Capítulo 29

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O céu estava realmente limpo, conseguia observar as estrelas na sua plenitude e isso era maravilhoso, observar o céu noturno era uma das minhas coisas preferidas apontada na minha lista de coisas preferidas. 

Sim, eu tinha uma lista, que englobava sentar-me na praia de noite em total silencio, olhos fechados, tentando apenas compreender o universo enquanto a única coisa que se ouvia eram as ondas a rebentar perto de mim, ou então piqueniques em sítios repletos de verde onde pudesse respirar a pura e fresca natureza, eu era uma pessoa de coisas simples que traziam consigo uma vasta complexidade.

O meu peito ainda arfava mesmo tendo vindo de elevador, obviamente que ganhei a corrida, mas pelo seu sorriso indecifrável poderia dizer que ele me deixou ganhar. Virei ligeiramente a minha cabeça para o lado e lá estava ele, a transpirar pureza sem cansaço algum visível no corpo, deitado a poucos centímetros de mim com os braços cruzados atrás da cabeça. 

Estávamos no topo do respeitoso edifício de quatro andares deitados sobre o cimento. Chamava-se Skyes. A vista aqui de cima era realmente linda.

- Então... - ele começa por cortar o silencio, que incrivelmente nada me incomodava colocando ao mesmo tempo uma goma na sua boca. – Quando era pequeno, pequeno de mais para saber sequer o que era o amor de gente crescida, declarei-me à minha melhor amiga... - virei a minha atenção toda para ele enquanto o observava a contemplar o infinito com um sorrisinho de canto a canto. – Eu não sabia sequer o que estava a fazer nem o que eu próprio pretendia dali, porque era tão novo que ainda fazia aquela cara de enjoo ao ver alguém a beijar-se, sabes? – pergunta com uma baixa gargalhada fazendo-me acenar que sim acompanhando-o.

Eu era a típica criança ciumenta que gritava de birra quando os pais se beijavam à minha frente, portanto compreendia na perfeição.

- Continuando, eu não sei mesmo o que pretendia ganhar em me declarar, porque claramente nada iria mudar, éramos crianças, mas aquela miúda era qualquer coisa de especial, sabes quando te estás a divertir tanto entre risos que tudo o que mais queres é que o tempo pare ali e seja sempre assim tudo bonito para sempre? Era assim sempre que eu estava com ela, nada fazia tanto sentido quanto vê-la sorrir mesmo que não fosse para mim, ah ela era linda, juro... – suspira profundamente esboçando-me o sorriso mais puro que alguma vez vi e nesse momento pude ver aquele enorme brilho por de trás do seu olhar fazendo-me sorrir também.

- Era suposto ser a tua maior vergonha. – digo em brincadeira semicerrando-lhe os olhos.

- Oh e podes crer que foi, ela não percebeu a minha intenção, disse-me que queria ser minha amiga até sermos velhinhos e que quando tivéssemos filhos que também podiam ser melhores amigos como nós e talvez também adorassem ver as estrelas como eu e ela e meu Deus ela riu-se, riu-se cheia de descaramento na minha cara, com a porra da gargalhada mais bonita que eu alguma vez já ouvi. – termina com uma gargalhada cheio de humor na voz tapando a cara com ambas as mãos.

- Oh, podia ser pior! – gargalho junto a ele comendo também uma goma ao imaginar o meu irmão tão pequeno a declarar-se a alguém, ele seria bem capaz de o fazer dentro da sua inocência.

- Pior? – ri ainda mais alto. – Pior do que terem passado tantos anos e eu ter aprendido por fim o que é o amor de gente crescida e me aperceber que a continuo a amar e ela nem sonhar? – pergunta retoricamente enquanto se vira de lado e se apoia num cotovelo para olhar melhor para mim cheio de exaltação.

Engoli em seco e perdi completamente o humor virando-me igualmente para ele vendo-o divertido com os seus bonitos e brancos dentes a notarem-se.

- O quê?! – solto estupidamente, um pouquinho alto de mais, sem saber sequer a que me questiono ou o que quero ouvir.

FallenOnde histórias criam vida. Descubra agora