Capítulo 22

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Envolta em memórias felizes mas dolorosas, distanciei-me do filme que já sabia de cor.

Pouco mais falamos sobre mim e sobre o livro, parece que apesar de ele querer continuar, estava a pensar de mais, como se escolhesse as palavras, como se pudesse dizer algo que não deveria, algo que me pudesse incomodar. Sei que isso se deve ao facto de ele saber que não me lembro dele e tudo para mim ser como se nos tivéssemos a conhecer pela primeira vez, era como se ele por alguma razão tivesse com receio de me assustar ao demonstrar saber tanto a meu respeito, mas eu realmente estava a gostar, queria ouvi-lo, queria saber mais sobre ele, queria que ele me ajudasse a lembrar.

- Eu sabia que ela não ia morrer, era tolice a mais visto que tinha a opção nas mãos dela... - comenta ele fazendo-me voltar a atenção para a televisão.

O mundo deveria ser assim, ter-se opção, poder decidir coisas como estas de forma tão natural e facilitada, tão facilitada como foi roubada a vida daquela criança de dez anos que as minhas memórias insistem em não largar, mas é o ciclo natural da vida, compreendo, apenas não aceito.

- Toda a gente deveria poder ter essa opção, não deveria ser permitido roubar-se assim a vida a alguém que ainda mal viu o que o mundo tem para lhe dar... - desabafo atirando a cabeça para trás, escondendo a revolta que tenho guardada em mim.

Uma das razões pela qual vejo tanto este filme, é pelo facto de me chatear tanto quanto me o faz adorar. 

Crio em mim sentimentos bons pensando que aquele menino teve a opção nas suas mãos como a personagem deste filme, penso quanto dele poderá corresponder à realidade e que ter partido foi decisão sua, podem-no ter deixado espreitar para o que para lá mais existe e tudo ser o paraíso que muitos imaginam fazendo-o optar. Imagino que para lá exista apenas o que de bom sonhamos tanto a dormir como acordados. 

Mas depois caio na realidade e revolto-me pelo facto de ele não ter podido mesmo ter a opção de escolha, de ter sido retirado à força deste mundo sem poder ter a oportunidade de sequer poder crescer. 

Mas e se ele teve escolha mas escolheu deixar-nos? Não, não acredito. Mudo de canal após o meu minuto de reflexão. Ele não faria isso porque ele não era assim, se a vontade de viver fosse medida em alguém como uma luz, ele seria mil sois que até no Inverno se atreveriam a brilhar como numa tarde de Verão.

- Isso é uma incógnita, não sabemos o que se passa do outro lado ou o que acontece realmente a quem parte... e bem, isso é algo que nunca iremos saber a não ser quando chegar a nossa vez, coisa que creio não acontecer tão cedo. – soa naturalmente.

- É injusto. – resmungo. – Perder alguém de quem tanto se gosta, é ... eu nem sei para falar a verdade. – retiro-me da minha posição à chinês para colocar os pés no chão que estão agora um pouco dormentes e aguento dentro de mim a palavra "merda", porque para mim perder quem perdi, foi uma autentica merda.

- El's... - diz apertando os seus lábios um contra o outro até que um enorme e pesado suspiro lhe escapa como se tivesse proferido o meu nome apenas para me sossegar sem saber mais o que me dizer. 

- Queres ficar para jantar? – pergunto mudando de tema e nesse momento raciocino que ele me tratou por El's e só peço mentalmente para que ele não o volte a fazer.

Adorava, mas tenho umas pequenas coisas para fazer. – responde reticente e eu assinto. – Espero que te possa responder que sim da próxima vez. – sorri deixando-me de alguma forma entusiasmada.

- Faço uns bifes com cogumelos e natas de chorar por mais. – riu-me deitando-lhe a língua de fora.

- Ah, isso não vale, é a minha comida preferida! – resmunga de forma engraçada.

- Oportunidades não faltarão. – digo com um sorriso que rapidamente engulo.

Não me quero dar a entender mal, muito menos tornar isto demasiado confiável. Refiro-me a "isto", porque não sei o que o considerar, não posso chamar de "amigo" a alguém que tanto de mim sabe mas que eu pouco ou nada conheço, se bem que estupidamente sinto que lhe poderia quase confiar a vida. Odeio-me por isso.

Após o acompanhar à porta e me despedir dele apenas com um aceno, reparo que o carro de Joey ainda não havia chegado. Novamente. Aquele miúdo anda-se a matar com o trabalho, de tal forma que já raramente o consigo ver mesmo morando a míseros metros de mim.

Um bip soou vindo do microondas indicando que a lasanha já estava feita. Odiava este tipo de comidas pré-feitas mas estava com demasiada preguiça para cozinhar e sei que a pequena peste adorava, então decidi arranjar um tabuleiro e levá-lo até ele junto a um copo de sumo de laranja.

O seu ar concentrado no jogo fez-me sorrir, ele adorava ocupar o seu tempo assim mas orgulhava-me de poder dizer que este não era o seu passatempo favorito como acontecia com as centenas de crianças da sua idade em que os pais as deixavam consumir pelos objectos electrónicos. Isaac podia crescer e perceber que tinha tido uma boa infância a brincar na rua e ao ar livre, a sujar-se e a rasgar calças nos joelhos como aconteceu comigo nos meus tempos de miúda.

- Será que depois de comeres esta deliciosa Lasanha me posso juntar a ti para te ensinar como se joga a sério e te dar uma abáda? – pergunto pousando o tabuleiro na sua secretária ao canto do quarto. Não ficávamos chateados por muito tempo.

Ele olha-me um pouco amuado e por momentos penso que não me vai responder mas baixa-se para retirar outro comando da prateleira e entrega-mo.

- Dou-te uma abáda antes mesmo da comida arrefecer. – diz com um ar desafiador.

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Hii there!

Primeiro que tudo tenho de pedir mil desculpas e pedir para que não me matem, sei que fiquei imenso tempo sem aqui vir, mas tive realmente razões que me impediram de o fazer.

Queria dizer que não vou deixar de escrever "Fallen" nem deixarei mais nenhum tempo tão longo como este passar até novamente actualizar, tentarei fazê-lo com mais regularidade.

Adoro realmente isto e não o colocarei de lado, ainda terão imensos capítulos para ler.

Tenho consciência de que poderei ter perdido mais de metade das minhas leitoras, mas só peço realmente que tenham paciência comigo, pois darei sempre o meu melhor.

Mesmo na minha ausência quero-vos agradecer por todos os votos, por todos os comentários e por todas as mensagens que tenho vindo a receber, um obrigada especial a quem esperou e aqui irá continuar a estar, são as melhores!

Já são 4,7k yeiii ! :D

Se tiverem algumas dúvidas ou quiserem perguntar algo, lembro-vos que respondo sempre.

Boas leituras!

Sarry, xx

FallenOnde histórias criam vida. Descubra agora