Três sequestros nada relâmpagos

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Acabamos levando todos eles para a casa do meu tio. No carro, precisei acalmar o Sérgio, porque ele já estava à beira de um ataque epilético. Pedi a ele só para me ajudar a colocar os três na casa e prometi que, depois disso, ele poderia ir embora, que eu ia seguir sozinho dali pra frente... Cabra frouxo da porra! Não que, naquele momento, eu estivesse um poço de coragem e confiança, mas pelo menos não estava chorando feito uma criança como ele.

Colocamos o garoto de volta na despensa, o Eduardo no cômodo seguinte e Fernanda no último. Achei melhor amarrar o Eduardo, pra ele, seria muito fácil quebrar a porta... E minha cara também... Só desamarraria ele quando já estivesse tudo combinado, o que eu achava que não seria difícil, já que agora eu tinha dois itens de barganha: o irmão e a namoradinha...

Só que meus instintos de mãe Diná não previram o que aconteceu a seguir, quando eu tinha acabado de liberar o cagão do Sérgio... Quem me liga??? O João... Enquanto eu olhava para a tela do celular, vendo a chamada sem saber o que esperar dessa ligação, me veio o seguinte pensamento: em que tipo de vala o João e a gangue dele me colocariam se ele descobrisse que eu tinha feito a Fernanda refém? Depois da festa da Glória, eu esperei muito por essa ligação, mas quando fui expulso na segunda seguinte, percebi que meus negócios com o João tinham acabado de vez, então não esperava por aquela ligação de jeito nenhum, ainda mais num momento tão tenso quanto aquele.

Achei melhor atender para não levantar suspeitas, podia ser que ele já soubesse do sumiço da Fernanda, podia ser que estivesse ligando até para saber se eu tinha algo a ver com isso... Se eu sumisse, seria o mesmo que assinar o atestado de culpado.

– Quem é vivo sempre aparece... – decidi começar a ligação mostrando segurança.

– Pois é... O que você anda fazendo? – perguntou ele, sem esboçar nenhum sentimento, como já era de costume.

– Me virando... Não graças a você... Mas, diga aí, porque me ligou, depois de tanto tempo?

– Quero que venha aqui.

– Fazer?

– Venha e descobrirá.

– E se eu não quiser ir?

– Não há essa opção.

– Há sim, desde que você me colocou no foguete...

– Engano seu... Se eu já coloquei você no foguete uma vez, é porque eu posso colocar de novo...

– João, eu...

– Quinze minutos. Eu espero você por quinze minutos – e desligou!

PORRA!!! Qual é a desse cara, meu irmão... O que ele queria agora... Por mais que eu não quisesse mesmo saber o que era, nem pudesse ir, na verdade, com todos aqueles "inquilinos" no porão, não dá para negar um chamado dele, e o pior de tudo é que eu não sei bem o porquê. O que ele ia fazer se eu não chegasse lá em quinze minutos? Não, não... O pior de tudo mesmo é que eu não queria descobrir o que ele ia fazer! Tô pra conhecer alguém mais manipulador do que esse cara, ele ameaça você com... NADA! Nada, vei... E você cai, cai porque ele demonstra ser aquele tipo de pessoa que você não quer ir até as últimas consequências com ele... Mas, quais são as últimas consequências??? Quem souber morre... LITERALMENTE... Será? Olha aí, não sei...

Sei que corri, joguei uns pães lá no quarto em que deixei a Fernanda, para o caso dela acordar e sentir fome. No do Eduardo, eu não deixei foi nada porque ele tava todo amarrado, com fita na boca, não ia conseguir comer mesmo... Também não dava tempo desamarrar. De qualquer forma, eu ia só na casa do João e voltava logo, não dava para morrer, não.

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