Capítulo 17

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Tenho mesmo de me deixar desde hábito das malas, odeio-as mesmo, passo a vida a reclamar delas e até mesmo quando estão praticamente vazias demoro eternidades para encontrar o que preciso. Mas onde é que eu terei metido a porcaria das minhas chaves de casa?

- Merda! – berro colocando a mão de seguida sobre a boca quando quase sofri de um colapso e um ataque cardíaco ao mesmo tempo.

- Isso não te fica bem Eleanor. – o seu sorriso faz-me querer rir também da situação, mas o bater do meu coração devido ao susto ainda não me deixa ter outra reacção a não ser arfar tentando captar o meu oxigénio e estabilidade de volta. – Desculpa, não te quis assustar. – fala sincero coçando a parte de trás do seu pescoço de forma envergonhada. 

Num gesto rápido olho para o relógio e pouco falta para a uma hora da manhã.

- O que estás aqui a fazer? – pergunto segurando a minha mala contra o peito.

- Eu, bem... sei que te deixei basicamente a falar sozinha e queria-me certificar de que não ficavas com uma má impressão minha. Quer dizer, uma pior ainda... - ele parece realmente atrapalhado enquanto se tenta explicar e eu mentalmente pergunto-me o porquê. Porque se importa ele com que penso ou não em relação à sua figura. 

Um pingo de pena nasce no meu interior ao ouvir as suas últimas palavras, serei eu assim tão óbvia quanto ao receio que por vezes tenho de si? A verdade é que ele também não ajuda muito ao aparecer assim vindo do nada.

- Tu estás sempre a aparecer e a desaparecer sem que eu me aperceba disso, começo a perceber que é algo teu... - deixo os meus lábios inclinarem-se num sorriso de forma a poder amenizar os seus pensamentos em relação ao que eu penso de si, como se dizendo que está tudo bem. - Habituo-me. – respondo de forma simpática. – Para falar a verdade, acho que neste preciso momento poderia piscar os olhos por um momento a mais e já não te encontrar aqui. – riu fazendo-o gargalhar baixinho de forma amorosa. – Iria encarar isso com naturalidade, quer dizer, podes bem ter qualquer espécie de poder que te deixa estalar os dedos e, sei lá, escapares-te de pessoas como eu.  – digo em brincadeira e ele franze uma sobrancelha de forma engraçada como se apenas com o olhar me estivesse a desafiar. – O que é? - deixo escapar uma gargalhada parva.

- Nada, nada... - sorri com os olhos a brilhar, e nesse momento pergunto-me o porquê de estar a falar com um desconhecido a estas horas da manhã, podia facilmente ser roubada. 

"Oh, mentira El, o que tu estás realmente a pensar é o que faz um homem tão bem encarado à porta da tua casa a estas horas!", berra por dentro, porque na realidade nunca tive medo de si, receio é algo diferente e até mesmo esse se vai evaporando com o passar dos minutos que passo perto de si. 

Nesse momento Harry mete uma mão em frente da boca como se tentasse conter uma gargalhada. 

Quando o ia inquirir sobre o porquê de tanta piada, a chegada de um carro faz-me desviar o olhar em direcção oposta à sua. Joey larga simplesmente o carro à porta de casa em vez de o colocar na garagem, odeio que ele trabalhe de mais, está sempre a pedir horas extra e sei que nesse sentido ele não ouve ninguém, mas devia cuidar mais de si. A verdade é que se eu não o fizer ele por vezes perde-se um pouco, ainda sou das poucas pessoas que lhe consegue colocar algum juízo naquela cabeça. Ele parece notar a nossa presença e em passos rápidos coloca-se a meros centímetros até finalmente colar os nossos corpos.

- Dia cansativo? – pergunto retribuindo o quente abraço. 

Os seus braços são sempre um lugar confortável. Ele deposita um beijo na minha testa enquanto acena que sim confirmando a minha pergunta.

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