Na casa do Eduardo, por pouco tempo...

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Quando chegamos, comecei a prestar atenção em detalhes que antes não havia reparado, para tentar perceber algo que pudesse esclarecer o sumiço do Rodrigo. À primeira vista, não parecia que aquela casa tinha testemunhado um sequestro. Tudo estava na mais perfeita ordem, inclusive um vaso de porcelana, que ficava ao lado da porta em cima de um pilar, o que chamou minha atenção.

- Se ele tiver sido mesmo levado, não houve muita resistência da parte dele, porque, no mínimo, ele teria quebrado esse vaso, esperneando.

- É mesmo... Mas, também tem que ver que ele é pequeno pra idade dele, não tem essa força toda...

- Ele é pequeno, mas o Alessandro também não é muito alto... Ele é um só um pouco mais alto do que eu. Eu vi teu irmão... Eu não conseguiria tirar ele de casa à força, sem que ele não pudesse nem espernear...

- O que tu está achando?

- Que não foi o Alessandro que entrou e pegou o Rodrigo. Eu acho que foi uma pessoa mais alta e mais forte do que ele, que conseguiria imobilizá-lo. A não ser que... - lembrando de todos os episódios de séries de investigação aos quais já assisti, eu percebi que poderia ter acontecido outra coisa, mas, se tivesse sido mesmo assim, talvez tivesse...

- Por que tu está olhando para o chão? O que está procurando?

- Achei!!! - gritei ao ver vários pingos de um líquido no chão, próximos à cortina da janela - O Rodrigo não derrubou o vaso, porque estava desacordado! Foi clorofórmio, Eduardo! Aqui onde estão os pingos foi onde o pano foi molhado!

- Ainda dá pra ver um pouquinho molhado, né? Então, não foi ontem, foi hoje de manhã mesmo! - concluiu ele.

- Verdade... Agora, geralmente, quem usa esse líquido está atrás da vítima, porque quer pegá-la de surpresa, assim ela não grita...

- O que é que tem?

- O que é que tem que, para isso dar certo, o Rodrigo tinha que estar de frente para a porta, e o cara aqui onde eu estou - eu estava parada a alguns passos da porta da frente e de costas para a janela.

Nesse ponto, é importante mencionar que a entrada da casa do Eduardo é um tanto quanto estranha, é como se antes de você passar para a sala tivesse que passar por uma pequena antessala, iluminada por uma janela, que fica de frente para a porta e dá para o quintal. Naquele dia, a vista estava encoberta por uma cortina laranja, que ia até o chão e combinava com a cor salmão das paredes da antessala.

- Mas, por que o Rodrigo ficaria parado em frente à porta feito um dois de paus? - perguntou o Eduardo, tentando imaginar a cena.

- Não sei... Talvez porque a campainha tivesse... - neste exato momento, o som alto da campanhia ressoou agudamente na casa toda - tocado...

O que aconteceu a seguir foi muito rápido e é confuso para mim até agora. O Eduardo, que já estava de frente à porta, imaginando o posicionamento do Rodrigo, abriu a porta e deu de cara com um homem que ele parecia conhecer muito bem, mas que nem por isso deixou de lhe dar uma coronhada na cabeça.
Ao mesmo tempo que eu via isso acontecer, pude sentir que alguém me agarrou e esfregou um pano molhado no meu rosto, que roubou todas as minhas forças de repente e eu apaguei, não sem antes entender que aconteceu comigo exatamente o que aconteceu com o Rodrigo naquele dia mais cedo.
Agora eu fico pensando: será que se a gente tivesse feito como combinamos, ligado para a polícia assim que chegamos na casa dele, tudo isso teria sido evitado? Ou toda a nossa ação na casa já estava prevista e de um jeito ou de outro terminaríamos exatamente onde estamos agora?
Aliás, terminaríamos, não! Ele terminaria... Eu não tinha nada que está aqui! Eu sou um furo na história para o Alessandro, e até mesmo para esse tal professor, porque eles não tinham como saber que o Eduardo ia me procurar e que, além de ajudá-lo, eu ainda iria para a casa dele e teria que ser levada junto com ele sabe-se lá para onde.
Outro pensamento me ocorreu agora: ainda bem que eu vim, né? Por que uma hora dessas minha mãe, meu pai, enfim minha família todinha, devem estar loucos atrás de mim. Ai meu Deus... Eles devem estar loucos atrás de mim! Isso significa que se eu não morrer aqui, eles vão me matar, a não ser que eu dê uma explicação, daquelas beautiful mesmo, do porquê de eu estar envolvida nessa confusão medonha.
Mas, voltando ao meu pensamento original, quem estaria atrás do Eduardo e do Rodrigo uma hora dessas se somente eles tivessem sido sequestrados? Os pais dele estão fora do estado... Pelo que o Eduardo falou, eles não fazem o tipo de quem liga todos os dias à noite para saber como os filhos estão. A Maria talvez... mas, definitivamente, não seria com a mesma rapidez do que os meus pais.
E, por falar nisso, mãe, pai... vocês estão demorando pra caralho, tá??? Desculpa aí o palavrão, mas porra... Cadê vocês, hein???

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