Após meu almoço com Sara, paguei minhas contas e retornei à escola para o turno da tarde. Ao caminhar pelos corredores em direção à sala de aula, percebi olhares sobre mim. Alguns funcionários, que no período da manhã foram simpáticos comigo, agora me olhavam desconfiados. Pelo jeito, Nicole fizera seu dever de casa muito bem.
"Paciência, Ana!" – pensei. Eu tinha uma turma me esperando e um trabalho a cumprir. E o cumpriria muito bem, como sempre fiz desde que fui contratada.
Para mim, as segundas-feiras sempre eram mais difíceis e cansativas, e quando o sinal finalmente soou, indicando o final da última aula, foi como música para os meus ouvidos. Enquanto guardava meu material, senti meu celular vibrar dentro do bolso da calça jeans. Quando o retirei e vi quem ligava, meu coração acelerou e uma onda de tranquilidade me envolveu. Busquei com uma mão pela cadeira, a puxei para trás, e me sentei. Respirei fundo.
- Ei, querido! – disse. Apoiei os dois cotovelos na mesa, sustentando minha testa na minha mão livre. Fechei os olhos buscando me desligar da movimentação no corredor da escola, e me concentrar apenas no som suave da sua voz.
- Meu amor, como você está? – Simon disparou com a voz alta, quase abrupta, e percebi que havia muito barulho ao fundo. Trânsito, talvez?
- Melhor agora que estou ouvindo a sua voz. Eu fiquei preocupada com você, Simon! – choraminguei.
- Eu sei, minha amada, e eu aprecio a sua preocupação. Mas como vê, nada me aconteceu. Você ainda está no trabalho?
- Sim.
- Vai sair agora? – ele perguntou rápido, parecendo com pressa.
- Daqui a uns dez minutos, eu acho. Está tudo bem?
- Tudo perfeito. Vejo-te em breve. Agora eu preciso desligar.
Só tive tempo de dizer um rápido e relutante "ok", e então, sem nenhuma cerimônia, ele desligou. De repente, no lugar onde antes estava ocupado com a sua voz, restou apenas o barulho da linha telefônica. Olhei incrédula para o telefone celular em minha mão e sacudi a cabeça sem entender nada. Durante todo o dia eu esperei impacientemente para ouvi-lo e foi isso o que ganhei?
- Nada romântico, Simon. Nada romântico – resmunguei para mim mesma.
Terminei de arrumar meu material quase que de má vontade. Quando tudo já estava em ordem, me levantei, joguei minha bolsa por sobre um ombro, e segui em direção à porta da sala. A maioria dos alunos já havia saído e poucos ainda circulavam pelos corredores indo de encontro à saída. Estava inconformada, pensando milhões de coisas ao mesmo tempo e desenvolvendo discussões acerca do telefonema de Simon. Me senti aliviada ao saber que ele tinha despertado em segurança, mas daí ele ligar e cuspir um conjunto de palavras em menos de trinta segundos também não foi lá grande coisa. Seguia distraída nessa discussão interna, quando meu olhar voltou-se para a porta da sala dos professores bem a tempo de ver Nicole deslizar para fora. Quando me avistou, seu rosto pareceu se iluminar e um sorriso de orelha a orelha surgiu em seus lábios. Ironicamente, ela parecia realmente feliz em me ver.
"Me engana que eu gosto" – pensei, logo desviando meu olhar do dela. Não que eu goste de ser enganada, nem um pouco, acredite. Mas enfim, o ditado se aplicava muito bem a situação, porque eu sabia que ela não morria de amores por ninguém. Muito menos por mim. Quando ela veio toda saltitante e se colocou ao meu lado, a coisa só piorou.
- Ana! – ela disse meu nome com tanto entusiasmo que qualquer um acreditaria que éramos melhores amigas. Continuei andando, sendo seguida por ela. – E então? Você vai encontrar seu namorado sanguessuga hoje? – suas sobrancelhas castanho-claro se elevaram em um claro sinal de superioridade que ela achava ter em relação aos demais.
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Meia-noite Sombria
VampireSegundo volume da série Ao Anoitecer. Sinopse Conhecidos, mas não descobertos. Saídos das sombras, os vampiros firmaram-se como cidadãos na sociedade e provaram que tudo o que era sabido a seu respeito não passavam de lendas. Ou não. Passa...