Capítulo 18

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Abro meus olhos lentamente, e vejo que estou encolhida em um canto da sala de música. Agora sem música, tudo o que resta são meus pensamentos confusos e tristes. Escuto alguém me chamando do lado de fora, mas estou muito fraca pra responder ou me mexer.

—O que aconteceu com você?

Olho na direção da voz e vejo Zack. Seu semblante está confuso e transtornado, ele tem suor escorrendo pelas suas têmporas e seus olhos estão arregalados. Não respondo, mas sinto-o me carregando.

—Vai ficar tudo bem, eu estou aqui.

Aconchego-me em seu peito respirando fundo, sentindo lágrimas escorrerem pelos meus olhos, agora inchados.

—Foi horrível Zack, aqueles trezentos e sessenta e cinco dias foram de tortura. —Sussurro.

Shh. Não precisa falar nada.

—Promete que se algo acontecer comigo, você vai cuidar da minha filha? Quero que a proteja de tudo.

—Do que está falando? Você é quem vai cuidar dela. Está me assustando.

Sinto minha visão escurecendo e meu corpo se mexendo sem parar. Só pude ver de relance Zack tremendo comigo nos seus braços.

—NÃO LANA, FIQUE COMIGO, POR FAVOR.

Fecho meus olhos.

***

Abro os olhos fechando-os em seguida por causa da claridade. olho em minha volta e vejo que estou em um quarto de hospital. Zack dorme na poltrona ao meu lado, e quando me mexo ele salta da cadeira rapidamente.

—Meu Deus, que susto você me deu! —Diz me abraçando.

—Ei! se acalme, estou bem. —falo acariciando seu cabelo.

—De-depois que te peguei no colo, você começou a ter uma convulsão, e se-seu coração desacelerou, então e-eu tive que fazer massagem cardíaca até encontrar pulso. Fiquei tão assustado Lana.

—Desculpe te fazer passar por isso.—Sinto uma ardência se alastrar das minhas bochechas ao pescoço.

—Depois que a ambulância chegou, achei isso no chão. —Me mostra a carta— E eu li.

Fiquei sem reação ao saber que ele tinha lido a maldita carta. Quem ele pensa que é pra ler minhas coisas?

—Por que você leu? Você não tem o direito de invadir minha privacidade dessa maneira!

—O quê? Aquilo era uma ameaça muito grave Lana, você tem que denunciar quem fez isso.

—Não posso. —Sussurro.

—Porque não?

—Ele vai me achar! Não posso. Na verdade, já me achou.

—Quem é ele Lana, o que ele fez para você? Pode confiar em mim.

Não sei se foi o efeito dos remédios, a pressão psicológica ou a vontade de falar que me instigou a gritar o que estava preso em minha garganta há muito tempo.

—ELE ME ESTUPROU! MEU PROFESSOR ME ESTUPROU NO COLEGIAL! —Começo a chorar de vergonha ao me aperceber do que eu poderia perder ao tocar nesse assunto. —Você não sabe o que é sentir tanto medo a ponto de vomitar. Transar com uma pessoa que odeia, pra ela não matar seus pais ou seus amigos. Eu odeio o que me aconteceu, odeio-o, odeio minha vida Zack. Estou exausta, cansada desse trauma que me atormenta dia e noite. Sinto como se meu corpo fosse uma praça pública onde todos podem frequentar.

Seus olhos ficaram mais escuros que o normal, e seu maxilar trava.

—Eu juro que vou fazê-lo se arrepender de ter nascido. —Ele rosna assustadoramente.

—Não tem como! Quero que você saia Zack. Não te quero na minha vida. —Viro meu rosto para o outro lado.

—Não. —Ele fala e volto a encara-lo dessa vez com raiva pela ousadia.

—SAI PORRA, ME DEIXA SOZINHA! —Minha visão embaça novamente.

—NÃO LANA, NÃO VOU SAIR. VOCÊ TEM QUE ENTENDER QUE NÃO ESTÁ MAIS SOZINHA, OUVIU BEM? PORRA LANA, VOCÊ NÃO ESTÁ MAIS SOZINHA. —Ele me abraça contra minha vontade. —E não sairei do seu lado.

Choro abraçada a ele.

—Por que está fazendo isso? —Murmuro contra seu corpo.

—Por que você é muito especial pra mim. Afinal, você é minha única amiga, e amigos cuidam um do outro.

—Obrigada. —Digo aspirando seu cheiro.

***

—Vejo que está bem melhor senhorita Lana. Fizemos alguns exames e não tivemos nenhum resultado anormal. As convulsões podem ser causadas por vários motivos, como um trauma psicológico extremo e misturando com a falta de sono e depressão, causa o que a senhorita teve. Também fizemos um eletrocardiograma e seu coração está saudável, e como você não tem histórico de doenças na família, eu recomendo tirar umas férias e descansar bastante.

—Ok doutor, vou me cuidar.

—E você meu rapaz, cuide desta bela jovem. —O médico lhe dá tapinhas na costa.

—Pode deixar. —Responde com um sorriso.

—Sendo assim, que tal assinar sua alta?—Pergunta estendendo-me uma prancheta.

***

Depois de receber alta, Zack me leva para casa. Insisto muito para almoçar comigo e ele aceita. As meninas não tocam no ocorrido e não me fazem perguntas, o que agradeço mentalmente. Depois de satisfeitos, pego Dasha e o gato apelidado de Toytoy seguindo para a piscina.

—Você bem que poderia tirar esse vestido preto e colocar um biquíni bem pequeno.

—Sinto muito, mas não poderá ter a bela visão do meu corpo na sua mente. —Vejo-o sorrir.

Sentar ao lado de Zack sabendo que não receberei olhares furtivos curiosos ou de pena me deixa consolada. Quando alguém é vítima de abuso sexual, uma das coisas que a impedem de falar é olhar para o rosto reflexivo da pessoa que está te imaginando naquele ato deplorável.

—Não sabia que gostava de gatos. —Ele acaricia a cabeça de Toytoy que ronrona em aprovação.

—Prefiro cachorro, mas tudo bem ter um gato.

Ele faz um barulho de desdém com a boca e continua a brincar com o animal.

—Sabe Lana, nunca mais me dê um susto daquele, sou muito novo para morrer do coração. —Ele me encara seriamente.

—Eu prometo doutor. Aliás, como você me achou na sala de música?

—Deixei meu número com Ester. Ela ficou preocupada e me ligou.

—Entendo. —Digo pensativa.

—Sabe, eu não sou um cara pra ter um relacionamento sério Lana. — Ele fala com a feição triste. Como se estar comigo o lembrasse de algo. —Só... Não quero que se machuque. Até logo.

Ele se levanta e vai embora.

Apesar de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora