Capítulo 7

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Alguns dias depois...

Acordo cedo e vou para a academia no andar de baixo. Sempre gostei de cuidar do meu corpo, visto que quando eu era mais nova, era alvo de muitas piadas de mau gosto devido ao meu sobrepeso.

Depois de uma hora de exercícios, tomo um bom banho e coloco uma blusa branca de manga longa felpuda, uma touca rosa, uma calça preta e um tênis branco. Hoje faz frio; o que até certo ponto é ruim, visto que dá muito mais sono e saio "tarde" da faculdade. Os horários são complicados e acabam comigo. Tenho dois períodos; das oito da manhã até o meio dia, e depois das duas da tarde até às seis. Posso visitar minha pequena apenas a noite e não posso ficar por muito tempo.

Antes de descer do carro, pego minha bolsa e meu celular, indo ao encontro de Kiki e Xubs.

—Bom dia! —Digo cumprimentando cada uma com um beijo na bochecha.

—Bom dia. —Respondem juntas.

—Já vou indo pra sala, tenho que dar uma estudada antes. Conversamos depois?

—Sim, nos vemos depois. —Kiki fala enquanto arruma sua mochila nos ombros, Xubs apenas acena.

Geralmente eu sou a única que entra na sala antes do horário para estudar. Gosto de ter um lugar vazio para que eu possa me concentrar, e repassar o montante de matérias. Depois de um tempo, a aula começa. Na parte da manhã, aprendemos sobre técnica cirúrgica e na parte da tarde, cirurgia experimental.

O tempo passa rápido e quando me dou conta, tenho uma hora livre antes da parte da tarde. Compro alguma coisa, já que não tomei café da manhã e como rapidamente. Depois de um dia cheio, chego em casa exausta. Cumprimento Aubree que logo me avisa que Ester e Amanda já foram embora. Entro no meu quarto preparada para me jogar na cama, e desfrutar de um sono deliciosamente longo. No momento em que entro, dou de cara com uma mulher vasculhando minhas coisas.

—Quem é você? —Pergunto rudemente, e ela pula assustada.

Ela se vira, e mostra seu rosto pálido.

—Sou sobrinha da Mamá. —Esboça um sorriso fraco. —Muito prazer, me chamo Ariana.

—Ah. —Lanço lhe um sorriso envergonhado por minha falta de educação. —O prazer é meu, me chamo Lana.

Analiso melhor seus traços, e constato que ela é muito bonita; seus cabelos escuros estão presos em um coque torto, seus olhos pardos por mais bonitos que sejam, estão tristes e opacos. Sua pele está com um bronzeado invejável, penso nas possibilidades dela ter adquirido essa cor fora do país. Ela não parece ser daqui. Suas olheiras estão profundas e roxas, dando a impressão de que não dorme a dias.

—Eu cheguei há pouco tempo e não consegui arrumar um emprego, então me falaram que sua casa era grande e que precisava de mais uma empregada para ajudar por aqui. Eu vim diretamente para cá e fui muito bem recebida como minha tia-avó disse que seria. As meninas me mostraram alguns cômodos e me deram uma tarefa, eu já estava acabando aqui. —Então a percebo com um espanador nas mãos. —Desculpe ter te assustado senhora Fontenelle.

—Pode me chamar só de Lana, e... Bem-vinda ao meu lar. Você gostaria de ter um quarto aqui, ou já tem um lugar para ficar?

—Não tenho não. —Ela se retrai envergonhada.

—Tudo bem, então procure Aubree e peça para ela mostrar seu quarto. Se você precisar de algo, fale com as meninas ou diretamente comigo.

—Claro, Lana, obrigada.

—Agora vou descansar um pouco. Mais tarde tenho que ir ao hospital. —Jogo minha mochila no sofá do quarto e suspiro cansada.

—Desculpe, a senhorita está bem? —Ela estreita os olhos.

—Estou sim. —Sorrio. —Vou visitar minha filha.

—Filha? —Suas sobrancelhas se arqueiam.

—Ela ainda não é minha filha oficialmente. —Sento-me na minha cama, e solto um longo bocejo. —Mas vai ser. Por quê? Acha que sou muito nova?

—Na-nada disso, Lana, é que não me falaram sobre um bebê na casa. Me desculpe pela intromissão.

—Acho que de agora em diante teremos que se acostumar com a ideia. —Bocejo novamente com os olhos marejados de sono.

—Com licença. A deixarei descansar. —Ela sai com passos apressados.

***

—Oi neném, como você está? —Falo olhando para a bebê, que dorme em meus braços.

—Ela está bem. —Escuto a voz de Zack e levanto meus olhos. —Você está linda.

—Obrigada. —Devolvo a bebê na incubadora, e me levanto ficando em sua frente. —Faz tempo que não nos vemos. Como você está?

—Estou bem, e você? —Ele coloca as mãos no bolso do jaleco.

—Estou bem também. O que faz aqui? —Aspiro o ar levemente, sentindo o cheiro suave do perfume masculino...

—Vim ver uma paciente em especial. —Ele diz encarando a bebê.

—Ah. —Sinto-me estupidamente burra por ter feito uma pergunta tão óbvia.

—Que saudades desse cheiro. —Ele murmura se aproximando. —O que fez comigo senhorita Fontenelle?

—Nada. —Rio pelo nariz.

Sua aproximação me deixa nervosa. Encaro o chão, e vejo seus pés se aproximarem cada vez mais dos meus. Levanto o olhar sentindo minha pele queimar.

—Fez sim. —Ele repousa sua mão em minha cintura e me beija tirando um suspiro surpreso.

Retribuo o beijo sentindo seu gosto inundar minha boca. Enrosco meus dedos em seus cabelos sedosos, e aproximo ainda mais nossos rostos como se pudéssemos nos fundir. Seu nariz desce até meu pescoço, e seus beijos suaves em minha pele estavam me deixando anestesiada, até me lembrar do bebê dormindo bem ao nosso lado, e do profissionalismo entre médico e acompanhante do paciente. Me afasto abruptamente, e encaro qualquer outro lugar que não seja seu rosto.

—Vim avisar que logo ela terá alta e poderá ir embora. —Ele diz tentando afastar sua frustração pelo término do beijo. — Ligue para mim. Se não ligar, irei te encontrar em sua casa.

—Você não sabe onde é minha casa. —Falo em tom desafiador.

Seus olhos brilham de desafio.

—Posso pegar o prontuário de um bebê, e encontrar seu endereço fácil. —Ele pisca os cílios negros, e sai da sala.

Sento-me na cadeira sentindo meu corpo vivo pela primeira vez em muito tempo. Encaro a incubadora outra vez, e acaricio a mão pequena que repousa preguiçosamente sobre o material macio.

—Me diga, bebê. O que eu faço?

Apesar de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora