O que seria um dia sem fazer nada, acaba sempre por se tornar num dia em que tenho de fazer tudo. Não que arrumar os quartos, limpar a cozinha e estender a roupa seja muito, faço-o em menos de uma hora, mas para uma pessoa como eu que odeia fazer tarefas domésticas, é imenso.
Estava enfiada dentro da pequena divisão das maquinas a dobrar roupa à mais de quinze minutos, não faço já ideia de quantos pares de meias juntei, aborrece-me fazê-lo e ninguém me pede, mas gosto de dar uma ajuda à minha mãe por saber que ela chega sempre cansada do trabalho, tento trocar um pouco os nossos papeis para perceber e na sua situação gostaria que fizessem o mesmo por mim.
Espreito para dentro de um dos cestos e boa, este era o ultimo par, só sobra a minha roupa interior que coloco no topo sem me importar muito, por norma enfio-a toda na gaveta sem me preocupar com a organização. Só já me falta deixar tudo em cada um dos quartos pertencentes e posso enterrar-me por fim no sofá.
Agarro no cesto que acabei de ordenar e encaminho-me, mas ao atravessar a sala noto no meu campo de visão periférica uma sombra alta perto do sofá. Todo o meu corpo petrifica e o sangue congela. A minha visão torna-se fosca enquanto tento absolver a situação.
- Ei ei, calma... - sussurra na minha direcção e eu mesmo estando a encará-lo de frente precisei de um momento para reter em mim quem ele realmente era. Falou tão calmamente tocando com a sua mão no meu braço e como sempre quase tudo se absorveu.
- Porra, não voltes a fazer isso! - digo com o coração aos pulos. - O que é que estás aqui a fazer? – pergunto arregalando-lhe os olhos. – Não, espera, como é que entras-te aqui? – inquiro.
- Eu... - começa, mas sobressalta-se parando de falar quando eu elevo a voz.
- Isaac! – chamo. – Isaac Evans, tens dois segundos para aqui vir! – vocifero até que ele aparece em passos apressados no cimo da escadaria de madeira.
- O que foi mana? - pergunta preocupado.
– Quantas vezes já te disse que não se abre a porta a ninguém?! – digo demasiado alto e ele olha-me de boca aberta.
- A-algumas... - responde confuso.
- Algumas, certo! Então porque é que continuas a desobedecer-me? – ralho. – Sei que não sou a mãe nem o pai mas visto que não tens aqui mais ninguém e que quem toma conta de ti sou eu, gostava que me respeitasses mais! – tenho noção de que estou a gritar com ele, mas estou realmente zangada por ele ter aberto a porta ao Harry sem mais nem menos, poderia ser outra pessoa qualquer mal intencionada.
- Eu não te desobedeci mana. – resmunga.
- Não desobedeces-te? Então porque lhe abriste a porta, hm?
- Abri a porta a quem? – pergunta como se eu fosse cega.
- Estás a brincar Isaac?! – faço-lhe uma cara de poucos amigos. – Acho que ele é grande de mais para não o conseguir ver, não concordas? – ele fica calado a apertar a parte de baixo do seu robe com ambas as mãos claramente amuado. - A sério, vai para o teu quarto antes que eu me chateie mais. – ordeno.
Reparo que os seus olhos estão um pouco brilhantes de mais, mas ele tem de saber que as regras impostas são para o seu bem.
São poucas as vezes que lhe falo assim, mas faço tudo apenas para o proteger, ele tem de perceber que tenho medo de o perder e que algo mau poderia acontecer se eventualmente abrisse a porta à pessoa errada!
Suspiro quando o vejo passar a manga do robe pela cara e de seguida virar costas enquanto em passos lentos desaparece. Odeio ter de fazer isto, este deveria ser o papel dos meus pais, mas não, aqui estou eu a ama-lo com todo o meu corpo mas a fazê-lo odiar-me sempre um bocadinho mais. Mas sou a favor de que mais vale largar ele agora umas lágrimas, do que mais tarde largar-mos nós todos por algo trágico.
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Fallen
ParanormalUm romance cheio de mistério, suspense, drama, criado principalmente para quem gosta de histórias emocionantes com fins imprevisíveis. "A sua única preocupação era conseguir ver o bonito sorriso dele a qualquer altura do seu dia. Haveria crianças ma...