De todas as vezes que eu imaginei como seriam minhas férias, em nenhuma delas eu andei sequer perto do que realmente está acontecendo agora... Minhas opções, na verdade, eram bem restritas: eu poderia ter ido à praia, onde minha tia tem uma casa maravilhosa; poderia ter ido para ao interior, visitar meus avós; ou poderia ter ficado em casa mesmo, assistindo à TV e comendo horrores... Seria perfeito! Mas, é como eu disse, nada disso aconteceu...
No começo da segunda semana de férias, quando já tinha assistido a todos os filmes que eu queria, pois só poderia ir ao sítio no fim da semana, apareceu uma quarta opção que eu nunca poderia ter imaginado... Ainda mais porque envolvia o Eduardo.
Estava eu em casa, bem deitada, lendo um livro no Wattpad, despreocupada da vida, porque tinha resolvido dar um tempo na minha missão CDE - Caça aos Drogados da Escola - até a volta das férias, quando poderia recolher mais informações. Nisso, a campanhia tocou e, quando fui atender, qual não foi minha surpresa ao ver o Eduardo encostado no peitoril da porta. Ele estava muito magro e abatido, os olhos inchados e com olheiras, de quem já tinha chorado muito e não dormia há dias, nem parecia o mesmo Eduardo do último dia de prova, e olha que este já estava zoado, se comparado ao Eduardo do início do ano. Como pode uma pessoa ir se acabando assim, por vontade própria, meu Deus...- Oi, Eduardo.
- Oi, Fernanda.
- O que foi?
- Não sei por onde começar... Tem alguém em casa? Eu posso entrar?
- Não tem ninguém, não, mas pode entrar... - ele parecia tão mal que eu nem tive ânimo para sustentar a mentira de que não podia ficar sozinha em casa com um garoto. Ainda bem que ele não perguntou nada, só fez entrar e se jogar no sofá.
- Começa pelo começo.
- Não tenho tempo para isso. Olha, é o seguinte: você me deve um favor... - disse ele me olhando tão intensamente que comecei a ficar nervosa.
Pior qur era isso mesmo que eu temia, que ele tivesse vindo cobrar o favor da aposta, até porque ele não estava com cara de quem ia me pedir um lanche.
- Eu sei que eu devo, você que nunca quis cobrar. Não posso fazer nada.
- Pois eu vim cobrar hoje, e você vai ter que me ajudar, porque eu estou desesperado - ao dizer isso, ele se levantou do sofá e foi para a janela, que ficava atrás dele - Eu não sei mais o que fazer... Queria que você me ajudasse.
- Com o quê??? - perguntei, com os nervos já à flor da pele. Aproximando-me dele, percebi que ele estava chorando - Poxa, Edu... O que foi que aconteceu? - não aguentei, fiquei com pena dele, mas como eu ia lhe ajudar numa barra tão pesada quanto se afastar da droga? Com certeza tem algo a ver com isso.
- Eu pisei na bola, Fernanda... Eu pisei muito na bola... - disse chorando.
- Me conta o que foi que houve para eu ver em que posso te ajudar - disse, colocando a mão em seu ombro.
- Não posso... Não posso te envolver! - ele se afastou de mim de uma vez - Eu só quero que você faça um favor para mim e você vai ter que fazer, porque está me devendo uma!
- Ok! Mas, o que é? - desisti de tentar convencê-lo a me contar o que estava acontecendo, na esperança de entender quando ele me contasse qual era o favor que queria que eu fizesse.
- Eu preciso que você faça uma ligação para mim, quero que ligue pro meu pai.
- Pro teu pai??? - perguntei, surpresa.
- Sim. Você vai ligar para ele se passando pela Maria. Tomara que ele atenda, porque isso não funcionaria com a minha mãe, ela reconheceria que não é a voz da Maria na hora.
- Maria é a empregada de vocês?
- Não... Quer dizer, é sim! Acho que ele não vai desconfiar que é mentira, de vez em quando ela liga para perguntar pela gente. Você vai perguntar se eles estão se divertindo em Recife. Depois que ele responder, você vai perguntar se o Rodrigo está se alimentando bem.
