O Eduardo

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          Ele é novo na escola, só que a gente tem uma história. Não, não é uma história com final feliz, não. É o seguinte: eu o conheci agora nas férias, no final do ano passado, em um curso de inglês que minha mãe me forçou a fazer. Quando eu o vi lá, me apaixonei de cara por ele, mais pelo charme do que por beleza, porque o cara tem uma voz, uma conversa, que, putz!, derrete qualquer mulher. Acho que é porque ele tem uma autoconfiança, uma naturalidade de agir, que encantam. Pois não é que ele sentou justo do meu lado no curso? E foi logo puxando conversa... Comigo! Assim, como se me conhecesse há séculos. Eu fiquei chocada!
          Continuamos nos conhecendo durante a primeira semana do curso, eu não vendo a hora de ele pedir para ficar comigo, mas nada acontecia. O pior era que o sujeito ia comigo para a parada de ônibus todos os dias, levava minha mochila, passava a mão pelo meu ombro ou pela minha cintura, mas não fazia menção de me beijar. Para piorar, passávamos pouquíssimo tempo na parada, era só chegarmos que o ônibus dele passava, então eu aproveitava o que podia enquanto chegávamos lá. Ele sempre pegava primeiro do que eu, porque o dele só passava de hora em hora. Quando o ônibus dele dobrava a esquina, sempre era aquela tensão, que durava apenas segundos, porque a esquina era bem dizer em cima da parada, eu dava sinal, ele me entregava a mochila e sorria, dando tchau. Era tão rápido, mas, para mim, era uma eternidade, porque eu sempre esperava que ele, ao invés de me passar a mochila, me puxasse e me desse um beijo daqueles, que o fizesse até perder o ônibus.
          Coitada de mim...

          Lá pela terceira semana de curso, ainda estávamos nessa, quando minha prima, que fazia o curso de tarde, passou a estudar no mesmo turno que a gente

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          Lá pela terceira semana de curso, ainda estávamos nessa, quando minha prima, que fazia o curso de tarde, passou a estudar no mesmo turno que a gente. Nunca tinha comentado com a Isabel sobre ele, mas, ao vê-lo, ficou na cara que ela também tinha ficado encantada. Ela não estudava na nossa sala, mas ia embora com a gente. De repente, quando dei por mim, ele não levava só as minhas coisas, levava as dela também, nem passava a mão só pelo meu ombro, mas pelo dela também. E nossa tensão de todo dia, passou a ser dela também.
          Ele, muito atencioso, conversava com as duas, ria das duas, o que me deixava louca de ciúmes. Bem que eu poderia ter dito a ela para se afastar porque eu o tinha visto primeiro, mas fiquei com medo de ela contar para os meus pais, afinal eu só tinha 15 anos, ela já tinha 17, a mesma idade dele, por sinal.
          No último dia de aula do curso, minha prima se atrasou fazendo a prova e não foi com a gente para a parada. Há muito tempo eu não ficava tão feliz, porque ele era somente meu de novo. Só que, para minha surpresa, no caminho, ele disse que não queria ficar na parada de sempre, disse que ia comprar não sei o que no mercadinho que ficava na outra parada, na mesma rua, só que lá na frente, e aí foi que ficou claro para mim: ele estava fazendo hora para que ela chegasse! Queria bem se despedir dela!
          Claro que eu fui logo dizendo que não... Que desse jeito ele ia perder o ônibus, mas ele disse que não tinha problema se perdesse, que era o último dia de curso e que ele precisava muito comprar isso. A falsidade dele era tanta que ele não se deu nem ao trabalho de inventar o que era que ele ia comprar. Em outros tempos, ouvir que ele queria perder o ônibus seria o começo da realização dos meus sonhos, mas a cada segundo que passava ficava mais perto de ela chegar.
          Então, eu tive uma daquelas ideias de jirico e disse:

          "Lembra aquele dentista que tu disse que fica do lado da tua casa? Pois não é que minha mãe achou de marcar consulta pra mim lá! Aí é hoje... Tenho hora marcada. Logo hoje que eu vou pegar o ônibus contigo, tu inventa de querer perder pra comprar esse negócio extremamente importante aí...".

          Uma mentira deslavada, mas que resolvia meus dois problemas: ficava mais um tempo com ele e SEM ELA! Pois não é que a minha priminha do coração veio correndo atrás de nós a tempo de me ouvir?
          O que aconteceu a seguir pareceu aquelas coisas de novela: a gente chegando na parada, o ônibus dele vindo, ela dando sinal para o bicho, dizendo que eu podia ir ao dentista que ela iria com ele no mercadinho - tudo ao mesmo tempo e rapidamente. Sei que, quando eu dei por mim, eu estava dentro do ônibus dele - nada a ver com o meu caminho, diga-se de passagem - enquanto ele achava graça na calçada, de braço dado com ELA!
          E não nos falamos mais... Mas, claro que a Isabel me contou no outro dia que tinha ficado com ele e que tinha sido...

          "Ma-ra-vi-lho-so!", palavras dela.

          Aí sabe aqueles momentos em que você já está na merda mesmo e acha que uma catástrofe a mais, uma a menos, não vai fazer nenhuma diferença na sua vida, então você faz pergunta daquelas bem bestas e descobre que faz diferença sim, porque você percebe que você achava que estava na merda, mas não estava, está é AGORA depois que ouviu a resposta da sua pergunta besta?
          Pois é, eu vivi isso quando me fiz o favor de perguntar a ela o que diabos ele queria tanto comprar e ouvi um simples:

          "Mulher, nada...", como resposta.

          Na verdade, depois que eu subi no ônibus, eles nem saíram daquela parada. Palhaçada, cara! Antes, meu divertimento era pensar nele, nas nossas conversas, tentar lembrar do cheiro dele... Mas, depois disso, não posso nem me lembrar daquele sujeito que me vem logo à cabeça a imagem asquerosa dele abraçado com ela, rindo de mim na calçada. Aí, quando chego na escola, me deparo com esta praga na mesma sala que eu... há justiça no mundo? Nenhuma!
Se eu queria ele aqui agora? Eu queria era que ele não estivesse aqui!

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