Capítulo 1

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O HOMEM DA CAPA

" O amor nasce de pequenas coisas, vive delas e por elas às vezes morre."
_ Lord Byron

Estou em meu quarto, sentada em frente ao espelho acoplado na cômoda de madeira polida e envernizada. De forma rápida penteio meus cabelos longos e ruivos, em quanto fito meus próprios olhos castanhos no espelho, esperando que minha única e melhor amiga Katarina chegue.

Kath era o apelido que eu havia lhe dado. Desde que a conheci a um ano atrás. É uma garota muito bonita, alta, pele clara, olhos castanhos e cabelos negros, longos e ondulados. Quando a vi na cantina da escola quis falar com ela, pois a impressão que tive, era que seria ótimo ser amiga dela, mas nem precisou, Kath me poupou esse esforço, em quanto pensava no que dizer Kath já estava vindo em minha direção. Era uma tagarela. Desde esse dia ficamos amigas. E eu estava certa, Kath é a melhor amiga que alguém poderia ter.

__ Lucy? Posso entrar? __ Ouvi a voz de Kath do lado de fora do quarto. Minha mãe gosta muito dela, então ela já entra sem nem pedir licença.

__ Pode sim Kath. __ Respondi olhando a palidez de minha pele em quanto me levantava da cadeira.

- E então, como está sendo o dia? Animada com os tão sonhados 18 anos? __ Pergunta Kath já sentada na minha cama.

__ Bem, você sabe como sou no quesito animação. E o dia? Iremos saber a noite. __ Falei. Na verdade eu não sou de sair, e é por isso que agora, Kath esta com uma expressão de quem não entendeu nada.

__ AM? Como assim? Não estou entendendo! O que você quis dizer com "iremos saber à noite"? __ Ela perguntou enfatizando a última frase e fazendo o gesto de aspas com as mãos.

- Iremos sair para comemorar! __ Exclamei fingindo empolgação.

__ Como é que é? Você esta bem? __ Kath pergunta um tanto confusa em quanto colocava a parte detrás da mão na minha testa como se checasse a temperatura e soltava uma risadinha irônica porém preocupada.
Dou um leve tapa no braço de Kath tirando a mão dela de minha testa.

__ Hahaha, para de graça Kath, estou muito bem, e falo sério sobre sair. Inclusive já falei com papai e mamãe iremos sair hoje a noite, e adivinha só, eles tiveram a mesma reação que você. __ Reviro os olhos.

__ Ah Lucy... É compreensível. Você não gosta de sair.

__ É verdade, não gosto! Mas hoje estou sentindo uma coisa estranha. Sinto que devo sair. __ Falei.

__ Não me diga que você voltou a ouvir aquelas vozes...

Sim havia contado sobre às vozes para Kath. Ela foi a única em quem confiei este segredo.

__ Tem certeza que está bem?

__ Sim Kath! Estou bem! Já disse.

__ E para onde vamos? __ Perguntou Kath curiosa.

__ Não sei. Decidiremos na hora. Vamos fazer um lanche enquanto não chega a hora de irmos, à noite temos que estar com as energias revigoradas.

Descemos as escadas e fomos rumo à cozinha, comemos panquecas de frango que minha mãe havia preparado, com uma velha e boa coca.

Logo já era noite e estavamos preparadas, ja na sala de estar quase saindo pela porta quando eu senti uma vertigem e parei subitamente meio tonta.

__ Não vá Lucy. Você vai se arrepender. Está em perigo, você é muito poderosa, e eles te querem! __ Disse a voz que soava em minha cabeça.

__ Lucy? O que foi? Você parou e ficou estranha de repente.__ Ouvi Kath dizer me tirando de meu transe repentino.

__ Não é nada Kath, estou bem! Vamos logo. __ Disse puxando minha amiga pela mão.

Fiquei assustada com o aviso da voz, mas não quis dizer nada para Kath pois ela ficaria mais assustada ainda e desistiria de sair. Não deixaria aquela voz inconveniente estragar a noite. E também não podia ser sério aquilo.

Logo já estavamos na Oxford Street caminhando em meio a neblina espessa, com pouca visibilidade. A avenida por mais incrível que pareça estava deserta, não havia ninguém além de nós alí. Um clima estranho pairava no ar. Fazia frio. Por sorte estavamos prevenidas.

Caminhando ainda perto da casa, eu imaginava o quão louca eu estava sendo em sair essa noite, para sabe Deus onde, foi quando ouvi a voz novamente:

__ Lucy, não vá, volte para casa.

__ Quem é você? __ Indaguei.

__ Não importa. Você tem que voltar agora. __ Disse a voz, com um tom mais sério do que a primeira vez.

__ Não. Não irei voltar! Quero respostas, diga-me quem é você, por que devo voltar para casa? Por que está na minha cabeça? __ Após essas perguntas nada se ouve e tudo fica em silêncio. Apertei os olhos e continei andando ignorando o olhar espantado de Kath. Quando demos uns cinco passos a frente, ouvi novamente a voz.

__ Droga Lucy. Já estou ficando puto com você, você não facilita. Já vi que terei que resolver pessoalmente isso ou você vai se meter numa encrenca. __ A voz parecia realmente irritada.

__ Kath, tenho que te dizer uma coisa, eu menti que estava bem quando saímos de casa. Aquela voz voltou, e desde aquela hora que fiquei estranha que ela está me alertando para não sair de casa. __ Falei arrependida. A verdade era que isso já estava ficando sério demais, e eu já estava com medo. Essa voz nunca tinha sido tão direta.

__ O que Lucy? E o que ela diz?

__ Como estou te dizendo... Disse para não sair de casa. Que devíamos voltar. Que estou correndo perigo. Mas quando viu que eu não vou voltar disse que vem pessoalmente, inclusive pareceu muito irritado.

__ Irritado? Então é uma voz masculina?

__ Sim Kath! É. E agora que disse que virá resolver isso pessoalmente irei desafiá-lo, não irei voltar pra casa. Sinto que essa voz tem alguma ligação com uns sonhos estranhos que eu tenho desde pequena, disculpa não ter te contado sobre isso. Não quero te colocar em perigo, se quiser voltar tudo bem, mas irei continuar, pode ser minha única oportunidade de saber o que é que acontece comigo. __ Expliquei.

__ Não Lucy, não vou deixar você ir sozinha. Sou sua amiga, amiga de verdade não abandona aconteça o que acontecer. Mas pra onde exatamente vamos?

__ Não sei. Continuaremos andando. Se isso faz parte do meu destino saberei para onde ir. E se o perigo realmente existe logo iremos encontra-lo. __ Falou continuando a caminhada. Caminhamos pela avenida umas duas quadras até que avistamos uma figura estranha caminhando ao longe. Toda vestida de preto. Inclusive com uma capa longa e capuz. Andava cabisbaixo e apressadamente na nossa direção. Pelo porte físico parecia ser um homem.

Kath e eu observava-mos aquele ser se aproximar, sem saber ao certo se devia-mos ficar alí paradas desafiando o desconhecido. Mas o quão ruim poderia ser? Perguntei-me mentalmente enquanto mantia os olhos fixos no ser que se movia e ficava cada vez mais perto em quanto segurava forte a mão de Kath.

A Eleita - Ouça Sua Voz Interior (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora