Capítulo 17

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Meus joelhos amoleceram e senti como se o chão me faltasse. Não podia ser. Não agora. Não aqui. Não tão cedo. Fechei uma mão em torno do braço de Simon, pressionando-o, quando uma terrível onda de medo percorreu meu corpo, da sola dos pés ao couro cabeludo, que começou a formigar, assim como minha nuca. Simon só podia estar equivocado. Por certo, ele devia estar vendo alguém que se parecia com o tipo. Se Simon estivesse certo, como o homem entrara no estabelecimento sem que Roy percebesse de quem se tratava? Será que o vampiro nunca fora apresentado à figura do pai de sua raça?

- Tem certeza? – perguntei, e olhei para o salão. Não devia ter mais do que cinquenta pessoas circulando pelo clube nesse momento. Sob a iluminação baixa e com feixes coloridos, nenhum dos frequentadores me pareceu como sendo o vampiro de milhares de anos que nos últimos meses vinha deixando um rastro de vítimas humanas por onde passava.

- Absoluta – Simon respondeu sem vacilar. Sob minha mão, senti seus músculos se enrijecerem.

- Talvez seja só alguém parecido – disse, olhando para o seu rosto.

Desde que avistou quem ele considerava ser o criador de toda a raça dos vampiros, Simon não havia desviado o olhar do alvo um minuto sequer, como se temesse perdê-lo de vista.

- Não, é ele sim – respondeu, cerrando os lábios em uma linha fina em seguida.

- E onde ele está? – perguntei, seguindo a direção de seu olhar, mas não consegui identificar nenhum tipo incomum.

- No bar. Sobretudo preto. Cabelos negros e compridos – relatou com a voz baixa, quase sussurrada. - Vê?

Corri os olhos por entre os tipos que se encontravam esperando por uma bebida no bar e então o avistei. O homem, vestido totalmente de preto, tinha cabelos negros que ultrapassavam a linha dos ombros. Seu perfil despreocupado revelava que tinha feições harmoniosas. Olhando-o assim, compartilhando o espaço com os demais frequentadores, ele poderia muito bem passar despercebido, como estava acontecendo com quem não tinha conhecimento de sua natureza, eximindo-se de qualquer suspeita do perigo que trazia consigo. A poucos metros dali, Gabriel conversava descontraidamente com um grupo, sem parecer ter se dado conta da visita, tão ilustre quanto mortal.

- É ele então?

- O próprio – Simon respondeu sem vacilar.

- E agora?

- Eu tenho que ligar para o conselho – ele disse, finalmente voltando seu olhar para mim. - É a primeira coisa a se fazer. Eu ligo e aviso que ele está aqui – informou, piscando algumas vezes, parecendo ter retomado o raciocínio e voltado a si depois do choque inicial. – Olhe... – ele disse, e pousou sua taça em uma mesinha próxima, para logo envolver meu rosto com as mãos – ...podes fazer um grande favor para mim?

- Mas é claro – respondi sem titubear, e me desfiz da minha taça, deixando-a junto a sua.

- Muito bem – Simon disse. Gentilmente, ele tomou meu cotovelo entre uma mão, me direcionando para que nos afastássemos da parede de vidro, saindo do campo de visão de quem estivesse no primeiro andar do clube. - Preste bem atenção, então – ele pediu, envolvendo meu rosto entre as mãos, sorrindo afetuosamente. Um sorriso sem nenhum sinal de alegria. – Provavelmente, o Dixon vai estar ao pé da escada. Eu preciso que você desça e diga a ele que o Drago está aqui. Fale que eu pedi para ele retirar todos os clientes do clube, humanos e vampiros, mas sem chamar a atenção. Os funcionários devem ir para os seus aposentos e não saírem de lá até que digamos que o façam. Diga isso, e ele saberá como proceder. Pode fazer isto enquanto eu ligo para o conselho?

Meia-noite SombriaWhere stories live. Discover now