Passos altos e enérgicos ecoavam as minhas costas, à medida que eu seguia para o segundo andar da casa. Atravessando o amplo corredor a longas passadas, cheguei à porta do quarto de Simon, deixando-a aberta ao entrar no cômodo. Busquei pela bolsa que tinha usado para levar minhas roupas, encontrando-a depositada em cima do assento estofado de uma cadeira, próximo a porta de vidro que dava acesso à varanda. Cruzei a extensão do quarto e a tomei bruscamente em uma mão quando a alcancei, lançando-a sobre a cama em seguida. Quando ia em direção ao guarda-roupa, vi Simon cruzar a porta.
- O que? – o ouvi dizer, mas não tive coragem de olhar em seu rosto. Ignorando sua presença ao passar por ele, abri as maciças portas do móvel e comecei a retirar minhas roupas que havia acomodado junto às suas, para lançá-las sem nenhum cuidado dentro da bolsa. - O que você está fazendo, Ana? – ele perguntou as minhas costas.
- O que é que tá parecendo? – perguntei, ofegante pela fúria e nervosismo. - Eu estou arrumando minhas coisas – disse secamente. Um terrível nó se formou em minha garganta, causado pelo esforço que fazia para segurar o choro.
- Eu percebi isto, mas por quê? Pra que? – Simon perguntou com a voz firme.
- Eu estou voltando para a minha casa – me limitei a dizer, ao passar por ele e retirar mais algumas roupas de dentro do guarda-roupa. Tomei cuidado em manter os olhos abaixados, voltados para o chão, para não cair na tentação de olhá-lo. Não suportaria encontrar seus olhos por um único momento sequer, sem que isso me causasse dor.
- O que?! Agora?! – ele exclamou. - O que de tão urgente se passa, que você precisa voltar agora para a sua casa? De madrugada? – perguntou, e de soslaio pude perceber o vulto de seus braços enquanto ele gesticulava.
- Eu preciso ficar longe de você, Simon. É isto o que está acontecendo – respondi, forçando uma calça jeans a entrar na abertura da bolsa.
Sentia que ia explodir e esbravejar toda a minha indignação por tê-lo ouvido se oferecer para caçar o maldito vampiro, criador de toda a sua raça. Mas não podia fazer isso. Não queria confrontá-lo, e não faria isso. Precisava ir embora agora. Era o melhor que eu tinha a fazer. Nervosa, e com a visão turva pelas lágrimas que procuravam sua liberação, estava forçando um casaco para dentro da bolsa quando senti o toque frio dos dedos de Simon envolvendo meus braços em um aperto firme, mas não agressivo.
- Ana, para. Olha pra mim – ele pediu, fazendo com que eu parasse o que estava fazendo, virando-me de frente para ele.
- Me solta. Deixe-me passar – respondi, forçando o braço, tentando inutilmente me desvencilhar de seu domínio.
- Não. Olhe pra mim – Simon ordenou com a voz firme, abaixando o rosto para encontrar meu olhar. Soltando um longo suspiro, ergui o queixo e o encarei. Quase rompi em lágrimas ao encontrar seu rosto tão próximo ao meu, sua testa franzida e nos olhos um brilho de confusão. - Mas o que é isso? Estás agindo como um javali raivoso – ele disse, e sorri de puro nervosismo ao ouvir sua alusão.
- Obrigada pelo elogio carinhoso. Agora deixe-me passar - murmurei.
- Não. Quer me explicar o que se passa aqui? Nunca a vi assim – ele disse, correndo os olhos pelo meu rosto. - O que significa tudo isso? Está assim por conta do que ouviu no telefonema? É isso?
- Eu estou assim por esse Drago representar tudo de ruim que se possa imaginar! – exclamei. - Como se isso não bastasse, ele ainda é responsável por promover esses ataques aos humanos. E mesmo sabendo o quão cruel ele pode ser, bastou você descobrir que era ele quem estava fazendo essa merda toda, pra se oferecer para caçá-lo? Por Deus! Que vontade eu tenho de lhe socar por isso, Simon! – esbravejei, e dessa vez, quando forcei o braço, ele me liberou.
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Meia-noite Sombria
VampirSegundo volume da série Ao Anoitecer. Sinopse Conhecidos, mas não descobertos. Saídos das sombras, os vampiros firmaram-se como cidadãos na sociedade e provaram que tudo o que era sabido a seu respeito não passavam de lendas. Ou não. Passa...