No sábado de manhã, fomos à casa do João para estudar para as provas de segunda, que seriam as mais difíceis, Física e Química. Ele sempre gravava áudio em um grupo da sala numa rede social, mas eu e a Sofia éramos suas alunas VIP's e tínhamos direito à aula particular para essas provas. A casa dele era bastante humilde, o contrário da casa do Eduardo. A mãe dele cuidava da casa e lavava roupa para fora para sustentá-lo, porque o pai dele os abandonou quando ele ainda era um bebê.
Das outras vezes que fomos lá, sempre ficávamos estudando na sala. Mas, dessa vez, a mãe dele estava passando a roupa dos clientes, e não tinha espaço para a gente estudar. Então, com muita relutância da parte dele - acho que por vergonha -, subimos para o quarto dele, não sem antes ele subir na frente para, segundo ele, arrumar a bagunça. Enquanto isso, ficamos conversando com a mãe dele.- Qual das duas é a Fernanda? - perguntou ela, com um sorrisinho, que me deixou desconfortável.
- Sou eu...
- Meu João gosta muito de você, sabia?
- A gente estuda há muito tempo juntos...
- Hum... Sei... - mais um sorrisinho, com direito agora a uma piscadela - Ele deve gostar mesmo de vocês, nunca deixa ninguém ir ao seu quarto, é muito reservado, meu menino, nem mesmo eu vou lá. Ele mesmo que arruma tudo.
- Que bom, é menos um trabalho para a senhora - disse a Sofia, graças a Deus mudando de assunto - A senhora quer ajuda? Posso ir dobrando, enquanto a senhora passa...
O quê? A Sofia estava se oferecendo para dobrar roupa? A mãe dela só falta enlouquecer com ela, porque nem colocar a roupa suja no cesto ela coloca... Hoje em dia, eu já sei que ela estava era querendo agradar a tão desejada sogrinha. Naquele dia, eu só achei tudo aquilo muito estranho.
- Podem subir! - gritou João lá de cima, salvando-nos.
O quarto dele era pequeno, só tinha a cama e um guarda-roupa simples, que parecia superlotado, porque as portas estavam fechadas à força com a ajuda de um cadarço de sapato. Acho que toda a bagunça do quarto ele jogou de qualquer jeito dentro do guarda-roupa... Minha cara também!
- Não reparem - disse ele, sem graça.
- Imagina, João! Vamos começar! - eu disse, tentando amenizar a vergonha dele.
Fizemos a cama dele de mesa, espalhando os livros em cima dela, e ficamos sentados no chão. O João era muito inteligente, era incrível vê-lo explicando a matéria, dominava tudo direitinho, sem falar que ele tinha ar de adulto, quando não estava fungando por conta de alguma alergia, claro! Olhando bem para ele naquele dia, percebi que o coitado não é feio... Ele é até bem bonitinho, sabe? Se ele passasse a usar lente de contato, ao invés daqueles óculos de aros de tartaruga... ficaria um gato. Sério mesmo! Uma pena eu nunca ter gostado dele como ele gosta de mim.
Coração é osso... A gente não escolhe por quem se apaixonar. Se eu pudesse escolher, o retardado do Eduardo seria minha última opção, ainda mais agora, sabendo o que ele anda fazendo nas horas vagas. Mas, o que eu posso fazer? A única vantagem do Eduardo sobre o João é que a família daquele é rica, mas o que adianta se vive brigando? Sem falar que eu nunca fui do tipo materialista mesmo, então não faz nem diferença. A do João era pobre, mas ele tinha o amor da mãe, para compensar a falta de bens materiais. Se bem que ele tinha algumas coisas bem legais, como um celular quase que de última geração, que sempre tinha internet, e um PSP, que achei debaixo da cama dele quando fui pegar minha borracha naquele sábado; presentes do padrinho, um dos patrões da sua mãe, como ele se apressou para nos explicar, meio sem jeito, porque não tinha vendido os presentes para ajudar em casa.
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E agora?
Roman pour AdolescentsFernanda está na expectativa de ter uma vida nova ao começar o 3º ano do Ensino Médio, motivada por uma recém decepção amorosa com um rapaz que conheceu nas férias. Só que ela nem imagina o que está por vir... E se ela soubesse que o rapaz inventou...