CONTÉM BOOK TRAILER.
Apesar de Você conta a história de Lana Fontenelle; filha de empresários ricos, estudante de medicina, e dona de uma personalidade reprimida. Com seu passado traumático e cheio de lágrimas, ela nunca planejou ter o gostinho da...
—Venha moça. —Diz o socorrista me ajudando a levantar.
—E-eu vou ir lá. —Digo trêmula.
—Eu sinto muito pela sua perda, todos estão chocados. —Ele aponta para todas as pessoas que estão paradas olhando a cena boquiabertas. —Mas lá só tem fogo e destroços, pode se machucar.
—Você não sabe de nada. —Digo em um rosnado. —Agora tire a merda da sua mão do meu braço e me ajude a procura-los.
Puxo meu braço e começo a correr ignorando a dor que se instalou em meu corpo. Chego perto do ônibus em chamas e meu estômago embrulha.
—Zack seu desgraçado, se você morrer nunca te perdoarei. —Sussurro com lágrimas nos olhos.
Dou a volta no ônibus em chamas e não vejo nada além de fogo e partes arremessadas pela explosão. A chuva volta a cair diminuindo o fogo. Fico estática olhando para o cenário a minha frente. Algumas lembranças de Zack sorrindo e me beijando surgem em minha mente como um parceiro traidor.
Contorno a aliança em meu dedo, e meus joelhos cedem. Choro tudo o que não chorei em anos. O medo se instala na minha garganta, e a possibilidade... A possibilidade de organizar um funeral arranca um pedaço do meu coração. Depois de um tempo escuto alguém falar comigo.
—Moça, vamos entrar? Não há mais nada a ser feito. —Diz o socorrista.
—Tudo bem. —Obrigo minhas pernas a se levantarem.
Escuto um ruído baixo e viro minha cabeça procurando alguma coisa no escuro.
—Eu acho que ouvi alguma coisa. —Digo com um fio de esperança.
—São apenas os ferros do ônibus estalando por conta do fogo.
—Entendi. —Digo em um fio de voz.
Escuto o barulho novamente, e meu coração diz para eu verificar. Me solto dos braços do socorrista, pego a lanterna de sua mão e corro para o escuro seguindo o barulho.
Não consigo enxergar muito bem, mas continuo procurando. Meu coração parece saltar e o ar se extingue dos meus pulmões quando vejo uma mão batendo em um metal com algum objeto do destroço.
—Zack?
—Lana? É você?—Ele pergunta sussurrando.
—Ai meu Deus, você está vivo! —tateio achando seu rosto.— ALGUÉM ME AJUDE! TENHO DOIS FERIDOS AQUI!
Vejo luzes ao longe tentando me encontrar. Grito e aceno mais uma vez. Médicos e enfermeiras correm ao meu encontro.
—E-eu salvei a garotinha com meu próprio corpo. Ela está estável. —Zack geme ao atirar o corpo para o lado e mostrar a criança inconsciente.
—Não se esforce amor, tudo vai ficar bem.
Os médicos o estabilizam e colocam-no na maca. Zack fez um corte feio na perna, perto do lábio e algumas queimaduras no braço.
—Estou aqui amor, estou aqui. —Pego em sua mão e corro acompanhando os médicos.
—A senhorita não poderá acompanhar daqui em diante. —O enfermeiro me barra e sou obrigada a soltar sua mão.
***
—Mamãe, papai? Posso falar com vocês? —Digoencarandominhasmãos.
—Claro meu amor, o que foi?—Mamãefechaseulivroemeencara.
—Há algo errado com você filha?—Papaimeolhapreocupado.
—Bom... E-eu preciso falar uma coisa.—Digo fungando. —Podemos conversar no meu quarto?
Subimos a escada e entramos no quarto sério demais para ser de uma adolescente. Sento na cama bagunçada e meus pais pegam uma poltrona, sentando em minha frente. Respiro fundo e encaro a minha janela observando a neve caindo lentamente enquanto crio coragem para me abrir.
Encaro as duas pessoas mais importantes da minha vida, e decido falar antes que eu perca a coragem.
—E-eu vou falar, e, por favor, não me interrompam tudo bem?—eles assentem e eu respiro fundo.
—Um dia, entrou um professor novo na escola. Ele tinha os olhos azuis mais bonitos que eu já tinha visto.
"Ele começou a me dar aulas particulares depois da aula, me ajudando em algumas matériasqueeuestavacomdificuldade. Com o passar dos dias, fomos ficando íntimos, ele até me levava para tomar sorvete, e também se abria comigo sobre seus problemas. Ele falava que me considerava uma irmã mais nova."
—Filha eu não... —Minha mãe interrompe com uma cara confusa. Faço um gesto com os dedos que a faz parar de falar e a mesma me deixa prosseguir.
—Um dia, ele estava sentado do meu lado e começou a acariciar meu rosto.—As lágrimas caem. —Eu pensei que era um contato inocente. Ele começou a acariciar minhas pernas e eu me senti desconfortável, assim, pedi para ele parardefazer aquilo. Então... Ele falou que me queria de outro jeito e eu neguei. Afinal eu era uma criança comparada a sua idade. Ele... Me forçou e depois me ameaçou de diversas maneiras. —Falo para mim mesma, mas tenho certeza que eles ouviram.
Meus pais arregalam os olhos. Pude ver o meu pai, o homem que nunca chora, chorar igual a um bebê.
—Eu nunca fiz parecer nada além de uma amizade, eu juro. —Digo sentindo-mesuja.
—Acreditamos em você meu bebê. —Fala minha mãe com o rosto inchado e vermelho pelo choro recente.
—Eu não queria que vocês sofressem.
—Me diga o nome desse filho da puta. —Meu pai pede com a voz sofrida.
—Linc Klanfild.
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***
—Senhorita, já poderá vê-lo. —Saio do transe e pisco algumas vezes assimilando o que a enfermeira falou.
—Obrigada.
Caminho em passos apressados e chego à frente do quarto. Respiro fundo e abro a porta. Vejo-o deitado com o rosto pálido, dormindo profundamente. Sento na poltrona do lado de sua cama e fico fazendo carinho em seus cabelos castanhos. Ajeito minha cabeça em seu peito aspirando seu cheiro.
Enlaço nossas mãos e fecho meus olhos. Tudo vai ficar bem.