. Não saia daí, Ariel! Isso é uma ordem.

Aristta mergulha antes que eu possa impedi-la.
Torço para que Aristta esteja errada. Eu não posso voltar a ser sereia agora. Ainda nem conheci Eric pessoalmente.

Decidida a não desperdiçar tempo, tento me levantar.

__ O que está fazendo?!__ Pergunta Sebastião estalando as garras para mim.

Eu o ignoro e depois de algumas tentativas desengonçadas, consigo ficar em pé. A sensação é maravilhosa.

__ Legaaaal__ Linguado sorri.

Mas não se passa nem dois segundos e já perco o equilíbrio.
Caio na água com um estrondo, ao som das risadas de Linguado e dos gritos histéricos de Sebastião.

Mas um som diferente interrompe o momento. E eu tenho certeza de que já ouvi esse som antes. São latidos de um cão.

Então eu o vejo e um sorriso toma conta de meus lábios. Max, o cachorro cinza e branco vem correndo na minha direção, latindo e pulando.

__ De onde veio essa fera monstruosa?__ Sebastião exclama mantendo distância.

O cachorro me alcança e me presenteia com várias lambidas no rosto.
Espere…se Max está aqui então…

__ Eric!__ chama uma voz grave.

__ Rápido, escondam-se__ susurra o siri.

Linguado mergulha rapidamente mas Sebastião, ao invés de fazer o mesmo que o peixe listrado, pula direto para o pedaço de vela que estou usando e se esconde ali.

Max volta correndo para onde veio. Olho para o lado e avisto o príncipe Eric tropeçando em algumas pedras.

Da última vez que o vi, ele estava meio desacordado. Mas agora seus olhos azuis lindos reluzem com o brilho do sol.
Por alguns instantes, recordo da semelhança entre os olhos dele e os da rainha Fluídia, mas depois de se equilibrar, o príncipe me vê e sinto o coração acelerar.

__ Oh não, o humano viu você, Ariel.__ engasga Sebastião.

Mas eu não lhe dou atenção.
Eric está vestindo roupas simples e vendo seu maravilhoso cabelo preto esvoaçante, chego a conclusão de que é impossível ele ficar mais belo do que já é.

O vento faz meu cabelo, que a essa altura não estava mais molhado, voar cobrindo meu rosto, bloqueando minha visão magnífica.
Eu o afasto furiosamente e deparo-me com o príncipe sorrindo para mim.
Alguma coisa derrete dentro do meu peito. Provavelmente meu coração.

A Pequena SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora