A Mais Bela das Vozes

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Ver todos esses marinheiros sendo levados para as profundezas do oceano e devorados, me faz lembrar o motivo pelo qual o reino de Carniverus se tornou inimigo de Atlantis:

Antigamente, na Era em que os Sete Reinos estavam sendo formados, todos os carnivoris conviviam conosco em perfeita harmonia. As sereias e tritões não aprovavam a dieta rica em carne dos parentes dos tubarões, mas os aceitavam como iguais.

Até que um dia, Fluidia, a primeira rainha de Atlantis, ouviu boatos de que os humanos estavam matando sereias que, acidentalmente, "caiam" em suas redes de pesca.

Furiosa e ao mesmo tempo confusa, ela decidiu averiguar a situação, pois jamais uma criatura do mar fizera mal aos humanos, não havia motivos para eles agirem dessa maneira com as sereias.

Então, ela descobriu que os carnivoris estavam atacando os humanos de forma brutal. E os humanos, por sua vez, atacavam as sereias, pois seu pobre conhecimento sobre o povo do mar resumia-se apenas a mulheres metade peixe que seduziam os homens com seu canto mágico e os afogavam.

Horrorizados com as ações dos carnivoris, as sereias e os tritões não quiseram mais tratá-los como iguais e se recusaram a conviver no mesmo lugar que eles.
Os tubarões, sob a mira do poderoso cetro de madrepérolas de Fluidia, foram obrigados a se retirar.
Surgiu um líder entre eles, chamado Kael, que formou o próprio reino: Carniverus.
Eles tentaram tomar Atlantis mas Fluidia formou um exército com o povo do mar para lutar contra eles.
Os Tubarões perderam a guerra vergonhosamente, embora fossem muito fortes e poderosos.
Desde então, os carnivoris vivem esperando uma oportunidade para vingar-se de Atlantis.

A rainha Fluidia tentou dialogar com os humanos, mas algo muito ruim aconteceu e eles passaram a nos odiar. Até hoje, continuam sem entender a diferença entre os carnivoris e nós.

Mas, agora, vendo a crueldade com que estão sendo atacados, consigo imaginar porque não gostam dos seres do mar.

Fico distante porque não quero ser notada. Não há como saber o que eles fariam comigo se me vissem.

Então acontece. Todos eles...Eles não! Elas. Todas elas emergem somente a parte de cima. Estão sorrindo para os homens... Estão cantando!!

Isso é muito ruim! O canto de uma carnivori é perigoso para ouvidos humanos.

Então eu compreendo. Isto é uma caçada. É exatamente assim que os carnivoris fazem.

Procuro desesperadamente por Eric, mas não o avisto no meio do amultuado de marinheiros.

O vento furioso agita o mar, encobrindo minha aproximação e ao mesmo tempo tornando-a mais difícil.

Perdi Sebastião e Linguado de vista. Espero que estejam bem.

Com muito cuidado para não ser notada, nado para mais perto do navio.

Vejo Eric andando próximo a amurada e aparentemente o encanto das carnivoris já o afetou.

Começo a ficar preocupada quando o cachorro de estimação do príncipe surge de lugar nenhum e milagrosamente consegue "arrancar" Eric de seu transe. Suspiro, aliviada.

O príncipe parece estar notando a situação.

Se ao menos ele soubesse o perigo que está correndo!

Mal termino de pensar e uma onda gigante atinge o navio e o faz tombar para um lado.

Mas nem assim os marinheiros saem do transe.

Aproximo-me mais ainda com os olhos grudados em Eric. Ele parece desesperado ao ver seu capitão ser levado por uma carnivori.

Pelo canto do olho, vejo um pontinho amarelo sendo arrastado violentamente pelas ondas.
Linguado.

A Pequena SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora