Analisando os suspeitos

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                Na última semana, antes das férias, semana de provas, comecei a observar a rotina da escola para ver se eu percebia algo estranho relacionado ao que eu estava desconfiando. Claro, isso quando eu não estava estudando, né? Tínhamos um grupo de estudo com todo mundo da sala em uma rede social, em que o João, graças a Deus, ensinava os conteúdos das provas para a gente por meio de áudios. Não sei os outros, mas eu era morta e viva nesses áudios, aprendia melhor com ele do que com os professores, acho que por conta da linguagem. Professor tem mania de falar difícil, afff... Quer que a gente entenda, então fala nossa língua, né?
               Na segunda-feira, pós-festa, quase perdi o foco da minha missão quando o Eduardo entrou na sala, porque me lembrei de que, antes de querer bancar a detetive da Narcóticos, eu tinha me resolvido a superar o envolvimento dele com minha prima e a tentar conquistá-lo de uma vez por todas. Então, quando ele entrou na sala, eu comecei a procurar um motivo para ir à cadeira dele. Não foi muito difícil, de longe dava para ver o olho roxo que a briga com o Alessandro tinha deixado nele. Bastava que eu esperasse ele sentar para ir até lá e perguntar o que tinha acontecido com seu olho.
              Cheguei até a me levantar, mas o problema foi que, assim que ele se sentou, ninguém mais ninguém menos do que a Glória passou na minha frente, quase me atropelando, foi lá na cadeira dele e o beijou... NA BOCA! Como assim??? E o Alessandro??? A Sofia me disse que eles tinham saído juntos, mas eu não pensei, nem por um segundo, que eles poderiam ter tido algo depois dali. Será que eu viajei na maionese e, na verdade, a briga dos dois não passou de uma crise de ciúmes do Alessandro? Mas, por que contar isso para um professor??? Eu não entendo...
             Na barulheira da sala toda conversando sobre a festa, enquanto esperava a prova começar, eu fiz um esforço jedi para me concentrar e tentar ouvir algo do que eles estavam conversando a duas cadeiras da minha.

             - Ainda dói? - perguntou a Glória com aquela vozinha ridícula que ela tem de Barney, aquele dinossauro roxo e idiota.

             - Não foi nada. Olha, precisamos conversar!

             - Se for sobre o Alessandro...

             - Não tem nada a ver até porque ele não vai chegar...

             O João entrou na sala e, com o estardalhaço que a Sofia fez, eu não pude mais ouvir nada. Até porque a Sofia foi se sentar na cadeira dela. O que o Eduardo quis dizer com "ele não vai chegar"? Como assim? O que foi que houve com o Alessandro? Foi me dando um nervoso... E se o tal professor/traficante tivesse feito algo com ele, porque falou o que não devia em público? Meu Deus!

             - Oi, João! - disse a Sofia toda animada.

             - Oi, Sofia... - ele, ao contrário, parecia que estava vindo de um velório.

             - O que foi, João? - perguntei.

             - Posso falar contigo... A sós? - perguntou ele, deixando a Sofia arrasada.

             - Vou à coordenação ver porque o professor está demorando tanto - disse ela, baixinho.

             - Ficaram show os áudios para as provas de hoje, João! Obrigada mesmo! Você explica melhor do que os professores.

             - Aham. É... Fernanda, aconteceu uma coisa na festa da Glória... - ele começou, parecendo que procurava as melhores palavras.

            - Eu sei o que aconteceu. Você e a Sofia se beijaram.

            - Eu estava... Quer dizer, eu não estava muito bem... Olha, eu não tenho nada com ela.

            - João... Não tem problema...

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