Capítulo 22

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                                                                            Simon


Simon, abre a porta! – Gabriel grunhiu, mais uma vez, do corredor, golpeando a madeira de tal forma, que esta chegava a estremecer com seus golpes.

Nas horas que se antecederam, o vampiro urrou e esmurrou essa maldita porta, insistindo para que eu permitisse sua entrada no escritório. Se quisesse, ele poderia muito bem ter posto abaixo a condenada da porta, mas não o fez. Ao contrário disto, ele preferiu encher-me com sua persistência. Não queria falar com ele agora. Não queria falar com ninguém. Queria, ao menos por um tempo, permanecer aqui. Sozinho.

Sentado no sofá localizado na parede próxima a porta, fechei os olhos, levei uma mão à testa e a massageei, tentando reorganizar o raciocínio. Nos os últimos dias, ouvi e li sobre as inúmeras histórias que cercam a raça da qual descobri fazer parte, buscando me situar sobre minha condição. Descobri que meus antepassados foram assassinados por um membro desta mesma classe e que agora me encontro no meio de uma divergência de opiniões que envolvem meus superiores. Divergências, estas, que tem causado perdas a humanos e vampiros. Mesmo em meu estado de intolerância, tive que admitir que no final das contas eu tivera sorte, pois perdera apenas minhas lembranças, enquanto ambas as raças estavam perdendo suas existências nas mãos daquele maldito filho do cão.

Drago.

Seu nome não me saía da memória. Eu encontraria o bastardo e o faria pagar pelo estado desorientado em que me deixou. Sem norte e sem saber em quem podia confiar, me encontrava perdido em meio a tantos fatos e sensações. Algumas dessas sensações estavam fazendo muito mais do que me desorientar. Elas estavam me fazendo perder o foco do que eu realmente deveria fazer e voltar-me para algo de que estive fugindo, desde que dei por mim e me vi vazio.

Fugia dela. Da humana.

Um estrondo reverberou pelo recinto, quando um murro foi desferido contra a porta.

– Simon, abre logo a maldita da porta, ou eu juro que vou pô-la abaixo! – o vampiro esbravejou.

Tendo consciência de que ele não me deixaria em paz, levantei-me, em um salto, decidido a abrir a porta, não para recebê-lo, mas para libertar-me do enclausuramento a que estive submetido. Se não poderia ficar sozinho aqui, então sairia, ganharia a rua e me livraria de seus questionamentos. Ao abri-la, porém, fui arremessado violentamente para trás e senti a madeira dura da porta contra as minhas costas, quando o vampiro, menor do que eu em alguns centímetros, pressionou seu antebraço contra a minha garganta e sujeitou um dos meus bíceps com uma mão.

- O que você pensa que está fazendo?! – ele grunhiu, junto ao meu rosto, com a face distorcida pela cólera.

Sorri involuntariamente, frente à sua investida desmedida. Sentia que poderia lançá-lo do outro lado do cômodo sem precisar fazer o mínimo de esforço, mas preferi não indispor-me com o homem, mais do que já estava.

- Eu não sei do que você está falando – me limitei a dizer.

- Mas que inferno! – ele praguejou. - Eu nunca senti tanta vontade de lhe socar a cara como agora, Simon! – ele exclamou, e seus lábios se contorceram de raiva.

- Então porque você não tenta, vampiro? – o desafiei, olhando fixamente dentro de seus grandes olhos azuis.

- Gabriel! Eu já te falei que o meu nome é Gabriel! – ele cuspiu, furiosamente. Depois de um impulso, onde deliberadamente apertou um pouco mais minha garganta, ele me liberou e virou as costas, se afastando, e caminhou impaciente até o centro do ambiente. - Por que você a mandou embora? – inquiriu, arfante, voltando-se para me encarar.

Meia-noite SombriaWhere stories live. Discover now