Capítulo 18

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Grandes olhos verdes contemplavam a face impassível de Gabriel, enquanto um sorriso largo, mas vazio, tomava conta dos lábios do vampiro, menor do que Simon em alguns centímetros. Ele vestia-se de forma sóbria com uma calça jeans de lavagem escura e sobretudo de lã preta, com dragonas nos ombros e abotoamentos que dispunham-se organizados em duas fileiras interligadas, como em alguns uniformes militares. Dono de longos cabelos negros que adornavam seu rosto, pálido e másculo, o homem revelava uma beleza exótica e traiçoeira, mas que em nada denunciava profundamente o quão cruel ele poderia ser. No entanto, por conhecer parte de sua história e feitos, estar consciente de um perigo com suas proporções era sufocante. Porém, mais desconcertante do que encarar o vampiro que havia sido criado para ser a personificação da própria morte, foi vislumbrar o semblante aturdido de Simon. Todo o meu corpo tornou-se febril quando encontrei seu olhar e mal pude suportar encará-lo sem que isso me doesse o coração.

- Comissário Clark, imagino – a voz grossa de Drago, dotada de certo sotaque, soou, fazendo com que eu piscasse algumas vezes, desviando o olhar de Simon para encará-lo. Ao meu lado, senti Gabriel enrijecer-se e seus dedos fecharam-se um pouco mais em torno do meu braço, cravando minha pele, mas logo em seguida seu aperto diminuiu quando ele me liberou.

- Meu senhor - Gabriel disse com a voz solene. Descendo ao chão, ele apoiou-se em um joelho e inclinou a cabeça em uma reverência. Em resposta ao gesto, o vampiro soltou uma gargalhada perturbadora.

- Oh, por favor, não há necessidade disso! Levante-se, meu filho – Drago pediu, e lentamente Gabriel ergueu-se. – Ao contrário dos conselheiros que lhes representam, eu não exijo tal demonstração patética de respeito – acrescentou com desdém. - É um prazer poder finalmente conhecê-lo pessoalmente, meu filho – saudou, sorrindo.

- Igualmente, senhor – Gabriel declarou, desconcertado.

Corri o olhar de Drago para Gabriel e então encontrei o olhar de Simon no momento em que ele voltou-se para mim.

- Vá – ele pediu com um sussurro.

- Oh, não – Drago intercedeu. - Por favor... permita que a humana fique - pediu. - Enquanto vinha pra cá eu não fiz nenhuma parada e agora me encontro realmente faminto. De fato, uma refeição será mais do que bem-vinda – declarou, sorrindo para Simon, que travou imediatamente o maxilar. Contendo a raiva, ele saiu do lado do vampiro e pôs-se ao meu lado. Sem, aparentemente, perceber a natureza defensiva que o gesto continha, Drago continuou a falar. - Pelo que vejo, os rumores acerca do seu estabelecimento são verídicos. É um belíssimo local e ser recebido assim, com uma bela refeição como esta... – ele fez um gesto apontando em minha direção - ...só prova a excelência do local.

Engoli em seco ao ouvi-lo se referir a mim dessa forma. Nesse momento, mais do que medo ou temor, por mim e por todos os que ainda se encontravam no interior do clube, passei a sentir raiva e repulsa pelo tipo. Nem a lamentável história de sua conversão e nem a perda de seu filho e mulher, nada disso era motivo o suficiente para que o fizesse perder o respeito pela vida humana. O encarava, quando senti a mão fria de Simon alcançar meu pulso, circulando-o em um aperto que chegou a tornar-se doloroso.

- Se o senhor precisa alimentar-se, permita que eu traga algo que possa lhe nutrir – Gabriel sugeriu, mas não moveu-se do lugar.

- Oh, não, não se incomode – Drago fez um gesto com a mão, tranquilizando-o. - Por enquanto, a humana aqui já está de bom tamanho. Claro que se vocês quiserem me agradar, podem buscar mais uma ou duas humanas, tão belas e quentes como essa aí – ele sorriu, e então ergueu uma mão em minha direção. – Venha aqui, minha jovem – chamou, e senti ambos os vampiros que me ladeavam enrijecerem-se. Simon, então, prontificou-se a lhe restringir o pedido.

Meia-noite SombriaWhere stories live. Discover now