Capítulo 15

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Dificilmente via a estrada de caminho para casa devido à chuva e à velocidade a que o pára-brisas se movia. Meu Deus, mas quando é que isto vai acabar?

O meu telemóvel começou a tocar e eu abrandei um pouco para o poder encontrar dentro da mala. Ah, eu odiava andar com malas, eram bonitas, sim, ficavam bem e davam jeito, mas sempre as achei demasiado incomodativas.

- Estou? – digo assim que o atendo sem reparar sequer no visor.

- Olá El! – fala a doce voz.

- Oh, Beth, olá! Olha, agora não dá muito jeito falar porque vou a conduzir e está um tempo horrível, será que me poderias ligar mais logo? – proponho tentando focar a minha vista na estrada.

- Espera, é rápido! Queria-te apenas perguntar se querias ir beber café mais logo depois de jantar! - o quê? A Beth está-me a pedir para ir com ela a algum lado? Por norma quem o faz sou eu e de forma complicada, porque ela é difícil de arrastar de casa.

- Sim, claro, às nove e meia apanho-te, agora vou ter mesmo de desligar Beth, desculpa! – falo um pouco alto de mais por culpa da chuva que não me deixa ouvir como deve de ser. 

É, faz todo o sentido, ouço mal então decido falar mais alto como se a pessoa do outro lado também não ouvisse em condições.

- Está bem, beijinhos! – eleva o tom de forma propositada imitando-me com um risinho. Esta miúda é de mais.

Acabo de retirar o telemóvel do ouvido ainda à procura de algum sitio para o colocar e sou obrigada a colocar o pé a fundo no travão como impulso quase batendo com a testa no vidro para não atropelar alguém que aparece no meu campo de visão. 

"Por estas razões é que é proibido o seu uso enquanto se conduz!" grita o meu subconsciente repreendendo-me e esbofeteando-me, eu por norma até cumpro com isso! 

Quase todo o meu interior me sai da boca ao pensar na possibilidade de não ter reparado! A pessoa acena como se pedindo desculpa e desvia-se em passos largos até ao passeio não parando a sua caminhada. Pelos vistos assustei-me mais eu do que ela, que continua como se nada fosse. Agradeço com todos os pedacinhos do meu corpo por não ter causado algo desastroso, não me perdoaria, muito menos sei se recuperaria de algo assim.

Antes de arrancar semicerro os olhos reconhecendo aquela altura, aquele cabelo, aquela forma de andar e reparo que ele usava uma simples t-shirt azul escura de manga curta no corpo, completamente encharcado da cabeça aos pés, fazendo até desfazer os seus caracóis. 

Mas ele é maluco?

- Hei! – chamo após abrir uma pequena frincha do vidro, ele não pode andar por aí assim, irá apanhar uma valente gripe! 

Penso que talvez tenha perdido o seu guarda chuva ou... bem, acho que não tenho mais teorias. Ele parece não me ter ouvido porque continua sem olhar para trás. 

Hei! – vocifero mais umas duas ou três vezes e penso que talvez ele me esteja é a ignorar. 

Arranco e começo-o a seguir pela rua vendo a sua expressão neutra na cara como se a chuva não o incomodasse, estou praticamente colada a ele dentro do meu carro e por momentos senti-me no seu suposto papel, uma perseguidora, uma stalker. 

Hei, estás-me a ouvir?! – volto a dizer mesmo ao seu lado mas ele nem move uma pestana na minha direcção. Abro mais o vidro colocando a cabeça de fora já um pouco frustrada. – Harry! – solto num berro e o meu coração salta-me pela janela fora como se arrancado a sangue frio. 

FallenOnde histórias criam vida. Descubra agora