Achei muito estranha essa ligação que ele queria que eu fizesse. Por que ele mesmo não ligava e perguntava pelo Rodrigo? Por que ele não tinha ido pedir a própria Maria para ligar e perguntar pelo Rodrigo?
- Eduardo... - comecei preparada para pedir que ele me explicasse por que essa ligação era tão importante.
- Não, Fernanda! Não seja teimosa uma vez na vida, só uma! Eu não vou explicar... Liga logo, por favor!
- Certo! Calma, vou pegar meu celular.
Enquanto fui pegar o celular no quarto, deixei um Eduardo inquieto na sala, andando de um lado para outro. Quando desci, entreguei-lhe o celular para que discasse o número.
- Como é mesmo o nome do teu pai? - perguntei enquanto ele fazia a ligação.
- Renato.
- Alô, Seu Renato? Aqui é a Maria... - disse, tentando fazer uma voz de gente velha - E a sua viagem como vai? - ele respondeu que estava maravilhosa - E o Rodrigo? Está se alimentando bem?
Ao ouvir a resposta do pai dele, congelei até a alma e olhei para o Eduardo, com os olhos arregalados. Ele adivinhou a resposta do pai, porque se abaixou no chão, com a mão na boca, e começou a chorar.- É... eu tenho certeza que eles ficarão bem, sim! - disse, recobrando a voz - Quando vocês voltam? No fim da semana? Ah, que bom! Pois, tchau. Liguei só para saber como estavam as coisas... Abraço!
Quando desliguei, tentando entender o que tudo aquilo significava, o Eduardo ainda estava sentado no chão, com a cabeça entre as pernas dobradas, chorando, completamente destruído.
- Eduardo, cadê o Rodrigo? Teu pai disse que ele estava contigo... Ele não está contigo, né?
- Não... Meu Deus, o que eu vou fazer? O que eu vou fazer??? - disse ele, baixinho, olhando para o chão e passando as mãos no rosto, enxugando as lágrimas - E agora? E agora?
Eu já estava tão nervosa, que meu estômago revirava para todos os lados, e vê-lo daquele jeito só aumentava meu desespero, ainda mais porque eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Por que diabos ele tinha vindo tirar meu sossego???
- Me diz uma coisa: por que você não pediu para a Glória ligar? É isso que namoradas fazem, né? Ajudam os namorados quando estão desesperados.
Uma vassoura atrás da porta não teria sido tão eficiente em expulsá-lo.- Eu tenho que ir! Tchau! - ele se levantou, ignorando que minha pergunta esperava uma resposta e limpando o rosto e a parte de trás da calça, apressado - Tenho que achar meu irmão.
- Você por acaso sabe onde procurar?
- Não, já procurei em todos os lugares em que ele podia estar. Nada. Minha última opção era que ele tivesse ido viajar com os meus pais, sem que eu soubesse. Você viu, não foi isso. Ele deveria estar comigo, mas não está... - disse voltando a chorar novamente - Eu já vou!
- Eduardo, senta aí! Vamos ligar pra polícia agora! - é, eu perdi a paciência com ele...
- Tá maluca? Se tiver sido sequestro, o que com certeza foi, se eu ligar pra polícia, o Rodrigo está ferrado, eu estou ferrado... Não... Eles vão me ligar a qualquer momento para dizer o que querem... E se não ligarem, então é porque não tem nada que possa mais fazer...
- COMO ASSIM???? - fui afastando-o da porta e empurrando-o para que se sentasse no sofá - Você só sai daqui quando me contar o que está acontecendo. Bora, desembucha!
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E agora?
Novela JuvenilFernanda está na expectativa de ter uma vida nova ao começar o 3º ano do Ensino Médio, motivada por uma recém decepção amorosa com um rapaz que conheceu nas férias. Só que ela nem imagina o que está por vir... E se ela soubesse que o rapaz inventou...