Capítulo 11

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Faltava pouco para o pôr-do-sol quando desci até a cozinha. Queria fazer uma gentileza para Simon e pedi a ajuda de Victor para me auxiliar, no que ele prontamente atendeu. Enquanto eu buscava por uma taça em um dos armários, Victor se incumbiu de retirar de dentro da geladeira uma embalagem de bolsa com sangue.

Ouvi atentamente suas orientações acerca do armazenamento, enquanto ele se colocava ao meu lado, junto à ilha. Posicionei a taça sobre a bancada de granito e o vi romper a embalagem para despejar o líquido viscoso dentro da taça.

– Deve ser aquecido por quarenta segundos no micro-ondas – acrescentou, informando pacientemente.

Concordei com a cabeça e fui até o micro-ondas, onde coloquei a taça dentro do compartimento e acionei o tempo conforme sua orientação. Assim que o time apitou, retirei a taça, agora com o material morno pela temperatura do líquido, que por sua vez exalava um cheiro bem característico, e coloquei-a sobre uma bandeja que Victor providenciara. Após agradecer pela ajuda que ele tinha me dado, rumei em direção ao quarto de Simon.

Como sempre, o ambiente estava mergulhado na penumbra. Deixando a bandeja sobre o criado mudo, liguei o abajur, que iluminou parcialmente o quarto com sua luz tênue amarelada. Depois, fui até o banheiro e coloquei a banheira para encher. Voltando para o quarto, sentei na beirada cama, ao lado de Simon. Não precisei esperar muito tempo para logo ver seus olhos se abrirem.

- Ei, amor! – ele saudou, sorrindo carinhosamente.

- Olá! – disse, me inclinando para debruçar sobre seu peito e beijar-lhe a boca.

- Como você está? – ele perguntou com um sussurro.

- Melhor agora – lhe sorri. - Eu trouxe algo pra você... – esticando uma mão até onde a taça estava, a tomei, sustentando-a enquanto Simon sentava-se na cama. – Aqui – lhe ofereci a taça.

- Obrigado, Ana. Não é nada comparado com o seu, mas vai servir pra nutrir – ele agradeceu, tomando o primeiro gole em seguida.

Quando Simon sugava do meu sangue, ele o fazia em uma quantidade pequena, apenas para satisfazer seu desejo, e não sua sede. Me lembro de quando ele disse que não precisava se alimentar todos os dias. Mas, como a quantidade que ele havia sugado de mim na noite anterior era irrisória, entendi que hoje se fazia necessário que ele tomasse a quantidade devida para se nutrir por completo. Conforme eu já havia presenciado, aquele parecia ser um momento único e muito singular para ele, como se fosse sagrado.

- Por nada. Achei que você fosse precisar – lhe sorri, e pressionei levemente uma mão sobre seu peito, sentindo sobre a palma seus batimentos cardíacos. Simon tomou mais um gole, até que virou a cabeça na direção do banheiro, como se algo tivesse lhe chamado a atenção.

- Isso é a banheira?

- Aham. Eu a coloquei para encher, pouco antes de você despertar. Pensei que a gente podia tomar banho juntos.

- Perfeito.

- Você precisa ir ao clube hoje?

- Não. Gabriel e eu combinamos que hoje ele fica responsável pelo clube. Então, eu sou todo seu – ele disse sorrindo, levando a taça aos lábios para beber mais um gole.

- Não se você ficar demorando para se alimentar - provoquei. - É capaz de eu envelhecer, antes que você termine isso aí – brinquei, gesticulando em direção à taça que ele segurava.

Meu estômago gelou, e meu ventre se contraiu, quando o vi franzir a testa, me encarando com os olhos estreitados e com um brilho obscuro os tomando, e cerrar os dentes, travando o maxilar. Sem dizer uma única palavra, Simon levou a taça uma última vez aos lábios para sorver o restante do líquido de uma só vez. Com um movimento muito lento, ele se inclinou para o lado e colocou a taça sobre o criado mudo. Quando voltou a se recostar na cabeceira da cama, Simon pareceu soltar um longo suspiro e pousou as mãos espalmadas sobre ambas as coxas.

Meia-noite SombriaWhere stories live. Discover now