PRISÃO
" Além deste local de irá e lágrimas ergue-se apenas o Horror da sombra.
_ William Hernest Henley
Acordo com uma enorme dor nas costas, minha visão está embasada, parece que tudo ao meu redor está girando. Pisco os olhos apertando-os para focar a vista.
Estou numa espécie de cela, tão bem equipada que mais parece um quarto. Ao redor de mim há mais celas porém só a que eu estou tem uma cama de casal no centro, coberta por lençóis de ceda branca e muitas almofadas. No chão há um tapete enorme em que antes eu estava deitada. Sua cor predominante é vermelho sangue, e as bordas são negras. No centro há uma espécie de símbolo que eu nunca tinha visto antes. Ele é composto por um círculo, com dois riscos no meio, tortos e pontudos nas duas extremidades de baixo. Se assemelham a presas.
Tem também uma cômoda de madeira envelhecida. Com um espelho embutido. Sobre ela há livros, produtos de beleza, um Smartphone conectado a fones de ouvido. Porque eu iria querer ouvir música num lugar estranho como esse? Frascos de perfume e uma orquídea chamada Cattleya que é a minha favorita. Curioso. Porque minhas coisas favoritas estão aqui? Nem quero imaginar mas já anceio por respostas.
As únicas paredes que tem, são as que ficam de fundo com as celas, as divisórias são grandes de aço. Do meu lado esquerdo em uma dessas celas está Kath, já acordada, olhando ao redor.
__ Kath? __ Eu a chamo me aproximando da grade.
__ Lucy, que bom que você acordou! Sabe onde estamos? __ Ela me pergunta com uma mistura de medo e curiosidade no olhar.
__ Não sei Kath. __ Respondo. __ Acabei de acordar. Estou com medo. __ Digo admitindo pela primeira vez.
__ Eu também. __ Ela diz passando um braço pela abertura que fica entre as grades, tocando no meu ombro tentando me confortar. Kath sempre diz que quando admitimos e compartilhamos de um mesmo sentimento com alguém é o primeiro passo para sentirmo-nos melhores. Kath é uma pessoa altruísta, sempre diz está com medo mesmo quando não está. Ela sempre foi mais corajosa que eu, mas dessa vez, sei que não é só uma tentativa de me acalmar.
__ Olha. __ Ela diz apontando pro lado direito da cela. __ Talvez ele possa nos dizer onde estamos.
Me viro para olhar. Na outra cela, há um homem que aparenta uns vinte e dois anos, barba rala, cabelos e pele clara. Seu olhos exibem um brilho igual ao dos olhos do homem da capa, porém prateado. Sou capaz de perceber enquanto me aproximo que são olhos azuis. Os dele não me passam medo, e sim segurança. Ele é muito bonito e atraente e não parece está aqui a mais tempo do que Kath e eu pois está trajando uma calça jeans rasgada, camiseta azul marinho, sapatos e uma jaqueta de couro, e elas estão limpas e em perfeito estado. Ele não tem cara de sono como eu ou Kath, o que indica que ele já acordou a mais tempo e parecia estar nos observando mesmo antes de eu me aproximar.
__ Oi. __ Digo sentando-me no chão e repousando a cabeça na grade, olhando pro homem de olhos azuis brilhantes. __ Faz tempo que está aqui? __ Pergunto mesmo sabendo a resposta.
__ Não. __ Ele responde simples
__ E a quanto tempo faz?
__ Cheguei assim que vocês chegaram. __ Ele me olha com muita atenção.
__ Como é seu nome?
__ Lyon. __ Ele diz.
Estranho, mas só agora percebi a semelhança na voz dele, parece que eu já o conheço, e esse nome é tão familiar.
__ Prazer Lyon, sou Lucy, e aquela é minha amiga Kath, digo apontando pro outro lado onde ela está, e estendendo a outra mão para ele por entre as grades da cela.
Ele olha para minha mão, depois para mim, e sorri, já posso sentir teu toque gelado e nesse momento várias imagens se formam em minha cabeça enquanto ouço a voz soar como uma trilha sonora em minha mente. A mesma voz que diz que não é para mim sair na noite de meu aniversário. É a voz dele! Lyon está nas imagens que são projetadas, só que é diferente, ele tem presas, e também há imagens do rosto que desenho, cenas de lugares que andei e momentos em que eu estava completamente sozinha, vistas de um outro ângulo. Eram memórias de Lyon em que eu era protagonista.
Mas como isso era possível?
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A Eleita - Ouça Sua Voz Interior (COMPLETO)
LosoweLucyla Stanford está prestes a completar dezoito anos. Para muitos jovens, o início de sua vida adulta, mas para ela não chegará a tanto. Tudo se inicia com o som de uma voz que ecoa em sua mente, falando coisas sem nexo e tirando seu sossêgo. Sem c...