Bolando um plano

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              Contar para o João ou para a Sofia estava mesmo fora de cogitação. Então, só me restavam duas opções, e a primeira delas era fingir que eu não tinha ouvido nada. Provavelmente, essa era a melhor de todas que eu poderia pensar, afinal, se eu não tivesse ido ao banheiro justo naquele momento, não teria ouvido aquelas loucas conversando, e estaria tudo bem uma hora dessas... Quer dizer, tudo bem, não. Nada estaria bem...
              Independente do Eduardo estar envolvido nisso ou não, isso é horrível! Eu estudo naquele colégio há séculos, como é que isso podia estar acontecendo? Não era nenhuma escola pública, era particular, os pais pagavam achando que os filhos estavam livres desse tipo de coisa... Mas, que nada!!! O tráfico acontecendo bem embaixo dos nossos narizes e ninguém via nada! Só que eu vi! Ouvi, pelo menos. Eu poderia denunciar... Por que não ir à diretoria e contar tudo que eu ouvi? Eu sei o nome de uma delas, Luana. Facilmente, daria para saber quem era a outra que também estava fora de sala naquele dia... A diretora e a coordenação fariam toda a investigação e pronto!
             Mas, é como eu disse, iria meter o Eduardo em problemas, provavelmente a diretora colocaria as meninas contra a parede, e elas entregariam o Eduardo. Se ele fosse só expulso, menos mal... Mas, e se chamassem a polícia para ele? Ele ainda é menor de idade, só faz dezoito anos em julho, pelo menos... Não! Mesmo assim, seria preso! O que seria do irmãozinho dele? Ele deixou bem claro que o Rodrigo só pode confiar nele, porque os pais dos dois são irresponsáveis. Eu me sentiria muito mal... Muito mal mesmo... Ele pode ter errado em se envolver nessas coisas, mas todo mundo merece uma segunda chance. O problema é que a polícia não tem toda essa paciência.
            Decidi, então, que não contaria nada à escola sobre o que estava acontecendo... Só que pensar em não fazer nada me incomodava tanto quanto pensar em fazer alguma coisa. No início do ano, eu queria ser outra pessoa, queria me destacar, sair do anonimato. Mas, até aquele momento, eu só tinha me escondido mais... A verdade é que a garota que eu queria ser não deveria andar emburrada porque o garoto dos sonhos dela ficou com sua prima... E daí? Não existe aquela expressão "lavou, tá novo"? Deve ter alguma verdade nisso, né? E ainda tem um agravante nessa história toda, ele não tinha nenhum compromisso comigo. Éramos amigos, nada mais do que isso. Eu que fantasiava mil e uma coisas entre nós, mas a verdade é que não tínhamos nada.
            Então, que se dane o fato de ele ter ficado com ela! Quer saber? Se ele ficou com ela, a culpa é minha, que fui uma incompetente e não consegui conquistá-lo. O que eu deveria estar fazendo, ao invés de tratá-lo mal, como tenho feito o tempo todo, desde que ele começou a estudar na escola, era estar aproveitando o fato de ele estar na mesma sala que eu todos os dias da semana! Eu deveria estar aproveitando para conquistá-lo, isso sim! Antes que alguém o faça, né? Ele não se apaixonou pela Fernanda antiga, a quietinha, a apagada, do ano passado. Mas, pode se apaixonar pela nova deste ano, a ousada, como eu prometi a mim mesma que seria!

             ...

             Perfeito, Fernanda! Perfeito! Agora que o cara é um aviãozinho drogueiro, você o quer... Perfeito! Quando ele era gatão, todo simpático para o teu lado, querendo tua amizade de volta, era cheia de não-me-toques com o cara. Aí agora que ele está cagando para ti, você quer... Meu Deus, eu tenho que ter muita paciência comigo mesmo... Muita paciência!

            ...

            Naquele dia, eu dei mesmo essa bronca em mim, só que não adiantou nada. Minha decisão já estava tomada. Eu tinha o final de semana inteiro para definir como iria pôr juízo na cabeça do Eduardo, para fazer com ele saísse dessa vida de aviãozinho e conquistá-lo. Meu plano tinha quer ser posto em prática já na segunda-feira de manhãzinha, porque seria o primeiro dia de prova antes das férias. Então, quem terminasse as provas poderia ir embora. Assim, seria mais difícil conversarmos depois das provas. Se eu terminasse antes, tudo bem, ficaria esperando que ele entregasse para entregar as minhas. Mas, como ele não estava estudando patavina nenhuma, provavelmente aconteceria o contrário, e eu não arriscaria tirar nota baixa por conta dele. Aí sim minha mãe me mataria! Tinha que dar um jeito de conversar com ele antes do professor entregar as provas, e o pior é que eu só tinha uma semana para conquistá-lo, porque se eu conseguisse essa proeza, passaríamos as férias de julho juntos, poderíamos até comemorar seu aniversário... Aaah, seria beautiful!

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